Globo de Ouro 2016: palpites e previsões

Para fazermos a previsão dos vencedores é necessário contextualizar quem vota, então vamos lá.

A HFPA (Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood) é um grupo de aproximadamente 90 associados que decidem todo ano os vencedores do Golden Globe. Trata-se de um grupo heterogêneo, com alguns jornalistas lidos e muitos freelancers que escreveram em publicações tão obscuras que até o Google sofre para encontrá-las. Em um esquema de entrada com ares de sociedade secreta, onde um novo candidato só é aceito através de indicações de outros membros.

Uma associação que sofre descrédito há mais de 50 anos. Conhecida como The Golden Bribes (Os subornos dourados) pelos insiders.

Histórico de manchas

O primeiro caso notório aconteceu em 1968, quando a FCC (Federal Communications Commission), declarou que o procedimento de votação do Globe era “altamente irregular”, censurando oficialmente a NBC de transmitir o evento.

Depois, em 1981, teve o caso do milionário que levou os membros da HFPA em voo privado para ver o filme de sua mulher, Pia Zadora, vedete e aspirante a atriz, em Vegas. A atriz ganhou o prêmio de “nova estrela do ano” naquela temporada.

Conforme reportado por diversos veículos estrangeiros, o escândalo mais recente se encerrou em 2013, no acordo judicial com Michael Russell, publicista da organização por 17 anos. Os detalhes do acordo não foram revelados, mas Russell processava a HFPA por quebra de contrato e fraude. Ele alegava que havia sido demitido por tentar combater a corrupção sistematizada dos seus ex-empregadores, que recebiam presentinhos e até dinheiro dos estúdios de cinema em troca de indicações: “os membros da HFPA abusam de suas posições ao se envolver em negócios e arranjos, que ascendem a um esquema de ‘jabá’, antiéticos e potencialmente ilegais”, constava no processo.

Vira e mexe alguém na indústria vem e desce a lenha na HFPA. Coisas pesadas, como Gary Oldman disse à Playboy em 2014:

“[O Globo de Ouro é] um evento sem sentido. A Hollywood Foreign Press Association é uma piada de que algo está acontecendo. Eles são ridículos pra caralho. Não há nada acontecendo. São 90 zés-ninguém tendo a semana deles. Todo mundo ficando bêbado, e todo mundo puxando o saco. Boicote essa porra.”

Outra piada recorrente é o fato de serem jornalistas fanboys, que estão mais preocupados com a selfie e com o poster assinado do que com a entrevista. E o acesso facilitado com as estrelas, em detrimento de outros jornalistas com maior audiência.

Por que apesar da mancha na credibilidade a premiação ainda existe com tanta força?

Pense você como executivo de um grande estúdio. O Globo de Ouro gera ótima audiência, ou seja, promove muito bem toda a indústria, em um fim de semana que dificilmente outro evento se consolidaria em tão curto espaço de tempo. É divertido, mais leve que o Oscar e tem nos últimos anos feito um esforço maior em limpar sua imagem e deixar os abacaxis fora da indicação.

Agora pense como um hot shot da indústria lá do final da década de 50 e começo de 60. É melhor fortalecer um grupo de jornalistas selvagens e críticos sisudos, normalmente com pouca ou nenhuma habilidade social. OU. Fortalecer um grupo de jornalistas estrangeiros, com pouco espaço dentro de Hollywood, com um perfil mais afável e desesperado por reconhecimento?

Do ponto de vista da indústria, parece uma decisão acertada validar um grupo mais facilmente influenciado por mimos, glamour e badalação. A variável de risco estaria melhor mitigada. E assim o Globe foi institucionalizado como o último quilômetro na estrada para o Oscar, o destino final e grande prêmio que todos perseguem. Quanto mais domesticada e previsível for a estrada, melhor é.

E pra finalizar a equação de voto, é importante lembrar que…

O Globe quando acerta uma previsão sobre o Oscar, é porque tem força e influência, capaz de antever. E quando erra, a culpa é da Academia, conservadora demais, incapaz de enxergar vanguarda e pontos de ruptura. Ao menos, esse é o discurso.

Então vamos lá, só selecionamos categorias onde 100% dos concorrentes foram assistidos.

MELHOR FILME DRAMA

CAROL

MAD MAX

THE REVENANT

ROOM

SPOTLIGHT

Quem vai ganhar?

Spotlight. A única convicção deste ano é de que Spotlight está um passo na frente dos outros, e de fato é o melhor filme. Dentro de uma associação de jornalistas, não se espera outra coisa do filme que retrata tão bem as entranhas do jornalismo, no caso que o The Boston Globe trouxe luz à toda estrutura suja e sistematizada de pedofilia na igreja católica.

Nossas preferências em ordem

Spotlight
Mad Max
Revenant (O Regresso)
Room (O Quarto de Jack)
Carol

Não Poderia ter Excluído

Sicario, The Danish Girl, Straight Outta Compton e Brooklyn. Eu não entendo como Carol pode ter ficado no lugar de The Danish Girl. A comparação existe pois os elementos em comum são gritantes. Filme de época, tratando assuntos delicados. A diferença é que a Garota Dinamarquesa é muito mais emocionante, a química de Eddie Redmayne e Alicia Vikander é muito, mas muito mais visceral do que Rooney Mara e Cate Blanchett. Até mesmo Brooklyn, antes de Carol. Room e Revenant são escolhas mais difíceis de tirar, mas Sicario também vem antes.

Melhor Atriz – Drama
Brie Larson – O Quarto de Jack
Cate Blanchett – Carol
Rooney Mara – Carol
Saoirse Ronan – Brooklyn
Alicia Vikander – A Garota Dinamarquesa

Quem vai ganhar?

Saoirse Ronan. Essa é a categoria onde todas as indicadas fizeram por merecer. Mas Mara e Vikander tem menos chances, por conta do imbróglio dos estúdio sugerirem elas como coadjuvantes, o que não são. E ponto para o Globe por também entender assim. Cate já é uma atriz premiada, inclusive pela Academia. A tendência é que dentro de uma competição tão igual, o Globo de Outro privilegie o ineditismo, entre Brie Larson e Saoirse Ronan.

Nossas preferências em ordem

Saoirse Ronan
Alicia Vikander
Brie Larson
Rooney Mara
Cate Blanchett

Não Poderia ter Excluído

Nada, a seleção ficou ótima.

Melhor Ator – Drama
Bryan Cranston – Trumbo
Leonardo DiCaprio – O Regresso
Michael Fassbender – Steve Jobs
Eddie Redmayne – A Garota Dinamarquesa
Will Smith – Um Homem Entre Gigantes

Quem vai ganhar?

Leonardo DiCaprio. Este é o ano que dificilmente, apesar do ódio pela pessoa, vão negar um Oscar ao DiCaprio. E o Golden Globes não vai querer perder o bonde. Justamente no ano que ele menos merece. Trata-se de um personagem construído para uma estatueta. Eu imagino meia dúzia de outros atores que fariam igual ou melhor o papel, também iriam ao extremo na entrega (ponto alto de DiCaprio) e ainda seriam mais durões (ponto fraco). Eu não consigo imaginar Matthew McConaughey fazendo menos neste papel, por exemplo. Ou até mesmo em uma inversão com Tom Hardy. Os melhores papéis de DiCaprio é quando ele faz o inconsequente esnobe, e não o tipo durão. Porque não é. Mas não configura uma injustiça se de fato a consagração acontecer, pois é o papel mais forte desta lista, junto com o papel de Eddie Redmayne. A diferença é que Redmayne possui e entrega com maior fidelidade.

Nossas preferências em ordem

Eddie Redmayne
Leo DiCaprio
Bryan Cranston
Michael Fassbender
Will Smith

Não Poderia ter Excluído

Benicio Del Toro (Sicario), Michael Keaton (Spotlight), Michael Caine (Youth) e Jason Mitchell (Straight Outta Compton).Will Smith por Concussion é a maior surpresa.

Melhor Filme de Comédia ou Musical
A Grande Aposta
Joy
Perdido em Marte
A Espiã Que Sabia de Menos
Descompensada

Quem vai ganhar?

A Grande Aposta. Apesar de The Martian, é justo.

Nossas preferências em ordem

The Martian
A Grande Aposta
Joy
Spy
Descompensada

Não Poderia ter Excluído

Esta categoria deveria ser apenas descontinuada desta premiação, feita para agradar todo mundo.

Melhor Diretor
Todd Haynes – Carol
Alejandro González Iñárritu – O Regresso
Tom McCarthy – Spotlight
George Miller – Mad Max: Estrada da Fúria
Ridley Scott – Perdido em Marte

Quem vai ganhar?

George Miller. Miller conseguiu trazer Mad Max para 2015, o filme de um futuro pós-apocalíptico versa sobre temas como o feminismo, soube equilibrar arte com blockbuster. Vale também pelo reconhecimento e por toda obra Mad Max.

Nossas preferências em ordem

George Miller – Mad Max
Tom McCarthy – Spotlight
Ridley Scott – Perdido em Marte
Alejandro González Iñárritu – Revenant
Todd Haynes – Carol.

Não Poderia ter Excluído

Denis Villeneuve (Sicario) e JJ Abrams.

Melhor Roteiro

Emma Donague – O Quarto de Jack
Tom McCarthy – Spotlight
Adam McKay – A Grande Aposta
Aaron Sorkin – Steve Jobs
Quentin Tarantino – Os Oito Odiados

Quem vai ganhar?

Spotlight. A força de Spotlight está no roteiro, em uma trama bem amarrada, o ritmo tem ares de documentário, em nenhum momento o filme perde o passo e fica desinteressante, sem muito draminha paralelo, o retrato do ambiente de seus personagens é bem ajustado para que a história se desenvolva. Os depoimentos das vítimas, e o fechamento são impecáveis. Tom McCarthy poderia levar de diretor também. Então é justo que se reconheça, de alguma forma, individualmente.

Nossas preferências em ordem

Tom McCarthy – Spotlight
Tarantino
Emma Donague – Room
Adam McKay – A grande Aposta
Aaron Sorkin – Steve Jobs

Não Poderia ter Excluído

Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley (Divertida Mente), Alex Garland (Ex Machina).

Melhor Atriz Coadjuvante
Jane Fonda – Youth
Jennifer Jason Leigh – Os Oito Odiados
Helen Mirren – Trumbo
Alicia Vikander – Ex Machina
Kate Winslet – Steve Jobs

Quem vai ganhar?

Alicia Vikander. Indicada para melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, é justo que fique com esta talentosa jovem atriz, que humanizou o robô e robotizou o humano em seu na ficção científica quase real, Ex Machina.

Para ver os indicados em todas as categorias, clique aqui.

Ainda fica nossa torcida por Narcos e Wagner Moura, Mr. Robot é uma série que vale a pena também. E apesar de não ter visto todos os filmes que concorrem na categoria de melhor ator coadjuvante, fico com Stallone que aplicou um nocaute de interpretação em Creed. Fargo e Divertida Mente completam outras torcidas.

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