Nessa onda revivalista dos anos 90, muita coisa ruim e genérica tem aparecido, assim como coisas boas. Quem se envereda por esse caminho tem que ter a consciência de que por melhor e mais competente que seja, nunca será uma banda de ruptura, nunca vai atingir o estado revolucionário, o game changer, a última instância do que uma banda pode representar, pelo fato de não influenciar apenas a música, mas comportamento, sociedade, etc. Não tem como ser isso repetindo um comportamento/estilo, certo?
Mas quando a banda é boa não precisa de tudo isso, aliás o mundo não precisa de tudo isso sempre, senão perderia a graça, perderia a força e deixaria de ser importante, lógico, óbvio. Na verdade, para os aficionados pelo estilo/momento, é sempre bom ver uma banda boa repetindo o passado, como o Yuck dentro do rock alternativo, ou o Pains of Being Pure at Heart no indie pop, são exemplos de que seguir o script noventista nestes últimos anos, pode soar bem legal, se a banda tiver competência pra fazer, conferindo alguma personalidade própria. Personalidade não se justifica apenas em presença de palco, visual e atitudes, mas principalmente na música. É importante ter um modus operandi, é importante a banda criar um padrão, para que um ouvinte de músicas novas dessa banda, saiba de cara de qual banda se trata, criar identidade… e isso não é o mesmo de se repetir.
No LP de entrada do Speedy Ortiz, o disco Major Arcana, a personalidade vocal acho que é o primeiro elo com a banda, a primeira identidade. A vocalista Sadie Dupuis, tem uma forma bem particular de cantar, um vértice na relação melódica x interpretativa das letras, isso se traduz em gaguejadas, sussuros, confiança, velocidade, drama e doçura melódica na hora dela. O vocal faz dobradinhas bem interessantes com a guitarra, quebram juntos diversas vezes, mais um elo.
Outro ponto que me marca são os fraseados, fraseado para quem não conhece o jargão guitarrístico, trata-se da forma como é tocado e não o que é tocado. E isso a guitarra principal do Speedy Ortiz faz muito bem, equilibra feeling x técnica, comunica com personalidade própria, transmite confiança e emoção.
E tem mais coisa pra aprender deste disco ainda, mas já é um ótimo começo notar esses elementos de forma prematura.
O álbum foi gravado em novembro de 2012 no estúdio de Justin Pizzoferrato (Dinosaur Jr. / Sonic Youth / Chelsea Light Moving), onde a banda começava cedinho e ia até tarde da noite tendo tempo de sobra para experimentação. A coleção de pedais de distorção antigos de Pizzoferrato foram utilizados. A banda mora na mesma cidade que o ex-casal Kim Gordon e Thurston Moore residiam (não sei mais como ficou esse lance de casa depois da separação). Na cidade vizinha, menos de 20 km de distância, moram J Mascis, Black Francis e Joey Santiago (cada um na sua casa, sem relação marital). Eye of the hurricane.
O disco tem também suas falhas, momentos de dispersão e menor entusiasmo em faixas menos inspiradas, me parece nota 8.5 no geral. Mas a faixa “No Below” é obra-prima, nada nela poderia ser mudado para que ficasse melhor.
“How I would say I was better off as being dead
Better off as being dead, I didn’t know you yet
And you might’ve said you were better off as being dead
But I’m looking out for you, my friend, look out
I didn’t know you when you were a kid
But swimming with you, it sure feels like I did”
Vamos ao disco. A NPR avisa: “Please be advised this audio contais profanity”. Hahaha. Outro elemento para a conta da identidade.
Speedy Ortiz – Major Arcana tracklist
1. Pioneer Spine
2. Tiger Tank
3. Hitch
4. Casper (1995)
5. No Below
6. Gary
7. Fun
8. Cash Cab
9. Plough
10. MKVI
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