Neste fim de semana aconteceu pela primeira vez no Autódromo de Interlagos em São Paulo, a terceira edição do Lollapalooza Brasil, agora sob o comando da T4F. O festival era cercado de expectativas, justamente pelas novidades quanto à organização e também por reunir um lineup bem equilibrado, trazendo inclusive algumas apostas que só enxergamos o mercado internacional fazer.
E neste sentido, o Lollapalooza Brasil conseguiu de cara o seu primeiro êxito e o segundo também foi alcançado de uma forma geral na estrutura do evento, como veremos a seguir. Pela primeira vez em muitos anos foi possível enxergar que andamos um passo pra frente e diminuímos a distância para os grandes festivais internacionais. Ainda somos uma Caterham, perto de Ferrari, Mercedes e Red Bull, mundo afora, mas ao menos o fim de semana termina com a sensação que o Brasil entrou na F1 dos festivais, coisa que não acontecia até o momento, a nossa vivência com grandes festivais era de segunda divisão.
Sábado no Lolla
O dia começou por volta de 14h30, momento de chegada ao autódromo, ainda esperava por um colega para entregar os ingressos que estavam comigo, nesta quase uma hora em que eu fiquei esperando pelo menos três pessoas vieram até os policiais que estavam próximo de mim, para relatar situações de roubo ou furto no entorno do festival. Próximo aos policiais tinha um sujeito fazendo um esquemão bem bolado para quem quisesse entrar em Interlagos, já que os ingressos haviam se esgotado no dia anterior. Por algo entre R$400,00 e R$450,00 ele colocava a pessoa dentro do autódromo e, se eu entendi direito, o esquema consistia em um ingresso que ele sempre recuperava combinado com alguém do lado de dentro. Por exemplo, chegou uma turma de três pessoas, uma delas queria comprar ingresso, ele deu esse ingresso para a pessoa entrar e as outras duas ficaram ali com ele, caso a pessoa confirmasse através do celular que conseguiu entrar, então as duas pessoas finalmente entravam no show separando-se do cambista, o pagamento era efetuado de forma antecipada de qualquer forma. Depois mais duas turmas entraram fazendo uso do mesmo esquema, apenas nos 50 minutos que fiquei por alí. E sempre precisava finalizar o processo de uma turma, para começar o de outra (por isso o entendimento que o cara estava trabalhando com um ingresso só).
Tudo isso acontecendo também ao lado da estação policial. O país onde nada dá certo, a desonestidade manda e em grandes aglomerações você se torna apenas uma face na multidão, com zero ou pouco valor, começava a dar sinais de sua natureza.
Infraestrutura interna
Pela primeira vez no passado recente, um festival conseguiu lidar bem em todos os momentos com o controle de filas, no caixas, bebidas, comidas e banheiros.
No sábado era muito difícil andar pelo festival, pois as passagens únicas pela pista, criavam gargalos e aglomerados. Ali foi possível ter certeza que colocaram mais gente do que a capacidade do local (e olha que a capacidade era boa, bem acima do entorno de Interlagos, que definitivamente é menor do que a infraestrutura interna, e isso deve ser levado em conta para fechar a capacidade total do local).
A estimativa da organização é que passaram 190 mil pessoas em dois dias, o que daria uma proporção de 110 e 80? Sábado tranquilamente tinha mais gente, tinha mais gente de uma forma perigosa e irresponsável, uma necessidade de uso da saída de emergência ali e seria o caos na certa. Só pra andar de um palco ao outro era caos. A única grande mudança significativa necessária para o ano que vem é diminuir o número de público total, mantenha-se o número de facilidades e o espaço interno, com um público equivalente ao de domingo a infraestrutura aguenta perfeitamente bem. O público de domingo foi na medida máxima possível para uma experiência digna e segura para todos que vão ao festival.
Infraestrutura externa
Perigosa, cheio de vielas e sem orientação, para quem não conhece o local, tem que tomar cuidado para não tomar o caminho errado. Isso não seria um problema com público menor e orientação (e que funcionou bem no domingo), mas no sábado eu tenho certeza que muita gente ficou na rua e se deu mal. Nesse sentido manter o festival no mesmo lugar e diminuir o público total seria um começo, já que as pessoas aprendem quais são os acessos e a partir disso criamos o hábito e aperfeiçoamos essa dinâmica, minimizando riscos. Não podemos sempre jogar com a sorte, a alegria e o rebolado, entre outros chavões do nosso povo.
Os shows
Nine Inch Nails, comandado por Trent Reznor e o jogo de luzes, foi o show mais selvagem do festival, você consegue sentir a angústia de estar ali, foi tudo conforme eu falei que iria ser neste texto aqui. Leia o texto de previsão e saiba como foi o show.
Disclosure, ótimo show dançante e com um setup pra lá de inteligente sobre intercâmbios de samples e instrumentação ao vivo, que em suas dinâmicas faz cada show ser único, o duo estava animado e interagindo com um bom público que resolveu trocar o Muse por eles. Tocaram o disco de hits, em poucos momentos o público ficou parado, atingindo grandes momentos de euforia em “When A Fire Starts to Burn” e “White Noise”, por exemplo.
Lorde, conquistou e encantou os seus fãs na medida, boa presença de palco e com uma boa banda de apoio, o show foi bem fiel às gravações.

Lorde se apresenta no se apresenta no primeiro dia de Lollapalooza Brasil. Foto: Gui Moraes – 505 Indie/Música Pavê
Julian Casablancas, saturado demais, parece uma banda colegial ainda brincando com as distorções.
Fechando a conta, penso que musicalmente o primeiro dia me acrescentou por finalmente assistir ao Nine Inch Nails, mas que no geral, ter saído de casa não valeu tanto a pena assim em um versus com o stress sofrido, depois eu volto com o relato do domingo, onde justamente o contrário disso aconteceu e foi fácil perceber a diferença. No sábado as pessoas saíram com um semblante mais pesado, mais quietas… domingo a alegria estava em todo aquele lugar.
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Sábado no Lollapalooza: uma segunda visão, por Carol Munhoz
Posso dizer que vivi duas experiências completamente diferentes no Lolla esse ano. No sábado o caos, no domingo a perfeição. A decisão de levar o evento para o Autódromo foi arriscada e teve seus prós e seus contras. Primeiro contra: é longe pra caramba. Fui de metrô e trem nos dois dias e levei cerca de uma hora no percurso saindo da Paulista. Não bastasse, chegando na estação uma ladeira nada amigável me aguardava. Já cheguei morta de cansaço no festival. Tô velha e sem preparo físico. Mas tudo bem, pelo menos o transporte público funcionou super bem. Tava lotado, mas até eu que não sou de São Paulo já peguei piores. Ouvi algumas reclamações sobre o fechamento da estação no sábado antes de todo mundo embarcar, então combinar com a prefeitura um fechamento um pouco mais tarde das linhas ajudaria muito. As pessoas não precisariam ir embora todas no mesmo horário.
Cheguei um pouco tarde no sábado e fui direto pro palco Onix ver o finalzinho do Cage The Elephant. O palco, apesar de ser mais o longe, foi o meu preferido dos três que consegui conferir. A elevação do palco fez com que mesmo as pessoas que estavam no fundo conseguissem um boa visão do palco. Como vi só o final não posso falar muito sobre o show, mas a galera parecia estar se divertindo bastante e ouvir todo mundo cantando junto na hora de “Come a Little Closer” foi bonito de ver.
Saí de lá correndo pra ver o Julian no palco Skol. Tudo que falaram sobre o show dele é verdade: é uma merda. As músicas solos, salvo raríssimas exceções são ruins demais. Tá certo que ele nunca foi lá um grande frontman, mas pelo menos com os Strokes tem hits pra gente cantar junto. Teve “Take It or Leave It” pro fim do show e aí foi legal, lembrei que aquele cara na frente foi um dos meus ídolos. O triste foi ver o que ele virou. Ainda na correria fui ver o Imagine Dragons e pela primeira vez no dia vi um palco bombando de gente. Os caras estão na moda, cheios de musicas nas rádios, então a superlotação se explica. Fui super descrente pq não curto muito o som dos caras, mas me surpreendi positivamente. Dan Reynolds tem uma empolgação no palco e as musicas funcionam bem melhor ao vivo. Podem ter certeza que grande parte da muvuca no sábado foi causada por eles. Não subestimem o poder radiofônico de uma banda. Perdi o final do show e “Radioactive” pra pegar um lugar legal no show do Phoenix. Aliás, aqui vale dizer que perdi vários começos e vários fins de shows tentando ver tudo. Não recomendo. Festival é feito de escolhas. Escolha alguns shows e seja feliz neles.
Falando em escolhas, entre Phoenix e Lorde fiquei com os primeiros. Ouvi muitos elogios ao show da neozelandesa mas não me arrependi não. O palco estava abarrotado de gente e show deles é aquela coisa: legal quando tocam wolfgang amadeus e as antigas, chato quando tocam Bankrupt (com exceção de “Entertaiment”). Eles começam super bem mandando Entertainment, Lasso e Lisztomania em seqüência, mas não conseguem manter o ritmo. Além disso, os minutos de enrolação dedicados a “Love Like a Sunset” quebram completamente o ritmo do show. Não sei porque insistem nessa música ao vivo. Mas, mesmo com todos esses problemas, foi a primeira vez que vi a banda ao vivo e cantar alto músicas que eu amo como Rome e Too Young fizeram valer a pena. No final teve o tradicional mosh do Thomas Mars no público e ali ele ganhou de vez a galera.
Saindo do Phoenix tive a infeliz de ideia de ir comer. E aí começou o caos. Acredito que os organizadores não esperavam que tanto o show da Lorde quanto do Phoenix fossem tão concorridos. O dois acabaram na mesma hora e o acesso de um palco ao outro estava impossível. Fiquei uns 20 minutos presa na multidão, vi gente escalando morro e grudando na grade pra atravessar, faltou pouco pra uma confusão maior. Além disso, o Chef Stage não entrava mais ninguém e todas as barraquinhas de comida no caminho pro palco Interlagos foram proibidas pelos bombeiros de servir comida porque, segundo eles, tinha dado problemas no show da Lorde. E aqui, infelizmente, vem mais critica. A impressão que me deu nessa hora foi de que venderam muito mais ingressos do que deviam. O acesso aos palcos já era longe e difícil sem muvuca, com ela, ficava praticamente impossível. Passada a turbulência consegui achar a menor esfiha do mundo por 6 reais, mas aí já tinha broxado. Cheguei desanimada e cansada no Disclosure, ouvi três músicas e, com medo da multidão saindo do show do Muse fui embora.
O saldo do sábado pra mim não foi tão legal, vi só um show inteiro, passei fome, muito cansaço e aperto. Pro ano que vem, se quiserem manter esse número de pessoas precisam melhorar urgente o acesso aos palcos. Você não consegue chegar de um show ao outro em 5 minutos (tempo médio de intervalo entre eles). Palcos um pouquinho mais perto um dos outros tbm não fariam mal a ninguém. Pontos positivos: cerveja geladíssima e line up legal.
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