Aconteceu no último fim de semana (02), mais uma edição do MecaFestival dentro da região metropolitana de Porto Alegre, já nos limites da cidade de Viamão. Pela primeira vez o festival abandonou sua “casa” em Maquiné, no litoral gaúcho e ficou às margens do Guaíba. O local dista em aproximadamente 55 km do centro de Porto Alegre, ou seja, ainda continuou com sensação de viagem em relação à capital gaúcha, tal como era anteriormente.
Infelizmente, os problemas já começaram de cara, com os ônibus ofertados pelo próprio Meca atrasados. Filas são normais, ainda mais quando falamos de eventos grandes assim, mas filas desorganizadas ninguém gosta de pegar, para entrar no festival era obrigatório fazer parte de uma fila enorme e completamente aleatória.
Fila superada, pés oficialmente na grama do Meca, hora de aproveitar o primeiro momento para conhecer a nova locação, diga-se um lugar realmente lindo, mas que poucos desfrutaram das belezas do lugar, já que a maior parte do público chegou só à noite. Mesmo ainda sem ter chegado ao seu auge, os dois caixas do festival já apresentavam problemas de fila, enquanto Alpargatos e na sequência Lia Paris se apresentavam, abrindo a noite, muitas pessoas ainda aguardavam na fila, onde a espera chegou até 50 minutos para comprar bebidas. Após comprar a ficha, a situação para retirar a bebida também era caótica nos dois bares do evento.
Os clubinhos, que eram tendas feitas para entreter o público entre um show e outro, foram úteis no momento do temporal, pois eram os únicos abrigos disponíveis.
A chuva durou aproximadamente uma hora, na faixa das 21h até 22h, e mais uma hora foi perdida para reparos no palco, principalmente do telão ao fundo que apresentava defeitos após a tempestade, até ser substituído pra recomeçar o evento com Jaloo, surpresa de última hora que foi o ponto alto da noite. Irreverente e comunicativo, ele trouxe todo mundo pra beira do palco, e reviveu as esperanças de uma grande noite.
Jaloo se despediu por volta de 00h20 dando lugar a um performático Jerry Paper, que por volta de 00h50, vestido de quimono dançou e se expressou no palco de uma forma muito teatral, por vezes repetitiva, até arrancou alguns sorrisos da plateia pela figura excêntrica-simpática que é, mas carece, e muito, do principal: música. Mais balbuciou do que cantou, denotando falta de técnica vocal, principalmente na parte de respiração. O “synth pop” (na verdade umas programações toscas) apregoado no som, parece ser mais uma questão de falta de repertório pra tentar outra coisa, do que necessariamente uma escolha deliberada. É o tipo de besteira hipster, que pode confundir alguns equivocados, como sendo dotado de algum recheio artístico menos óbvio.
02h da manhã, ou seja, quase três horas depois do programado para a primeira das duas bandas principais, o mal-tratado público aguardava por Oh Wonder e Miami Horror para salvar uma noite perdida. Eis que então surge o Database no palco!
A dupla de DJs fez o feijão com arroz, animou mas não empolgou, decorrente da expectativa que a plateia nutria pelas bandas principais. Nesta hora todo mundo já desconfiava que “moiô“. Soma-se a conta do desânimo, o cansaço provocado pelas filas, longa espera por shows, e alternativas escassas pra fugir da chuva.
O show acabou, depressão e derrota pairavam no ar. Até que, depois das 03h da manhã, o mensageiro subiu ao palco com o tiro de misericórdia no amuado público: as bandas Miami Horror e Oh Wonder não se apresentariam no MECA por questões que não foram esclarecidas, naquela ocasião.
Diante dos fatos, é difícil encontrar um cenário de redenção para o Meca no futuro, o festival já fez edições muito boas no passado, mas parece ter escorregado além da conta neste. E ao que tudo indica, boa parte do público irá cobrar esta conta.
O lineup em palco do Meca foi:
Alpargatos
Lia Paris
Jaloo
Jerry Paper
Database
———-
Nota do editor Flavio Testa.
Entramos em contato com as bandas Miami Horror, Oh Wonder e com o MecaFestival para pedir um relato do acontecido. Nenhuma das duas bandas retornaram. Já o MecaFestival enviou a nota que havia publicado em sua página oficial:
“A produção do MECA lamenta muito o cancelamento das bandas Miami Horror e Oh Wonder. Após a chuva forte na noite de ontem, nos reunimos com o corpo de bombeiros – que esteve presente durante todo o evento – e com as equipes de palco e responsáveis das bandas. Foi feito tudo para garantir que toda a parte técnica e estrutural continuavam em condições seguras e também para demonstrar para os artistas, inúmeras vezes, que poderíamos continuar com os shows sem risco. Para nossa surpresa, a decisão dessas duas bandas foi de não subir ao palco. Uma vez garantida a segurança de todos no local, o festival seguiu com os shows de Jaloo, Jerry Paper e Database sem qualquer tipo de problema.”
Uma usuária no Facebook postou na página do Meca o seguinte e-mail que ela recebeu da banda Oh Wonder cobrando explicações, na tarde de ontem.
A PEDIDO DA FONTE QUE RECEBEU O EMAIL COM AS EXPLICAÇÕES DA BANDA, E TAMBÉM NOSSA LEITORA, ESTAMOS RETIRANDO A RESPOSTA DA BANDA DO AR. O TEOR DO ESCLARECIMENTO DÁ CONTA QUE FOI UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA DO PALCO, E QUE SÓ PIOROU COM A CHUVA. AINDA AGUARDAMOS UM CONTATO OFICIAL, OS CANAIS DO SITE ESTÃO ABERTOS PARA QUALQUER DECLARAÇÃO, JÁ QUE TRATA-SE DE UM CASO DE INTERESSE PÚBLICO E QUE, ATÉ O MOMENTO, FOI PARCAMENTE EXPLICADO.
Ao que tudo indica, festival e bandas irão discutir a quebra de contrato, enquanto do outro lado, parte do público já procura os seus direitos no Procon local, onde aproximadamente 40 pessoas abriram reclamação entre ontem e hoje, segundo reportagem do Correio do Povo. Hoje (04), às 17h43, o órgão de defesa do consumidor publicou nota oficial no site da prefeitura:
“O Procon Porto Alegre, órgão de defesa do consumidor da prefeitura, autuará nesta terça-feira, 05, a empresa responsável pela produção do MecaFestival, evento musical realizado neste último final de semana na fazenda Butiá, em Itapuã. Na madrugada de domingo, as duas principais bandas do MecaFestival, não subiram ao palco. O cancelamento dos shows do duo Oh Wonder e do grupo Miami Horror, deixou o público insatisfeito. Além da penalidade financeira, a produtora pode ser impedida de realizar novos eventos. ‘Todos os moradores de Porto Alegre que compraram ingressos para o MecaFestival e se sentiram lesados podem recorrer ao Procon’, afirma o diretor executivo do órgão, Cauê Vieira.
Desde domingo, o Procon vem recebendo reclamações pela Internet, com pedidos de ressarcimento pelo cancelamento das atrações principais do evento e também pela falta de estrutura do festival, que contou com poucos pontos de compra de bebidas, problemas na conferência dos ingressos, atrasos e ausência de transporte contratado e na indisponibilização de meia entradas para estudantes. ‘Além de investigar as irregularidades relatadas em prejuízo da coletividade, pretendemos também dar ouvidos às reclamações individuais dos participantes do MECAFestival’, ressalta Viera.“
UPDATE 05.04
Na página do evento foi publicada por usuário das redes sociais, o print de uma resposta do Miami Horror que diz que os problemas e a decisão de não tocar, não foram apenas pela chuva e que as bandas estão conversando com os advogados e em breve lançarão comunicado.
O MECA publicou nota para o seu público. O festival, em tom irônico, classificou como hater a parte do público que procurou os seus direitos e expressou insatisfação. O teor sugere que o festival não errou tanto assim, agradeça por estar em segurança, agradeça pelo foodtruck, porque eles trabalharam duro.
É preciso entender que não é pessoal, essas pessoas que estão colocando suas insatisfações não são dotadas de menos amor, elas não querem falir o Meca, ou que o dono fracasse na vida. Elas só querem ser tratadas com respeito. Compreender o outro lado, ter um pouco de empatia é obrigação de quem presta o serviço.
O 505 Indie seria um #MECALOVER ou #MECAHATER? Essas visões dicotômicas de amor ou ódio são difíceis de entender.
2016: O Fiasco do Meca Festival 2016
2015: Em clima de fazenda, Meca Festival 2015 mantém o rótulo de festival informal e longe do comum
2014: Saiba como foi o MECA Festival 2014
2013: MecaFestival 2013: longe do comum
2012: M/E/C/A/Festival: A meca indie ao sul
NOTA DO MECA:
“Em primeiro lugar, eu quero pedir desculpas.
O MECA é feito por humanos. Por poucos, inclusive. E nós erramos – em aspectos que são muito importantes pra gente e pro nosso público. Erros grandes ou pequenos, não importa. Quem nos acompanha sabe que pra gente os dois têm pesos iguais. O próximo passo agora é aprender o máximo possível com os deslizes pra acertar na próxima vez.
Mas vale dizer que em nenhum momento, durante o último sábado, entregamos as pontas ou poupamos esforços pra chegar mais perto do resultado que queríamos. Em nenhum momento deixamos de tentar proporcionar a vocês o que, se a mesa estivesse posta ao contrário e fôssemos nós os participantes de um festival, gostaríamos que fosse proporcionado pra gente. É nisso que acreditamos.
O MECA não nasceu como uma ideia de negócio. O MECA foi criado porque a gente queria trazer pro Brasil um pouco da experiência que a gente vivia em festivais incríveis como o Coachella. Uma história pra ser curtida junto com os nossos amigos. É exatamente isso que a gente vem fazendo desde a primeira edição. Experimentando, testando, arriscando, aprendendo, corrigindo. Melhorando. E é isso que vamos continuar fazendo.
Também queremos falar sobre alguns pontos de sábado, porque vocês têm o direito de entender, e nós, a obrigação e o desejo de explicar. A intenção não é nem de longe nos justificar, apenas abrir o diálogo com quem tem interesse e está com o coração aberto, e que sabe, sem a gente precisar dizer, que o MECA não se resume a um dia que não deu tão certo. São sete anos de cuidado, carinho, respeito e muito trabalho.
Só vamos, antes, dar uma boa notícia pra você, MECAHater (não leve a mal, é só um apelido carinhoso). Nós respeitamos a sua opinião. E, de tanto, queremos sugerir que você pare de ler esse texto agora e não gaste mais tempo batendo no festival e xingando os envolvidos. Entre outros motivos, você vai continuar recebendo muitos Emoticon heart Emoticon heart Emoticon heart e a gente sabe o quanto isso te irrita. A verdade é que “não é você, sou eu”, e a gente não tem nada a ver.
Assim a gente encerra a nossa história, cada um para o seu lado. E você está livre para sair com outros festivais. Combinado?
E quem achou que esse MECA foi um horror; que qualquer um encara um lugar com os desafios que a beleza do Butiá traz no pacote; que é qualquer DJ que começa a tocar e faz todo mundo esquecer que o mundo tá caindo lá fora; que oito bandas maravilhosas se apresentarem é a mesma coisa que nada; que ter aquela variedade de foodtrucks deliciosos e todas aquelas marcas incríveis expondo (além das mil outras atividades que rolaram das 3pm às 5am) não é grande coisa; que passar por uma tormenta daquelas garantindo a segurança de todo mundo não seria o maior pesadelo de qualquer um; e, finalmente, quem acha que, passado o vento e a chuva, a gente, junto, não ter se deixado abater, recuperado a força, colocado tudo de volta nos trilhos, não é, no mínimo, uma grande prova do quanto o MECA é diferente de tudo o que existe por aí; mande um e-mail pra contato@mecalove.com contando porque você merece o seu dinheiro de volta e quanto do valor você acha que rasgou ou que a gente não entregou.
E agora, ufa, mudando a energia …
Se você é um MECALover, querido, nós te queremos por perto, bem pertinho, nos ajudando a construir essa plataforma que é o nosso projeto mais especial. Fica aqui registrado o pedido de desculpas, o reconhecimento pelas nossas falhas, o desejo insaciável de melhorar. O canal de comunicação está aberto, a troca é o caminho que a gente escolheu seguir e o nosso compromisso é com vocês. Estamos abertos a ideias, sugestões e críticas, como sempre, mais agora do que nunca.
Ter feito o MECAFestival esse ano pela primeira vez no Butiá foi, de cara, um grande risco. Não conhecíamos o local direito, suas limitações, suas demandas. É claro que não poderíamos prever a tempestade, nunca vamos poder controlar o tempo. Mas sabemos que a iluminação, por exemplo, poderia ter sido melhor. A operação de bar também deixou muito a desejar. E o sinal de celular nos atrapalhou muito com as máquinas de cartões de crédito, motivo pelo qual as filas estavam grandes demais. Mas o maior erro, na nossa opinião, foi na demora em anunciar a situação com as bandas. Achamos na hora que tudo ia dar certo e que conseguiríamos mostrar pra eles que poderiam tocar em segurança, sem precisar preocupar vocês. Nos equivocamos. E por todas essas coisas, pedimos desculpas. Nada disso foi, é ou será MECA.
Ah! Vimos que algumas pessoas começaram a questionar até a doação dos alimentos. Não vamos ficar aqui defendendo todas as coisas boas que aconteceram no MECA. Mas essa questão particularmente é muito importante de ser esclarecida. Todas as contribuições foram devidamente protegidas em sacos plásticos contra a chuva e foram entregues ontem para as instituições Comunidade indígena de Itapuã, Tekoa Pindó Mirim e Escola Indígena Nhamandu Nhemopu’ã. Fizemos uma super diferença na vida dessas pessoas. Muito obrigado a todos que participaram! Emoticon heart
E pra terminar, não poderia deixar de reconhecer e agradecer publicamente todo mundo que participou, ajudou e trabalhou pra colocar esse MECA de pé. Vocês são a nossa família, o real motivo pra gente estar fazendo tudo isso. A verdade é que sem vocês, nada disso existiria. Muito obrigado, mesmo! É claro que ver essa edição não ser um sucesso absoluto me deixa super triste, mas o que me deixa triste mesmo é ver que todos vocês não puderam celebrar, no final, como deveriam e mereciam. Mas algumas almas iluminadas já começaram a se posicionar e defender o trabalho incrível de todos vocês. Eu faço questão de ser mais um nessa lista, e espero que muitos outros concordem comigo e se manifestem também.
A gente está conversando com as bandas e entendemos que toda aquela chuvarada e ventos fortes, de uma hora para outra, foi assustador e que eles ficaram preocupados que pudesse acontecer de novo. Por isso, estamos tentando chegar, juntos, à melhor maneira de lidar com essa situação e como podemos direcionar todo o nosso esforço e trabalho pra tentar compensar um pouco todos os fãs que estavam lá. Nada vai apagar o que aconteceu, mas, com a energia certa, existe o potencial de criar mais um monte de boas lembranças na vida de todo mundo.
Vamos fazer o nosso dever de casa, assimilar tudo o que aconteceu, entender todos os aprendizados, usar todos os ensinamentos, reunir todo mundo para repensar a plataforma e fazer tudo o que a gente precisa fazer pra seguir em frente. Agora mais fortes.
Quem tiver qualquer pergunta, questão, sugestão, não se preocupe, é só ter um pouquinho de paciência, nós vamos responder a cada uma.
Desculpa mais uma vez, e muito obrigado pelo carinho.
Um super beijo, com muito amor, em todos vocês.
A gente se encontra de novo em breve.
Rodrigo Santanna
MECALove”
UPDATE 06.04
Nota do Miami Horror. Seria a melhor solução, não?!
“Hello Brazil
We apologize deeply for not being able to play last Saturday in Porto Alegre and also the delay in this statement(we have been traveling). It was deemed unsafe for us to play due to the effect of the extreme weather on the stage’s foundations and stability.
We were very excited to play, we loved the location and the crowd seemed great. It was really unfortunate that the show could not go on.
We are are in discussions to set a time to return as soon as we can.”
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