
MecaFestival 2013 – Foto: Gui Moraes / 505 Indie
Ou quase maluco. Descomplicado em todas as ações, informal. O MecaFestival 2013 que aconteceu este fim de semana (26.01) na praia de Xangri-lá no RS, certamente foge totalmente do convencional, intencionalmente, assim: em público, localização, organização e bandas escolhidas.
Até às 20h a única coisa que eu tinha visto de interessante em cima do palco tratava-se de um garoto de 15 anos, guitarrista da Dis Moi, primeiro grande palco da vida dele, o moleque acabou com o show, energia e brilho, eye of the tiger que independe de experiência, lance de artista mesmo, poucos têm.
Mas isso não significa que o festival não tenha sido interessante até aquele momento, na verdade foi um dos mais interessantes que eu presenciei, justamente por fazer diferente, por fugir da mesmice, por fugir do cimento e da falta de sombra, sem o aspecto engessado e burocrático dos festivais paulistanos traduzido em filas e mais filas e filas, onde sempre quem salva a experiência como um todo, é uma (ou algumas) banda(s). Não no caso do Meca. O festival parecia um churrascão na fazenda.
Chegamos ao festival por volta das 16h em um grupo grande, através de uma empresa de turismo parceira oficial do festival. No estacionamento, a falta de sinalização e pessoal de apoio fez um grupo de quase 100 pessoas dar uma volta por uma trilha rumo ao meio do mato. OH OH não começou bem. Havia um quiosque do lado do estacionamento escrito qualquer coisa que eu imaginei ser um ponto de vendas de ingressos e um checkpoint com cerca de ferro e um cara ainda arrumava como se fosse a porteira da fazenda e disse pro único segurança no checkpoint, como se fosse realmente a primeira vez que dizia aquilo, já com um bom público entrando: “tem que mostrar o ingresso.”
Enfim passamos e mais uma caminhada de 10 minutos e aà sim a entrada principal. Esse aspecto de entrada e sinalização pode e precisa ser melhorado, felizmente acaba aqui a minha crÃtica ao festival.
O local que eles escolheram é o primeiro grande acerto, várias atrações à parte, algumas organizadas pelas marcas que fizeram ações promocionais e outras já da estrutura do lugar: campo de futebol, parquinho, campo de bocha (!!), piscina, quiosque de churrasqueira, esteiras estiradas no gramado; onde qualquer mortal pagante de ingresso poderia tomar sol tranquilamente ao lado da Martina vocalista do Dragonette. É neste gancho que começa o segundo grande acerto.
O caráter permissivo
O público tinha acesso a praticamente toda a área do festival, exceto o backstage, claro, que consistia em área com 3 camarins e acho que só. Os artistas ficaram concentrados em outra casa, mas tudo ao redor da casa estava aberto ao público, incluindo a área de piscina e gramado em frente da casa. Os artistas perceptivelmente captaram esta caracterÃstica do festival e não se esconderam na pouca área exclusiva que eles tinham, o tempo inteiro você poderia cruzar com algum músico do Citizens! ou do Friends. Aliás a interação artista x público foi beyond that.
Caindo a noite, o Friends subiu no palco e comandado por Samantha Urbani, conseguiu entregar o primeiro momento de ápice libertário, captura de alma e de sentido em estar ali, como se fôssemos parte de alguma coisa, um grupo de amigos ou qualquer coisa assim. Em dado momento do show, Samantha chamou o público que estava na frente para subir ao palco, desnecessário dizer que foi atendida prontamente. Logo estava lá, em cima do palco, algo próximo de 50 pessoas. Até que uma dessas figuras do público, de cabelão black power, sensualiza com a vocalista e em seguida… rola um beijão na boca. De lÃngua e tudo, improvisado no momento. E não parou por aÃ. Mais um cara e duas garotas na sequência também protagonizaram cenas de beijo com Samantha, todos da plateia. Eu comecei a me animar, achei que uma suruba de proporções caligulescas era iminente, por fim não concretizou. Mas foi o suficiente, foi o suficiente para rasgar o roteiro, à aquela altura eu sabia que escreveria um texto positivo do festival, por pior que fosse a apresentação das outras bandas, a atmosfera estava criada e as bandas eram uma parte, essencial obviamente, mas ainda uma parte de um todo. Daqui a pouco eu volto no show do Friends.
As bandas
O Holger fez a primeira apresentação que trouxe público relevante para frente do palco, logo após à s 19h. O ponto alto foi a participação de Carlinhos Carneiro do Bidê ou Balde em cover de “Mim Quer Tocar” do Ultraje a Rigor. E ainda tirou onda com o Holger no final hahaha, deixa pra lá. Ok não deixa não, ele mandou a frase com aquele sotaque de gaúcho da fronteira: “eles largaram o rock agora.” Mas que grande filho da puta, é convidado para subir no palco e ainda tira onda com os caras, eu pensei, lógico que na base do sarro.
Em seguida tivemos Friends com tudo que já comentei acima. Apesar do centro das atenções se voltar para a sensualidade e tensão sexual causada pela Samantha (digo mais: what a booty!), o show é extremamente competente e fiel ao som de estúdio, músicas lançadas no Manifest! como “Friend Crush” e “Mind Control” agitaram o público. A força do tecladista ali é outro algo que marca fortemente na banda, aliás…  teve música inédita do próximo disco, muito bem carregada nos sintetizadores, pena não ter feito um registro ao vivo, conversei sobre a novidade com a Samantha antes do show rolar, mas isso já é conversa de outro post.
E então veio o Citizens! o melhor newcomer de 2012 na minha opinião, ótimo disco britânico de pop, ridiculamente concentrado em bons ganchos e refrãos, é a flechada na mosca. Porém confesso que o show me decepcionou um pouco, o som começou mal regulado, voz baixa, instrumentos longe do timbre correto, durante as duas primeiras músicas foi se acertando, até que ficou aceitável. Mas mesmo assim a qualidade do álbum ainda é superior ao show, o que não significa que o show tenha sido um fiasco. O show agradou, muito mais pela força das composições, pois o resultado ficou significativamente abaixo do disco. E qualquer banda que não consiga entregar ao vivo da mesma forma que no disco, ou de uma forma diferente, mas diferente em nÃvel semelhante de qualidade, é um ponto sério de preocupação, pois uma banda sem palco inexiste.
O Citizens! tocou o Here We Are praticamente inteiro, faixas como: “True Romance”, “Reptile”, “(I’m in Love with Your) Girlfriend” e “Lets GO All The Way” fizeram a alegria dos presentes. Fez a minha. Mesmo com o detalhe acima mencionado. Quando o som não está perfeito, você se permite cantar a plenos pulmões, o som já tá todo fodido mesmo, então foda-se. Foi ao menos divertido e a única banda que eu conhecia todas as letras, então casou.
Noite firme, lua no ponto mais alto para a apresentação mais dançante e que conseguiu reunir a maior quantidade de fãs e coro de vozes: Dragonette. Liderados por Martina Sorbara, o trio fez um show bastante agitado, incluindo trecho de cover, como “Time After Time” da Cyndi Lauper no meio de “Pick Up the Phone” e tocando os maiores hits como “Hello“, música do produtor Martin Solveig que o Dragonette participou e fez um bocado de sucesso, além do hit “Let it Go” do álbum Bodyparts, último do trio.
Depois do Dragonette, o público foi pro abraço com o Flight Facilities, o duo apresentou os singles lançados como “Crave You” e “Clair de Lune”, entre alguns clássicos de outras bandas remixados, que eu não anotei no meu bloquinho de anotações porque eu já estava na vodka and seizing the moment, depois de 9 horas de festival. Só me lembro que teve outra invasão de palco, mais uma vez umas 50 cabeças, dançando enquanto os djs faziam o set.
Equação Meca
Certamente esse festival com este “lineup fraco” foi um dos mais divertidos que participei nos últimos tempos.
Quando o festival é burocrático, na brita, apenas as bandas salvam; no Meca as bandas são parte da fórmula, equilibrar o peso das atrações faz parte da equação, já que o coeficiente público afeta diretamente todos os outros aspectos que tornam único este festival. Espero que se repita ano que vem. Não é papinho de hipster, mas se você acha que ver um show na frente do palco com espaço para curtir sem acotovelamentos, interação com os artistas, opções de lazer, sombra de árvore pra deitar, piscina pra pular e cerveja gelada é um aspecto ruim, então amigo você merece continuar frequentando apenas os mesmos festivais.
PS: Uma parte da história do festival eu deixei propositalmente de fora é a minha conversa com as bandas, lógico que neste festival eu consegui entrevistar, entrevistar não que isso é coisa dos caras da Rolling Stone ou da Folha do Panamá. Tive a chance de trocar uma idéia com todas as bandas. Vou agrupar esse material coletado e publicar durante a semana, junto com mais fotos do festival. Por enquanto fica só um gostinho do que aconteceu:
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Fotos por Gui Moraes
A certeza de marca indelével do fim de semana continuou em sentido oposto com a volta no domingo e a triste notÃcia de Santa Maria, mesmo que 300km longe dali, saindo do hotel, no táxi e depois no aeroporto aguardando o retorno para Curitiba, era possÃvel sentir, ver e ouvir como o Rio Grande acordou de luto. Pra essas coisas eu não tenho palavras que sejam suficientes, apenas resignação por uma tristeza indizÃvel.
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2 Comments
As fotos ficaram lindas. Churrascão na Fazenda! hahahaha
Bom texto. Ainda estamos na era das trevas em festivais no Brasil, sem contar a fortuna dos ingressos. Infelizmente é preciso citar exemplos estrangeiros para falar de grandes momentos em festivais como um todo. Cito experiências recentes em Portugal, sobretudo no Paredes de Coura e no Optimus Primavera Sound. E mesmo o Milhões em Festa.