Para qualquer um que goste e tenha curiosidade de procurar artistas novos e/ou diferentes, o nome Sónar é com certeza familiar. O festival, originalmente realizado em Barcelona, e que já tem mais de 15 anos de história, chega a São Paulo em 2012 para (tentar) mudar um pouco nossa visão sobre o que seria um festival de artes, envolvidas todas de alguma maneira pela música, visto que além de shows e exposições de tecnologia relacionadas a música, temos também apresentações de filmes.
O que esperar de um festival que, em mais de 15 anos de existência, já levou nomes tão diferenciados como Holger Czukay, Daft Punk, Aphex Twin, Atmosphere, Merzbow e Animal Collective (para citar alguns)? No Brasil talvez poderíamos esperar algo como o Lollapalooza recente, com algumas grandes atrações mas nada perto do que se vê lá fora. Não foi o caso do line-up divulgado pelo Sónar São Paulo, dos quais destacaria: DOOM, Cut Chemist, Squarepusher, Flying Lotus, KTL e Alva Noto & Ryuichi Sakamoto.
Mas com um line-up tão variado, passando por estilos não muito comuns de aparecerem em shows no Brasil, como IDM, Hip-Hop, Synth Pop, Post-Rock, Dubstep (de verdade), Drone, Glitch e Ambient? Bom, obviamente o festival investiu em grandes nomes para atrair uma maior quantidade de público (afinal, é um negócio, não?), como Kraftwerk (substituindo Björk e trazendo inédito, fora de Nova Iorque, show 3D), Justice, Cee Lo Green e Mogwai, mas o grande motivo por trás disso talvez seja colocar esse público focado, e que geralmente abre o bolso pra ver tais artistas, é colocá-los em contato com outros tipos de música, afinal, é um festival de música “avançada”.
Mas então, quais artistas seriam interessantes de se ver nesse bolo todo? Eu responderia de prontidão, todos! Sem exceção, desde brasileiros novos como Psilosamples até o barulhento Drone do KTL (formado por um dos membros do Sunn O))), que talvez seja mais conhecido do público). Bom, eu passei um bom tempo lutando contra a divisão de horários, ruim por sinal, do Sónar São Paulo, e preferi em muitos casos priorizar ver uma maior diversidades de artistas, mesmo que por menos tempo, e claro, botando alguns favoritos que provavelmente não voltam muito cedo, com o show inteiro, mas vamos a eles e por que seria interessante assistir.
DOOM: Antes de qualquer coisa, SIM, ele toca em horário conflitante contra o grandioso Kraftwerk, mas quem disse que DOOM não é um nome de peso pra bater de frente com os pais da música eletrônica pop? Bom, não vou resumir a carreira e discografia do DOOM em um pequeno post, afinal, é talvez maior até do que a carreira inteira do Kraftwerk, mesmo sendo três vezes mais recente. O grande problema é o preconceito por parte do grande público com o Hip-Hop de maneira geral, culpa da mídia, em parte. DOOM foi responsável por grandiosos trabalhos na música nos anos 2000, e argumento nenhum vence a audição de seus discos, apesar de que DOOM tem tantos projetos, com nomes e parcerias diferentes, que fica complicado procurar e ouvir tudo, como Madvillainy (parceria com Madlib, sob o nome de Madvillain), Vaudeville Villain (sob o nome de Viktor Vaughn), Operation: Doomsday (sob o nome de MF DOOM) e Take Me To Your Leader (sob o nome de King Geedorah), sem contar seu trabalho mais recento, Born Like This, sob o nome que ele carrega hoje em dia, DOOM.
Cut Chemist: Outro nome talvez desconhecido, mas que deve ser pela falta de publicidade acerca da maioria do seu trabalho do que pela qualidade. O produtor que já trabalhou com o gigante Jurassic 5 e com o reconhecidíssimo DJ Shadow, chega com seu trabalho solo, sob a alcunha de Cut Chemist, trabalhando com o Hip-Hop Instrumental e Turntablism, no qual, principalmente em seu disco mais recente, The Audience’s Listening de 2006, inclusive flerta de leve com a música brasileira no hit mais conhecido do disco, The Garden, com samples de Astrud Gilberto.
KTL: O projeto, capitaneado por Stephen O’Malley (membro do Sunn O))) ), é o típico show, para padrões brasileiros, veja para crer. Não é abrasivo e impactante como um Merzbow, que já se apresentou no Sónar lá de fora, mas com certeza não é o tipo de som que todo mundo esteja acostumado ou vá gostar, e talvez por isso, seja uma pedida tão interessante. Se você por acaso vai ver Mogwai, talvez ache algo aqui bem interessante, se não, abra (mas proteja) os ouvidos e tire suas próprias conclusões.
Alva Noto + Ryuichi Sakamoto: Esse é um dos shows que mais quero ver, visto que considero um SHOW, espetáculo e não só uma apresentação, é aquele show que você só fecha o olho e começa a viajar, e pra bem longe. Mínimo mas conciso, caminha para algum lugar, essa colaboração é talvez uma das mais interessantes em todo o Sónar. Um famoso pianista japonês, compositor de trilhas sonoras, membro da Yellow Magic Orchestra (pense, Kraftwerk japonês e contemporâneo do mesmo) junto de um reconhecido produtor de música eletrônica minimalista, toques de glitch e ambient. E é justamente o que você vai encontrar, a mistura de um pianista erudito com o produtor de música eletrônica, e como sua mente já deve ter pintado, um show tranqüilo, onde um espirro da platéia já pode arruinar uma música, onde o silêncio é o seu melhor amigo.
Flying Lotus: Falar que o sangue de Alice Coltrane corre nessas veias já é o suficiente? Acho que não, se for pode parar de ler e ir ver o show. Se não for, Steven Ellison, ou melhor, Flying Lotus, é um dos, se não o maior nome da música eletrônica atual, pós-Aphex Twin e Autechre. Digamos que, sem contar qualquer colaboração, produção e coisas do tipo, por seus próprios trabalhos ele conseguiu aos poucos angariar uma espaço gigantesco perante a mídia e ao público. Seu último trabalho (sendo que um deve ser lançado esse ano), Cosmogramma (com participação de ninguém menos que o querido Thom Yorke), de 2007, conseguiu alcançar as listas de Melhores Álbuns do Ano em diversas publicações, e criado uma mística por trás de seu nome. Um show pra não ficar parado, mas para ouvir algo que você com certeza não vai ouvir na sua balada, provavelmente nunca.
Squarepusher: Explicar toda sua carreira em detalhes até esse momento não será de muita utilidade, visto que na nova turnê, e por nova eu digo nova mesmo, visto que começou em menos de um mês com shows nos Estados Unidos. Thomas Jenkinson, vulgo Squarepusher, já foi um grande nome em vários estilos, como Drill and Bass, IDM (estilos que já renderam a ele comparações com Aphex Twin, nos anos 90) e Glitch, além de se aventurar com álbuns de Improvisação Livre e Jazz, visto que ele é um virtuose no baixo elétrico, mas chega agora com uma turnê focada totalmente em seu novo álbum, que será lançado logo após sua apresentação no Sónar, o Ufabulum. O show gira todo em torno do novo disco, no qual ele volta mais as suas raízes, como o Drill and Bass e o IDM, além de algumas influências mais modernas como Dubstep e Chiptune, além é claro de todo aparato visual que acompanha o espetáculo, como pode ser visto no primeiro clipe a ser lançado para promoção do álbum, da música “Dark Steering”.
Jeff Mills: Assim como fiz com todos os artistas acima, evitarei me alongar na carreira desse aqui, afinal, Mills (além de particpar do Sónar desde a terceira edição em 1996) tem uma vasta coleção de trabalhos, seja como DJ, produtor ou membro-fundador (junto com o baixista do Parliament, Mad Mike) do renomado coletivo UR (Underground Resistance), grande nome do movimento conhecido como Detroit Techno. Seus trabalhos são extremamente influentes na evolução e nascimento de diversos gêneros dentro da música eletrônica e principalmente dentro do Techno, como o Acid Techno e o Minimal Techno. Vai ser uma chance única de ver um dos grandes nomes, que apesar de trabalhar com música eletrônica desde sempre, já está mais velho (só não tanto quanto alguns membros do atual Kraftwerk), com 48 anos.
Além dos já citados, vale ressaltar a presença de nomes graúdos da música eletrônica como Four Tet (outro que já trabalhou com Thom Yorke e até com o reservado produtor Burial), Modeselektor, que recentemente se apresentou no renomado Festival de Coachella, e James Blake, que em 2011 causou um grande impacto com o lançamento do primeiro álbum, com diversas influências, de Soul a Garage, apesar de ser muito jovem. Cabe a você decidir se vai priorizar atrações, se vai correr de um palco para o outro tentando aproveitar todas, se vai perder tempo comprando cerveja e/ou indo ao banheiro, entre outras coisas, afinal são apenas dois dias com um line-up que nunca se viu por aqui, depois disso meu amigo, só ano que vem provavelmente (espero que com certeza).
A primeira parte do guia está disponível neste link.
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1 Comment
P Aldo, mandou benzasso no texto, fiquei at com vontade de ir ver Doom