Paul McCartney não é deste planeta

Show do Paul McCartney no Allianz Parque – São Paulo/SP – 26/11/2014 – Créditos: Marcos Hermes Fotografia/Divulgação Midiorama

Fugindo dos clichês de um show do Paul McCartney, decidi tentar explicar porquê esse senhor de 72 anos não pode ser deste planeta em um único texto, mas ao começar a escrever percebi que essa poderia ser uma tarefa bem mais difícil que imaginava. A primeira constatação disso veio a mim em sua volta ao Brasil após 17 anos , bem no fim de 2010. Lá estava eu sozinho, num domingo um pouco chuvoso, em pleno estádio do Morumbi esperando sua nave desembarcar e o início de namoro entre Paul e o Brasil finalmente começar, logo nos primeiros minutos de show. Paul ainda viria para o Brasil em mais duas oportunidades nos anos seguintes, em diversas cidades brasileiras. Ontem, 26/11/2014, estava marcado o nosso reencontro depois de exatos 4 anos. O sentimento era como rever um velho amigo, responsável por embalar tantas gerações mundo a fora e também a minha. Na cabeça se passa diversos filmes de tudo aquilo que iria presenciar de novo e como iria reagir quando avistasse o ‘Tio Macca’ no palco e aparecesse sua imagem no telão acenando à todos, como de costume. Era isso. Definitivamente era isso, Paul McCartney não é deste planeta.

Digo isso pois é inegável a importância de toda a sua obra, seja com os Beatles e Wings ou a consistente carreira solo. Aquele sujeito é responsável por pisar em um local aguardado por mais de 50 mil pessoas e conseguir mudar completamente a feição de cada uma delas entre idosos, adultos, jovens, crianças… famílias por completo. É como alimentar a alma ver alguém com toda aquela disposição fazendo um show de quase 3 horas de duração, com pouquíssimas pausas entre as músicas. Sim, ele não precisa mais de dinheiro, nem lançar mais nenhum trabalho novo (por mais que o faça) e muito menos provar algo a ninguém. Poderia estar em sua casa desfrutando do carinho de seus filhos, mas não. O seu papel na Terra foi cumprido há muito tempo e ele faz questão que todos possam ter a oportunidade de apreciar aquele momento e que cada um ali dos presentes pegue uma canção triste e torne-a melhor.

Não é porquê tenta se comunicar em português com o seu público por aqui que torna o show mais especial; ele já se torna diferente de qualquer maneira, em cada gesto reproduzido por ele no palco e também fora dele. O termo “gente como a gente” dá para ser usado em diversas situações quando se vê Paul McCartney andando de bicicleta num parque em Brasília, dias antes do show por lá. Simples, assim como os acordes das canções vindo dos meninos de Liverpool. Ainda a história do último show da sua turnê ‘Out There’ (que também começou por aqui) foi marcada pela comovente saga do menino da pulseira . Não Paul, não precisava agradecer e aplaudir a nossa presença na noite de ontem no Allianz Parque. Somos nós, os privilegiados, que temos que fazer isso toda hora que pudermos, pois as lembranças e alegria absoluta toma conta de nosso estado de espírito de uma forma instantânea e inexplicável a cada música tocado por Sir.

Porém, foi assim que voltando para casa de mais um show do Paul McCartney na vida que por fim caí na real, pela segunda vez. No caminho, escutava comentários ao meu redor de muitas pessoas maravilhadas com o que acabaram de testemunhar poucos minutos atrás, ainda não acreditando e visivelmente emocionadas. Talvez foi nesta hora que percebi novamente a grandeza daquele momento vivido nesta quarta-feira e aprendi uma lição dada por ele no fim da apresentação, que diz a respeito do amor que você recebe é igual ao que você faz. A capacidade de transmitir boas energias não é pra qualquer um e isso ficou ainda mais claro nesta noite. Sir Paul Mccartney, obrigado por mais esta memorável noite em nossas vidas. Mas, ainda acho que você não é deste planeta.

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