10. Johnny Hooker – Eu Vou fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!
Pernambuco sempre foi berço de exímios músicos. Eleito o melhor cantor do Prêmio da Música Brasileira 2015, Johnny Hooker nos prova sua potência em Eu Vou fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!. O brega, o frevo, o sound system, o pop, o indie rock, juntamente com letras carregadas de drama, amor, ódio e sexualidade, dão corpo a voz marcante de Johnny. De dançar e cantar a plenos pulmões, o pernambucano conta, através das faixas de seu disco, uma história de amor encharcada em sinceridade e regionalismo.
9. Jair Naves – Trovões a Me Atingir
Jair Naves voltou com suas letras complexas e profundas, interpretadas da forma mais torta e sangrenta possível. A canção serve a história, e não a história serve a canção como funciona na maioria das dinâmicas em música popular. Um verdadeiro cancioneiro moderno, esse jeito de cantar do pantaneiro, e do verdadeiro sertanejo, quase declamado. O destaque dado na lírica, até aqui, não deve ser entendido como instrumental fraco, muito pelo contrário. Música de personalidade, viva, colorida, presente, “essa chama intensa”. Já nos primeiros acordes, uma fusão de Nick Cave com Zé Ramalho, dá pra perceber que o álbum é tudo que promete. A sequência mantém a força do disco, que ataca por sonoridades que vão da post-punk até o folk moderno. Indie pantaneiro. Além da faixa de abertura, “Incêndios (O clarão de bombas a explodir)” é uma das melhores músicas do mundo que ouvi este ano. Mas o disco inteiro é rico, destaque também para “, 5/4 (Trovões vêm me atingir)”, “Prece Atendida”, “No Meu Encalço” e “Trem Descarrilhado” O eterno Ludovic, contou com várias participações especiais nesse disco, além de financiamento coletivo que deu luz à viabilização do álbum.
8. Nômade Orquestra – Nômade Orquestra
A Nômade Orquestra, composta por um grupo de 10 músicos e um Vj, é fantástica. Instrumental de várias características como o jazz, o hip-hop, o rock, o funk, dub, afrobeat e uns toques da música moura e do eletrônico, fazem do álbum de lançamento da banda um dos discos mais intrigantes dos últimos tempos, justamente pela mistura de influências faixa a faixa. Com um groove poderoso, inteligente e elegante, é daqueles discos de dar o play e sair vivendo. Atemporal. O álbum homônimo foi lançado no finzinho de 2014, após o fechamento de nossa última lista, por isso entra em 2015.
7. Mahmed – Sobre a Vida em Comunidade
Viver de rock instrumental nunca foi fácil, mas se você der atenção para este álbum perceberá que música não precisa de palavras, quando bem feita, assim como fotografia. A sublimação e a entrega que o ouvinte encara neste álbum derruba qualquer argumento de que não existe interatividade na falta de letra. Mahmed é um quarteto de Natal, que revela mais uma força na cena alternativa local. A banda revela influências que passam por John Frusciante, Tortoise, a música que se revela hora ensolarada, levemente derretida e hora mais atmosférica. Narrações como na entrada de “Vale das rrRosas” preparam ainda mais a cama em mistura um quarto lisérgica e três quartos de sonhos. O groove e os destaques nos arranjos provam que a turma de Natal sabe valorizar o tropicalismo e as regionalidades, esta última de forma mais sútil, mas não menos importante no resultado final. Up the Mahmeds.
6. Síntese + Akilez + Kiko Dinucci + Thiago França – Boomshot Apresenta EP
Antes do ano acabar vem esta gema, que deixa um gosto de quero mais para 2016. Imagine a porção masculina do Metá Metá, com o Neto do Síntese e pra fechar a equação perfeita, o produtor Akilez, nos beats, samples e scratchs. O resultado é tão bom quanto parece ser no papel. Este é o tipo de caldeirão que se apresenta como música de 2015.
5. Ava Rocha – Ava Patrya Yndia Yracema
A potência da voz de Ava Rocha é impressionante. Sua doçura rouca, misturada com uma nova brasilidade tropical, são pontos fortes neste trabalho solo de Ava. O Jazz é o norte dos arranjos das canções, a guitarra distorcida oferece um tom envolvente e ousado em suas faixas. As letras com conteúdo do universo feminino, são cheias de calor em cores vivas. É, certamente, uma ótima referência do que se trata esta nova MPB com boa dose psicodélica.
4. Cidadão Instigado – Fortaleza
Sair de casa pra ganhar a vida em outras praças nunca é algo fácil. Se a sua casa for Fortaleza, imagino que seja ainda mais complicado. Um disco que fecha o círculo vivido pela banda nestes quase 20 anos como profissionais de música, desde os tempos na garagem do bairro de Varjota até o presente. Cidadão Instigado reflexiona a terra natal como forma de homenagem, mais do que saudosismo. Pra se escrever um bom disco, é preciso encontrar o tema certo e eles fizeram. Riffs cheios, como as barracas na praia do Futuro, arranjos e alternativas plurais como a população na praça do Dragão do Mar em uma sexta-feira a noite. Cheio de contraste, como a linha de trem que divide os prédios chiques da beira-mar na altura dos clubes de vela, no Mucuripe e o bairro desordenado em bunkers de areia que fica atrás. Otimista como o cearense. A violência inerente. A experimentação sem preocupação. O peso e volume de um Black Sabbath, com a psicodelia de um Pink Floyd, todos os momentos de blues, rock progressivo, sempre ordenado em vívido e pulsante regionalismo. Chamar referência nacional de outro estado nordestino pro Cidadão Instigado é desnecessário. A partir de agora, bandas novas -e, aliás, Fortaleza tem urgido em bandas novas de rock- serão chamadas de “referências de Cidadão Instigado”, quando assim possuírem. Que disco.
3. Instituto – Violar
13 anos é um bom tempo pra poder juntar inspiração e transpor isso em música da melhor qualidade. Além de contar com os vocais maravilhosos de Bnegão, Curumin, Criolo, Tulipa Ruiz, Karol Conká, Tony Allen, Sombra, Otto, Jorge Du Peixe, Criolo, Thiago França, Kiko Dinucci e Nação Zumbi, ainda de quebra lança uma inédita do Sabotage homenageando Chico Science e uma releitura de Dama Tereza. O Instituto traz em Violar muito mais que um disco de gente talentosa unida, traz origem, asas e raízes. O disco das férias com a galera é esse.
2. Rodrigo Ogi – Rá!
É o rap! O bom e velho e novo rap. Rá!, é um álbum cheio de graça e leveza, que fala sobre o cotidiano do rapper paulistano. Com colaboração de Thiago França, Jussara Marçal, Madu e Daniel Ganjaman, o segundo álbum solo de Rodrigo Ogi tem beats, flow e métrica dos raps dos anos 90 e letras que falam sobre os perengues do hoje. É o melhor lançamento do rap nacional desse 2015.
1. Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
Elza conseguiu transpor as barreiras do tempo e jogou o velho e o novo equalizado em nossos ouvidos. Elza sabe o que está cantando em todas as suas músicas porque sua vivência em todas elas é real. Sua história encalacrada em suas letras e a musicalidade das faixas, faz de A Mulher do Fim do Mundo não só o melhor disco do ano, como faz dele um disco de hinos. Ser mulher, negra, pobre, mãe e ter 85 anos deram a Elza muito mais do que licença poética e histórias pra cantar, embora nenhuma dessas histórias sejam algo exclusivo ou novo, mas que ainda assim, precisam ser expostas e debatidas por todos, nesse tempo antifacista e de cólera.
Novamente.
A mulher do fim do mundo surge como fênix, asas que poucos deram a esta mulher, que sempre se reinventou mas desde o começo sem dar força a um repertório ousado e contundente. O sangue dessa mulher é quente, e quando ela gosta ela se enrosca, já diria Itamar Assumpção. Essa mulher é samba, jazz, rock e funk. Elza samba na música dos outros, unicamente, enroscada em notas que nenhuma cantora atualmente faz, ainda mais com 85 anos de vida. “Das armas, químicas quentes, música é a preferida”. Que bom que com essa idade ainda existem músicos que acreditam em artistas deste quilate, como aconteceu alguns anos atrás com Edith do prato. Elza é necessidade deste país, porta voz de um engajamento negro, feminista necessário neste 2015 tão conservador.
por Flavio Testa, Lua Specian e Raphael Pousa.
Arte por Hudson Vercelino.
Revisão: Carol Munhoz
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