Não é o tipo de coisa que fazemos por aqui, mas o texto foi tão bom de ler que o imperativo foi de traduzi-lo na íntegra e disponibilizá-lo para que mais pessoas lessem. No caso Gruff Rhys (conhecido pela Super Furry Animals) escreveu um texto sobre sua nova música “I Love EU“, que na verdade só é um pano de fundo para o seu posicionamento político contra o referendo que o Reino Unido vota no próximo mês: se continua ou pula fora da União Europeia.
Por aqui, no Brasil, convivemos atualmente com esta enorme polarização e intensidade política, onde o resultado prático resume-se entre dois caminhos, ao menos dentro do cenário mais provável. Lá, não é tão diferente, pelo menos na questão ideológica, que no final é o que move montanhas dos dois lados, o resto do tempo a maioria só procura argumentos e razões lógicas que validem a própria natureza e simpatia (na verdade antipatia) ideológica.
Os partidos de esquerda como social democratas, trabalhadores e liberal democratas (o último de centro à centro-esquerda e ideologia de liberalismo social) preferem a manutenção, já o lado da direita, como o partido da independência é a favor da separação. O partido conservador de David Cameron, de centro-direita, oficialmente posiciona-se neutro, mas tende à separação.
No texto ele cita até a autobiografia de Caetano, para tentar explicar o seu sentimento, e claro, o seu lado, que está afinado com a classe artística, no caso, o de manutenção.
Como nem tudo é apenas 0 e 1 na vida política de humanos, e sim uma sequência de vários 0s e 1s, a questão precisa ser analisada individualmente, no caso deste referendo os insignificantes partidos de extremos, seja de um lado ou de outro, votam, por motivos diferentes, é claro, pela separação.
Ahhh e a música é boa também.
POR GRUFF RHYS PARA O THE GUARDIAN
“Minha nova canção realmente veio para mim em um sonho, enquanto eu estava tentando entrar em sintonia com meu rádio digital com defeito. Eu ouvi um trecho de notícia sobre este referendo inoportuno* [referendo sobre a manutenção do Reino Unido na União Européia] em ficar ou sair da UE e de repente me dei conta o quanto perderia, se o Reino Unido, fiel à sua tradição de vandalismo recreativo, conseguisse inexplicavelmente cair fora deste sofisticado nightclub europeu.
O clube em si? Bem, é um labirinto muito complexo de uma casa noturna com muitos ambientes tocando músicas muito diferentes. As pessoas raramente dançam a mesma música, mas é a melhor balada. Esta canção é basicamente apenas uma tentativa de fazer um discurso emocional para a mãe Europa – este deteriorado, fantástico, megaclub potencialmente utópico que eu tive a sorte de crescer.
Minha ideia inicial era gravar uma canção secreta que poderia ser tocada para xenófobos como uma canção de amor regular. Eu não tinha ideia de que escreveria esta música em particular naquele dia, mas de alguma forma ou de outra é assim que as coisas acontecem, então eu mantive assim. No final, eu não queria ficar em cima do muro, então eu chamei de “I Love EU”. [Eu Amo A U.E.]
Esta canção não é sobre detalhes de um plano político definitivo, mas sobre a amizade genuína que eu senti como um músico em turnê que vive na UE – que, como um filho da década de 1970, é tudo o que eu já conheci.
Em sua autobiografia, Verdade Tropical, o cantor brasileiro Caetano Veloso escreveu sobre sua crença continua na ilusão do Brasil como um farol tropical de inclusão, mesmo quando ele próprio havia sido detido em regime de isolamento e depois exilado por seu governo militar, pelo fato de cantar canções psicodélicas subversivas com batidas pop Yoruba, em calças de plástico verde.
Igualmente pode ser útil, apesar da ameaça real de uma aquisição corporativa antidemocrática, continuar imaginando o universo paralelo da Europa dos nossos sonhos mais selvagens e idealistas.
Este labirinto muito complexo de casa noturna ainda está em construção e há alguns problemas estruturais muito graves e algumas caixas de som estouraram, mas Conny Plank e Marlene Dietrich estão resolvendo isso, enquanto nós falamos. O segurança está tentando manter as pessoas do lado de fora, mas há um salão enorme que pode abrigar muitas dessas pessoas na fila. Este fim de semana têm o Euro Classics Weekender para adornar as pistas de dança. Daft Punk, Kraftwerk, Giorgio Moroder e Black Box estão todos tocando. Abba, Brigitte Fontaine e Can tocarão amanhã. Sade, Stereolab, New Order e Technotronic tocam domingo à tarde, enquanto Andy Votel e Mina Minerva estão preparando uma temporada de electro Báltico para o próximo mês. Picasso está no visual. Ibiza é a seção ao ar livre, onde os fumantes e vapers parecem se confraternizar.
Ninguém no seu perfeito juízo quer sair, mas como qualquer paraíso existem lados opostos.
O gerente da casa está tentando cobrar as pessoas por beber a água da torneira – mas é concebível que os associados organizem uma aquisição e voltem a compartilhar. Parece valer a pena no longo prazo – quando havia um monte de clubes separados na cidade, costumava haver um monte de brigas na hora de fechar, e agora nós podemos compartilhar os custos de segurança na porta e o fornecedor de cerveja.
Ouça, não me interpretem mal – Eu consigo ver que há muito para se mudar sobre a falta de transparência e democracia no nightclub elitista da UE. Há salas VIP idiotas, onde nossos representantes eleitos não podem entrar. Eu tenho tempo para muitos dos argumentos sobre deixar a forma atual da UE por este motivo, mas meu palpite pessoal é que no meio da atual colossal crise de imigração, a campanha de sair da UE, fornece uma plataforma de ódio para aqueles que carregam o fardo de nostalgia para a guerra e o império. Enquanto há liderança no processo contra o Comércio e Investimento de parceria transatlântica e organizações promissoras como dIEM25 (que estão em campanha por uma Europa democrática em 2025), parece-me que vale a pena perseguir com este plano pós-guerra ambicioso, para livrar o continente da guerra e fascismo.
Como um escritor de rimas bobas, essa música é a minha escassa contribuição. Eu amo meus filhos para continuar a experimentar a diversidade total da Europa. O problema em qualquer era de ouro é o de reconhecer-se. O tempo normalmente resolve este truque. Infelizmente, só temos até 23 de Junho. Eu amo a UE.”
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