A banda paulistana Lestics é formada por Olavo Rocha, Humberto Serpieri, Marcelo Patu, Lirinha Morini e Marcos Muela (Xuxa) e acumula em 5 anos de trabalho, 4 discos lançados e todos disponíveis no site para download.
A banda começou com o encontro de Olavo Rocha (letra) e Humberto Serpieri (composição), e após o lançamento do primeiro disco, gravado em home studio, agregou a participação dos demais. O segundo e o terceiro disco também foram feitos em home studio, com exceção do terceiro, gravado ao vivo.
Sobre o quarto e último disco, Aos Abutres (o mais rock), seria legal se você fizesse o download pra ouvir comigo, enquanto falo sobre ele!
A primeira música, “Travesia”, logo nos primeiros acordes me remete a Beatles (Here comes the sun). A letra é bastante poética, otimista, com uma mensagem positiva, mas ao mesmo tempo melancólica. Segue o estilo folk, batida leve e composição harmoniosa. Paparapapapá…
Em seguinda, “Parto normal”, conta a história da rotina de um casal que vivem juntos, fazem tudo juntos e que não se importam com o que acontece fora daquilo, eles se sentem bem e felizes por estarem ali. Tem uma guitarra mais chorosa e uma bateria mais pesada, que contrasta com a leveza da letra.
A terceira música é a mais mimosa do disco, quase uma cantiga infantil, “Dorme que passa” dá aquela sensação de felicidade e consolo. Lembra um pouco aquele disco da Adriana Calcanhoto, de canções para crianças.
“Tudo é memória” traz o peso da dor de alguém. A música é coadjuvante da letra.
Na quinta faixa “Dom desnecessário”, me lembra muito um disco do Skank, inclusive no tom do vocal muito parecido com o Samuel Rosa. “Em terra de cego ela vai ver que quem tem um olho é solitário”, fala sobre uma mulher que prevê as coisas que vão acontecer com os outros, mas que não consegue aceitar o seu próprio fim, vazio e fútil.
“AOS ABUTRES”, sem sombra de dúvida, a melhor música do disco! Acertaram em tudo!! Bateria, ritmo, letra, poesia, sentimento. “Dormir como um homem de bem e acordar como um fora da lei, de manhã mendigar o almoço, e a noite jantar como rei”. A música reflete medo, apreensão, e mostra a oscilação de sentimentos e comportamentos dos homens. Tem uma harmonia mais elaborada e é bem o tipo de música que fica na cabeça, que dá vontade de ouvir de novo e de novo e de novo. O piano deu um toque especial em tudo. Quando pensamos que a música acabou, inicia-se a segunda parte apenas instrumental, com uma harmonia um pouco mais apocalíptica, cresce aos poucos, acrescentando lentamente os instrumentos e logo atinge o ápice com a bateria. Tenho a impressão que o violão sai um pouco do contexto em alguns momentos, mas isso não incomoda.
“Dois de paus” retoma o início do disco, falando sobre a rotina das pessoas, do nascimento, os tropeços e a esperança de que tudo dê certo. Nada demais na música, o que se destaca mais é a letra com exceção de um solo de violão simples mas bastante marcante.
Faixa oito, “Eternidades ocasionais” começa com um estilo Jack Johnson no instrumental, batida praiana, a letra continua num pouco mais do mesmo, recomeço, conformismo, decepção..
“Nas nuvens”, a mais folk do disco puxando para o country. Letra mais do mesmo, um tanto depressiva, mas a música é alegre. “É assim que eu jogo fora a minha vida…”
Agora sim, na penúltima faixa “Elevação”, a música e a letra combinam, as duas tristes, a bateria nos remete a uma marcha fúnebre ao final da primeira parte, tudo em tonalidade menor, passa uma sensação de angústia, uma necessidade de que acabe logo para que possamos respirar, mas nem por isso ruim… se não acabar, tudo bem, a gente sofre mais um pouquinho e curte o som!
E aí, fica o “Vazio”, reafirmando toda a poesia das outras faixas. Decepção, ceticismo no mundo e nas pessoas, necessidade de se ausentar. Nostalgia. A música acompanha a letra, não se destaca acima dela.
Se você ainda não ouviu o disco, ouça pelo menos a melhor faixa:
Os amigos indicam como referência do seu trabalho muito rock, mpb, um pouco de funk e de punk e muita música velha e citam Stevie Wonder como um bom exemplo. “Somos mais velhos, passamos por várias fases da música, é impossível não carregar um pouquinho de cada década nas nossas composições” diz Humberto.
Uma particularidade interessante é a composição em português. Normalmente, as bandas com influência folk compõe em inglês, mas segundo eles, é muito mais fácil transmitir a mensagem no nosso idioma do que em qualquer outro. E eu concordo, a poesia faz parte da obra, e quanto mais próxima do público, mais compreensível fica seu trabalho.
Eu gostei do disco e aguardo o próximo. Mas o meu predileto até agora, é o primeiro, “9 sonhos”.
Nota: 7,5/10
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