Memórias em chamas: Uma crônica sobre o Cine Teatro Ouro Verde

Foto: Ber Sardi

Um filme.

Era isso que passava pela minha cabeça ontem, enquanto o Cine Teatro Ouro Verde, em Londrina, era engolido pelo fogo. Passei as fases mais maravilhosas da minha vida naquele teatro. Primeiro com o coral da Uel, depois com a Cia. Michel Cássin de Dança Flamenca, sentindo o cheiro específico que o teatro tinha, deitando no meio do corredor que dividia as poltronas em frente ao palco, ficando em silêncio em cima do palco pra escutar a rádio que ninguém sabia explicar como “pegava” lá dentro, reverberando pelas coxias, ficar sozinha no palco, sentada na beirada com as pernas balançando, imaginando a reação do público enquanto estivesse dançando, já que por conta da iluminação, não conseguimos definir rostos na platéia. Lembrei de como o camarim se transformava em casa, terapia, karaokê, refeitório, spa, fortaleza e mais outras mil coisas por um final de semana. De procurar os sofás do saguão pra ver o movimento do calçadão, correr dos seguranças e eles nos dizendo que não podíamos tocar os pianos,de todos os festivais de música, de todos os festivais de dança, de todos os festivais de cinema, de todas as peças, de todos os concertos, de todos os shows, filmes, de roubar o colo da Madalena que me emocionou hoje, dizendo que a casa dos sonhos dela tinha sido destruída. A dela, a minha, a de todos os londrinenses. Hoje, o que passa na minha cabeça é a dúvida de quanto tempo vai demorar pro Ouro Verde estar em pé, de ter a casa cheia, gente sentada no chão, na primeira vez da Osuel depois da reforma, de quantos Filos teremos sem “Pai”, de ter nosso teatro de volta. Respira e descansa, Ouro Verde. Logo mais teremos um compromisso.