Certa vez, o assessor de um novo artista me procurou para mostrar o trabalho de seu representado. E o diálogo aconteceu assim, de forma resumida:
– Você precisa ouvir o cover que ele gravou de The Weeknd. É isso aí, ficou muito bonito o cara tem uma grande sensibilidade.
– Bacana, quero ouvir sim.
– Ele gravou também aquela música do Pharrell que bombou.
– Hum.
– Mas não é só música atual não, ele gravou Madonna.
(aqui eu não lembro se era Madonna, ou Cher pra falar bem a verdade, para efeito didático deixa a Madonna, ele queria me passar nesta hora, a ideia de que o cara não ficava só em hit atual.)
– Certo, mas ele não tem nenhum som autoral? Eu não vejo problema do cover, se você tem uma identidade artística já formada. Mas o intérprete pelo intérprete não é muito a proposta do blog.
– Entendo, entendo vai rolar, mas você deveria ouvir primeiro, tem aquela do………
E por aí vai. O esforço foi grande, uma situação próxima dessas de telemarketing que o cara quer te vender TV a cabo, sendo que você diz para o cara com todas as letras que televisão não é a proposta da sua casa. “Não, mas tem canal que dá pra ver pela internet.”
(…)
Agora tem releituras e reinvenções né. Algumas propostas tem relevância artística, o cara cria um conceito pra reler aquilo em cima de uma cultura e de uma proposta bem definida. Não é apenas produto de alguém com uma bela voz e boa aparência querendo escalar na teta dos outros. Uma boa releitura deve ser feita com seriedade, mas uma certa leveza e irreverência, como forma de pagar respeito ao dono da obra. É a melhor abordagem, subentender que você está levando o trabalho a sério, mas sem a pretensão de querer ser melhor que o criador.
En el pueblo junto al mar
Que olvidaron bombardear
Ven, ven, ven, bomba nuclear
Todos los días son domingo/ cada día es triste y gris
Neste contexto, eu apresento o Mexrrissey, que já são aprovados com folga logo no primeiro questionamento, pois são músicos importantes no México com trabalho autoral bem representado. O cerne da banda é feito de Camilo Lara da banda Instituto Mexicano del Sonido, Jay de la Cueva (Moderatto e ex-Molotov) e Sergio Mendoza do Calexico, que chamaram o violinista Alejandro Flores, o quinto elemento do Café Tacvba, Ricardo Nájera, da Furland e também IMS, o influente guitarrista mexicano Chetes, um dos principais elementos da Avanzada Regia, cena alternativa que explodiu Monterrey, em idos dos anos 90. Para a canção Everyday Is Like Sunday, eles chamaram a cantautora de forte pegada social Ceci Bastida.
É um coletivo, ao invés de uma banda. A proposta tem que ser encarada com certa leveza, apesar de ser séria. Mexrrissey é um meio de campo entre o ritmo de Manchester e os riffs úmidos de Johnny Marr com o mariachi, cumbia, danzón e chá-chá-chá ensolarado da cultura latina. A dramaticidade e verborragia de Morrissey em uma letra romântica, adaptada e castelhana, como telenovela mexicana.
Como Camilo Lara definiu para a Billboard, “existe muitos sentimentos compartilhados entre a música mexicana e as músicas de Morrissey, então nós pensamos que seria uma ideia fantástica.”
“Nós mexicanos gostamos de sofrimento e fazer as pessoas sofrerem. Melodrama, ironia, sarcasmo, nós compartilhamos isso com Morrissey. Se a maior forma de arte popular do México são as telenovelas, você consegue visualizar porque os mexicanos amam Morrissey”, finaliza o músico.
Por enquanto temos versões gravadas de 3 músicas, veja que não tem muita distinção entre o que é Morrissey e o que é The Smiths: “Ask”, “Everyday is Like Sunday” e “The Boy with the Thorn in His Side”, viraram “Dime”, “Todos los días son domingo” e “El Chico de la Espina Clavada”.
A banda faz um entendimento que Morrissey deveria fazer sobre si mesmo, mas não quero voltar neste assunto, ainda estou de cara com aquele show em São Paulo.
Por enquanto só tenho ouvidos para Mexrrissey. Que já conquistou as almas inglesas, ao ponto de fazer estreia mundial da faixa, “International Playgirl” (hahahhaha já sabemos qual é), com o disk jockey vivo mais importante do planeta, Mr. Zane Lowe. Acompanharemos.
Ser tímido es cool, tal vez no tanto, aveces no te deja bailar!
Si quieres bailar invítame, no me voy a negar.
DIME DIME DIME
SI NO ES SU AMOR ES UNA BOMBA BOMBA BOMBA QUE NOS UNE POR SIEMPRE
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