
Johnny Marr se apresenta no palco Interlagos, no domingo de Lollapalooza Brasil. Foto: Gui Moraes – 505 Indie/Música Pavê
Todo o sofrimento do sábado foi recompensado no domingo e da melhor forma possível: com música boa. Os shows de domingo foram muito superiores e a quantidade consideravelmente reduzida de pessoas fez com que fosse possível curtir (quase) tudo com muita tranquilidade.
Parecia um festival completamente diferente. Tudo fluía, filas pra comer razoáveis, acesso fácil aos palcos, tava tudo perfeito. Só consegui conhecer o Chef Stage no domingo e aqui cabem vários elogios. A iniciativa é muito legal e a comida tava muito boa. Comi uns 5 pratos diferentes durante o dia (sim, a fome bateu) todos estavam muito bons e preparados muito rapidamente.

Ellie Goulding se apresenta no palco Interlagos, no domingo de Lollapalooza Brasil. Foto: Gui Moraes – 505 Indie/Música Pavê
Infelizmente não consegui chegar a tempo de ver o Johnny Marr, mas quem foi falou que foi bonito de ver. Como cheguei tarde parei no palco Skol pra ver a Ellie Goulding. Ela é esforçada, chegou com a camiseta do Brasil, mas falta alguma coisa. As músicas são legaizinhas, mas achei que não funcionaram tão bem em um palco tão grande. Talvez em uma tenda menor, com os fãs mais próximos, o show ficasse melhor. Não conseguiu prender minha atenção e antes do fim lá fui eu pro Vampire Weekend.

Vampire Weekend se apresenta no palco Interlagos, no domingo de Lollapalooza Brasil. Foto: Gui Moraes – 505 Indie/Música Pavê
Como eu falei, o palco Ônix foi o meu preferido. E o show do Vampire Weekend só veio pra confirmar isso. Fui pro lado oposto ao que o pessoal estava se aglomerando e consegui um lugar muito legal. Deu pra ver tudo de perto, sem aperto. E o show deles é uma delícia. Recheado de hits, com Ezra colocando todo mundo pra dançar e se esforçando pra agradar falando várias vezes em português. Foi o show perfeito pra assistir com o sol trincando na cabeça e a cerveja gelada na mão. A galera da frente fez uma homenagem na hora de “Ya Hey” e deu pra ver que a banda ficou felizona.

Jake Bugg se apresenta no palco Interlagos, no domingo de Lollapalooza Brasil. Foto: Gui Moraes – Música Pavê/505 Indie
O próximo da lista foi o menino prodígio Jake Bugg. Também consegui um bom lugar em meio às adolescentes fanáticas que sabiam todas as letras de cor e cantavam como se não houvesse amanhã. O show é aquele típico de artista tímido que tá ali pra cantar e não agradar. Falta uma injeção de carisma, mas acredito que por ser muito novo ele vai aprender isso com o tempo e com a estrada. O mais importante, que é a música, tá lá. Ele é muito talentoso e as canções são ótimas. Claramente inspirado pelo folk dos anos 60 e 70, Jake Bugg ainda assim consegue soar atual e sua emoção ao cantar parece genuína. Confesso que arrepiei com ele sozinho no palco mandando a belíssima “Broken”. Sozinho, sem banda, sem nada e foi o momento mais bonito do show. Esse vai longe.
E aí veio o Arcade Fire. Ah, o Arcade Fire. Todos os superlativos proferidos por aí são absolutamente verdadeiros. A banda é um furacão no palco. Por mais que você não seja fã, não goste das músicas (o que não é o meu caso, que fique bem claro), é impossível um show desse passar despercebido. Eles dominam o palco e o público e a impressão que fica é que, como disse o Flavio no aquecimento, mais do que um show é uma experiência artística. O mais legal é ver uma banda que realmente quer estar ali. Desde Regine cantando lindamente em portugês até Win Butler falando sobre a palavra saudade, tudo conspira pra que seja um show inesquecível. E aqui a plateia também tem grande contribuição pro sucesso do show. Todo mundo sabia todas as músicas e todo mundo tava muito feliz de estar ali. Eu vi gente fazendo roda de criança em “Ready to Start“, eu vi gente chorando, eu me emocionei em “Tunnels”, eu gritei e chorei em “Wake Up“. Foi tudo muito bonito. E olha que eu não gosto do álbum Reflektor, mas até as músicas que pareciam chatas deram certo. Tenho certeza que esse show vai ficar na minha memória por muito tempo e na memória de cada pessoa que tava ali e compartilhou aquele momento.
E foi isso, o saldo do domingo foi muito positivo e em minha opinião tudo devido ao menor número de pessoas presentes. Tomara que a produção leve isso em conta ano que vem e aprenda com os erros desse ano. É muito bom pode ter visto shows tão legais em solo brasileiro e nesse aspecto a T4F acertou e acertou bonito. Vida longa ao Novo Lolla.
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Domingo no Lollapalooza: um complemento sobre Johnny Marr e Pixies, por Flavio Testa
O sol escaldava a pele dos presentes, daqueles que chegaram cedo por um único motivo. Um dos maiores guitarristas da história do rock se apresentaria ao vivo, pela primeira vez no Brasil, em seu recém projeto solo. Johnny fuckin Marr, uma lenda que habitava o imaginário daquela moçada que nitidamente não era mais tão moçada assim, rapaziada de preto, na faixa dos seus 30 e poucos anos, a turma que leva a música a sério, a turma que a música já passou por diversas fases da vida (colégio, namoro, faculdade, trabalho, serão no trabalho, nome no SERASA se não pagar a conta nos próximos 5 dias, casamento, filhos, colégio), mas sempre manteve a música em um lugar importante da vida, o rock é e sempre vai ser uma cultura de juventude e para estas pessoas a juventude não se mede a idade, tampouco foi perdida, enquanto estiverem respirando música.
O eterno guitarrista dos Smiths intercalou músicas do seu bom álbum solo de estreia, The Messenger, lançado apenas no ano passado, sim Marr demorou 26 anos para lançar um LP solo, com clássicos absolutos do The Smiths e até “Getting Away With It”, do Electronic, projeto que o guitarrista teve com Bernard Sumner do New Order, a quem dedicou a canção dizendo: “Essa canção é dedicada ao New Order”. O único cover, verdadeiramente cover do set, ou seja, aquela onde Marr nunca esteve envolvido, foi do clássico “I Fought the Law” do The Crickets e popularizada na década de 60 pelo Bobby Fuller Four e no fim dos anos 70 também regravada pelo The Clash.
Johnny Marr estava visivelmente satisfeito com o bom público em seu show naquele sol escaldante, inclusive reconheceu esse fato, dizendo estar agradecido pelas pessoas estarem ali presentes expostas ao sol e ao calor, apenas para assistir sua apresentação, ele disse: “este show é para vocês, para vocês aí no fundo e para mais ninguém!”.
Os clássicos dos Smiths foram o momento de maior emoção, com dois destaques, no momento que Marr chamou Andy Rourke, o baixista dos Smiths, ao palco para tocar “How Soon Is Now?”, 50% da banda ali no palco e a plateia entendia perfeitamente a importância e relevância daquilo que estava acontecendo diante de seus olhos.
O segundo grande momento (e o maior momento de todo o festival) foi o coro de encerramento “There Is a Light That Never Goes Out”, do jeito que um grande show de rock deve terminar. Marr entregou o coração neste show e levou com uma competência absurda, fidelidade as músicas eternizadas em outra formação e sem a sua voz. Moz é coração, Marr é cérebro/engrenagem, muitas das maiores bandas da história do rock tiveram essa constante em sua formação (Cazuza-Frejat, Mercury-May, Ozzy-Iommi, Lennon-Paul e por aí nós vamos), quando separados conseguem ainda ser absurdamente competentes. Foi o que aconteceu.

Pixies se apresentam no palco Interlagos, no domingo de Lollapalooza Brasil. Foto: Gui Moraes – Música Pavê/505 Indie
E brevemente comentando o show do Pixies, posso dizer que foi o show mais lotado do dia de domingo, já que o Arcade Fire perdeu uma parcela significativa de público para o New Order, que tocaria no mesmo horário no palco Interlagos.
É de causar estranheza que ainda hoje seja comentado o fato do Pixies não interagir com o seu público como um aspecto negativo do show. Essa é a marca da banda, sempre foi e sempre será. Não, Frank Black não estava de saco cheio e cansado por tocar novamente (quer dizer cansado talvez dada a forma física do homem), mas definitivamente ele não estava alheio com aquele mundaréu de gente presente ao seu show. É a forma como o Pixies se vende para o mundo, a baixista anterior, Kim Shattuck ganhou as contas e teve vida curta na banda justamente por isso, por se expressar demais. Em um show ela teve que ouvir do manager para nunca mais pular na plateia, e ao questioná-lo porque ela não deveria fazer isso, apenas obteve a resposta: “Os Pixies não fazem isso”. Assim como o Nine Inch Nails eu previ com exatidão o que seria o show e você pode ler aqui. Com a única peça que interagia minimamente com a plateia fora da banda, o show do Pixies seria simplemente uma atrás da outra, seguindo o modus operandis de introversão sempre confundindo aqueles que não conhecem bem a banda, deixando-os com a sensação de descaso.
As músicas novas funcionaram bem, principalmente “Bagboy“, que já é um clássico da banda, pode ter certeza. É lugar comum dizer sobre o quanto a banda é fiel as gravações no modo ao vivo, sendo assim, os únicos aspectos negativos ficaram por conta do setlist. Nenhuma música do Bossanova foi tocada, que é um disco pra lá de interessante, tirou a banda da crueza, sem perder a marca, tinha um tema ótimo nas letras e uma sonoridade de arrepiar em algumas faixas. Outro ponto negativo é deixar “Debaser” do Doolittle fora do setlist, em um set com 23 músicas, “Debaser” é garantida, ou deveria ser. Mas isso são pormenores e o show foi competente, foi o terceiro melhor show do dia, atrás apenas do carnaval cheio de recursos visuais e grandeza sonora feito pelo Arcade Fire e a capacidade de surpeender e emocionar de Johnny Marr.
Já as Savages fizeram um show retumbante, sombrio, a mistura do chic com o punk, mais chic do que punk. Mas que por vezes soou cansativo, estou me tornando repetitivo, mas exatamente da forma que eu falei que iria ser.
E pra não dizer que não falei das flores, entrou areia no meu olho na hora que Win Butler disse cheio de sotaque, que a próxima música era sobre “saudaaades” e o Arcade Fire tocou “The Suburbs“. Saudades.
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