
Blur faz o maior show da sexta-feira no Primavera Sound / Foto: Eric Pamies
O post contando os dois primeiros dias de Primavera Sound está aqui. Agora vou falar um pouco da sexta-feira.
Sexta-Feira de Chris Owens em Auditório e a energia do Blur para grandes multidões
Ficar cansado não é uma opção, quando você atende um festival desse porte. Mas acontece. Você nega o corpo. E segue em frente.
A sexta-feira em Barcelona começou com Kurt Vile às 18h10, sonzeira para aplaudir com vontade. Dois discaços na conta (apesar de existir discografia prévia) fodas. Um lançado em 2011 e que visitou o Brasil: Smoke Ring for My Halo. E, Wakin on a Pretty Daze deste ano, um dos meus favoritos até agora, o Primavera Sound começou em altíssimo nível no Heineken Stage.
Depois disso eu fui me decepcionar com o Peace no Primavera Stage. Ahhh caras… Nada demais, sério, já cansou o indie rock festivo, hora de fechar a porta e o último pode apagar a luz. O Peace parecia ter algum apelo e alguma psicodelia, algum diferencial. Mas ao vivo, é mais uma entediante banda britânica puxando riffs de carnaval indie, pa-pam-pan-pa. Eu entendo que aos 16 anos isso pareça bem legal, mas já nos saturamos disso. Adeus Peace, eu tentei, de verdade. (Pena ter trocado o Merchandise pelo Peace).
Depois disso desci para o palco logo ao lado, o Pitchfork para ver meio set do Daughn Gibson, com sua pose de galã latino e vozeirão de Nick Cave. Música que não é cantada, é interpretada, ele se sente ainda incomodado com o palco e as composições, algumas delas, meio cruas, mas temos algo aqui. Esse cara tem tudo pra ir bem longe, faz um belo trabalho e tem talento pra segurar ao vivo.

Daughn Gibson no palco Pitchfork. / Arquivo Pessoal
Hora de abandonar o show do Gibson, para garantir uma poltrona no auditório que Chris Owens (ex-Girls), tocaria do lado de fora do festival.

Christopher Owens se apresenta na sexta-feira no Primavera Sound. Auditório Rockdelux. / Foto: Xarlene
Acústica perfeita, plateia em silêncio, sem a loucura, as bebidas e tudo mais que acontece naturalmente em um grande festival. Esta é definitivamente a cereja do bolo do Primavera Sound, é um dos fatos que coloca este festival na liga dos Grand Slams dos festivais internacionais, coisa que nossos festivais por aqui, estão longe de alcançar, infelizmente, não me agrada comentar isso e longe do deslumbre escrevo essas palavras, mas este é apenas um dos momentos, entre vários momentos, que os nossos festivais estão bem abaixo de ser um festival de primeira grandeza e prometo não tocar mais nesse assunto, percebam naturalmente pelo texto. E torço com o coração para a gente ser assim, um dia… um dia.
Para os fãs de Girls, o show do Chris Owens foi uma decepção. Nenhuma música da ex-banda foi tocada. Owens mostra claramente que está indo em outra direção. 3/4 do show foi baseado no disco solo, lançado em janeiro deste ano, Lysandré e depois foram 5 músicas, todas COVERS. Um golpe e tanto. O recado não poderia ser mais claro sobre os rumos que Christopher escolheu para a carreira. Entre esses covers apenas canções dedicadas ao folk e country americano. Cat Stevens, Bob Dylan, Simon & Garfunkel, Donovan e The Everly Brothers. Eu não consigo dizer não ao Chris, pois acredito no compositor, mais do que no direcionamento de estilo de suas composições. Mas definitivamente decepcionou muita gente. O vídeo abaixo, não foi no Primavera Sound, mas mostra o cover de “Wild World” do Cat Stevens, o mesmo que rolou no Primavera:

Auditório Rockdelux. Foto: Arquivo Pessoal
Outra figura na banda é a namorada do Chris Owens, a backing vocal mais próxima a ele, em lugar de destaque na frente do palco. Ela não consegue se comportar como uma backing padrão, com a mãozinha para trás e passando quase despercebida pela plateia, a menina dança, rebola e se diverte. Vibrante.
Depois foi a hora de voltar para o festival e assistir o The Breeders, tocando o Last Splash, na íntegra, no palco Primavera. Cheguei no palco já estava rolando “Divine Hammer”, décima música do disco. Mas deu pra pegar todo o fim, mais uns mimos que viraram minha cabeça, como o cover de “Shocker in Gloomtown” do Guided By Voices e “Happiness Is a Warm Gun” do The Beatles. As garotas fecharam o set com “Don’t Call Home” do EP Safari. Foi o suficiente para aplaudir com vontade.

The Breeders tocando o Last Splash no Primavera Sound / Foto: Dani Canto
E então direto para o show morno, para não dizer frio, do The Jesus and Mary Chain, segundo show deles que vejo, assim como o Breeders, mas o Breeders continua quente, já Jesus and Mary Chain continua frio. Com aquela banca inglesa, o saudosismo é maior apelo, do que qualidade da banda no palco. Na metade do show fui comer e ver o final sentado da praça de alimentação. Sim no Primavera Sound é possível comer e ver um show de longe.
Aliás esta hora eu vi que falta de educação independe de nacionalidade. Muita gente tirou a cadeira da praça de alimentação e levou para a região do palco, para poder assistir ao show sentado. Enquanto muita gente que foi para a praça de alimentação comer de verdade e poder descansar um pouco teve que fazer isso em pé. A esperteza e a sensação de alguns indivíduos achando que são melhores e mais especiais que o coletivo é fenômeno presenciado aqui, neste momento, pela audiência gringa. Primeira grande tristeza, acho que a única neste festival.
Depois eu dei um tempo no palco ATP para presenciar a porrada do Neurosis. Showzaço, mas eu, assim como meu amigo, saímos com uma grande dúvida de lá: Por que o Neurosis é hype e tem espaço nestes festivais e outras bandas do gênero não? Apesar do rótulo de post-metal, não vi nada muito além do que acompanhei de metal nos anos 90. Enfim, deve ter algo.
Eis o Blur e o maior público de todo o festival.

Blur faz o maior show da sexta-feira no Primavera Sound / Foto: Eric Pamies
O show foi vigoroso. Damon Albarn não estava de cara inchada e com olhar de peixe morto. Estava a fim. Estava disposto. Graham Coxon não estava alheio, estava metralhando a guitarra, virou cambalhota (ou cambota como se fala no interior) no palco. Tocaram todos os hinos e tiveram o público, imenso público na mão o show inteiro. Todas as músicas foram cantandas. Feito para poucas bandas. Mas algumas se destacaram, os hits supremos, como: “Girls & Boys”, “Tender”, “Parklife” e “Song 2”. “Coffe and TV”, “Beetlebum” e “Out of Time” chegaram bem perto disso também. Enfim o grande show para grandes audiências.
Finalmente você quer deitar e morrer. Mas não ainda não. Tinha o The Knife para provocar as sensações sonoras e visuais mais esquisitas de todo o festival na plateia. Eis aqui um show que todos deveriam ver pelo menos uma vez na vida. Para o Like ou Dislike.

The Knife se apresenta na sexta-feira do Primavera Sound. Foto: Dani Canto
Em modo automático, ainda assisti o set do Disclosure no palco Pitchfork até às 6h.
E fim de sexta-feira, ainda perdi grandes atrações, pois a vida é feita de escolhas, como: The Babies (<3), OM, Swans, Shellac, James Blake, Django Django, Daughter (<3), Daniel Johnston, Titus Andronicus e Local Natives.
Finalizo com o sábado e domingo no próximo post.

<3 The Babies no Primavera Sound. Foto: Xarlene

<3 Daughter no Primavera Sound. Foto: Xarlene
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