A tímida volta do Sónar em São Paulo finalmente ocorreu depois de 3 anos de espera, agora num formato mais compacto – ainda totalmente indoor, porém com palco único e somente para 6.500 presentes no Espaço das Américas. De cunho quase sempre eletrônico, dessa vez não foi diferente: os principais nomes da noite ficaram por conta do duo britânico The Chemical Brothers e da banda Hot Chip– o que é muito pouco para o que se espera de um evento desse nível.
A noite começou com a dj chilena Valesuchi abrindo os trabalhos para um público que estava totalmente disperso e não “animado” o suficiente, seguiu assim também ao longo do set do Evian Christi – atração que veio logo a seguir, e que chamou atenção do público em pouquíssimos momentos. A coisa só começou a esquentar mesmo (com a bebida ajudando em tal altura do campeonato) com o repertório do francês Brodinski – que agradou muito bem em suas batidas eletrônicas e melódicas (rolou até aplausos do público), misturando gêneros e caindo como um belo aquecimento para o duo que chegou com status de veterano.
Os britânicos do The Chemical Brothers entraram pontualmente às 00h30min, conforme previsto no papel. Era de esperar que a cada introdução de música acontecesse aquela euforia – o que de fato aconteceu, desde os mais novos que estavam lá porque conheciam uma ou outra, até os ávidos fãs na faixa dos 30 e muitos, e que acompanham a carreira da dupla desde o auge nos anos 90. A performance abriu com “Hey Boy Hey Girl” e passou por boa parte do álbum Born In The Echoes (lançado em 2014), que tem uma pegada bem diferente e com boas músicas como “Go” e “Sometimes I Feel So Desert”, ambas executadas. Um show cheio de luzes e lasers que impressionava pela qualidade técnica e sonora e que apesar de soar um pouco previsível, surpreendeu com boas versões do hino “Galvanize” e “The Test”, outra conhecidíssima do público. Antes do encerramento com o clássico “Block Rock’in Beats”, surgiu atrás da dupla dois robôs gigantes cheio de luzes (bem antiquados por sinal) – mas que trouxe até um certo ar nostálgico à performance. Com quase 1h30 de duração, não tenho dúvida de afirmar que o Chemical Brothers cumpriu bem o seu papel no Sónar desde o início – e teve um ingrediente a mais, pois ao contrário do que foi noticiado meses atrás, Ed Simons, o ex de Lily Allen, estava neste show com Tom Rowlands, fato que não vinha acontecendo recentemente, sendo substituído por Adam Smith, tido como o “terceiro” Chemical Brother.
A pausa entre os shows do Chemical Brothers e o seguinte foi feita pelo dj e produtor Zopelar – único brasileiro do line-up e residente de um clubinho eletrônico ali próximo, a famosa D-Edge. Com 10 minutos de atraso, os ingleses do Hot Chip abriram sua performance com dançante “Huarache Lights”, lançada este ano e emendando (o que acontece com praticamente todas as canções) na “One Life Stand”, uma das mais conhecidas. Com uma considerável bagagem de hits indie eletrônicos, o grupo não deixou de fora músicas como “Over and Over“, “Ready for The Floor”, “I Feel Better” e “Dancing In The Dark”. Bem animado, o público estava querendo conectar-se com a banda desde o começo, dançando e realmente se divertindo – mas a banda não parecia deixar essa conexão tornar-se mais empolgante do que eles próprios ali no palco. Poucas palavras foram ditas rapidamente pelo vocalista Alexis Taylor , “dizendo que gostava muito de São Paulo” e blablabla. Esse comportamento de um certo desconforto em palco, na minha concepção, é um pouco estranho visto que essa é a quarta vez da banda em festivais pelo país num período não tão longo assim. O show ainda teve a boa execução de “Need You Know”, tirada do recente trabalho (bem cara de trilha-de-novela-das-nove) e que gerava desconfiança de como ela poderia soar bem ao vivo. Vale a nota: a banda não tocou “And I Was a Boy From School” – a minha favorita. O fim de noite, um after party com todos ja bem exaustos foi feito pelo espanhol Pional – sem muita novidade e expectativa até as 06h da manhã.
O saldo do Sónar é positivo, por mais que esta edição tenha sido marcada pela timidez. A curadoria do evento é um dos maiores diferenciais, mesmo quando compacta e menor. Principalmente por trazer os veteranos do Chemical Brothers. Talvez o alto valor dos ingressos afastou parte do público (que não esgotou os 8 mil disponibilizados), aliado com uma certa frustração em torno desta mudança no tamanho do evento. Resta esperarmos como serão os próximos que virão e saber se essa foi uma decisão acertada do evento ou não.
- Sónar SP 2015. Fotos por Eduardo Magalhães / Sonar SP.
- Brodinski no Sónar SP 2015. Fotos por Eduardo Magalhães / Sonar SP.
- Chemical Brothers em ação no Sónar, em São Paulo. (Foto: Eduardo Magalhães / Sónar SP)
- Hot Chip no Sónar SP 2015. Fotos por Eduardo Magalhães / Sonar SP.
- Sónar SP 2015. Fotos por Eduardo Magalhães / Sonar SP.
SÓNAR SP, com Chemical Brothers, Hot Chip, Brodinski e outros.
Onde: Espaço das Américas
Data: sábado, 28.11.2015.
Hora: entre 21h00 e 06h00.
Nota: ★★★
Legenda da nota.
★★★★★ – Imperdível, show perfeito, viver neste show seria uma vida de sonhos realizados.
★★★★ – Competente, acima da expectativa. Conquistou a plateia e largou todo mundo com um sorriso no rosto ou um choro no olhar.
★★★ – O show padrão, entregou o que se esperava.
★★ – Fraco, ficou devendo. Não pagou o ingresso.
★ – Péssimo, melhor tomar um tiro do que ver este show. Não vá nem na bala.
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