Em sua quinta edição e a terceira no Autódromo de Interlagos, o Lollapalooza Brasil confirma o estado de festival mais relevante no Brasil atualmente. Com organização satisfatória para o grande público, não se viu tanta diferença em termos de estrutura para os anos anteriores. Os shows aconteceram dentro do previsto e sem atrasos mais uma vez, uma declaração que finalmente alcançamos um padrão mínimo de organização. Não é só o Lollapalooza, mas de uns 4 anos para cá, essa questão dos horários tem acontecido em uma boa parte de outros festivais. Tão importante quanto grandes atrações, é que o festival consiga tratar seu público de maneira digna. Muita coisa precisa ser melhorada para que ainda torne-se um dos melhores festivais do mundo, mas o Lolla já consegue atingir um padrão internacional, de maneira timidamente satisfatória.
A quantidade de público não ficou tão diferente do que já foi visto, o sábado foi bem lotado e lembrou o sábado de 2014. Neste ano, 85 mil pessoas estiveram presentes no sábado (foram 86 mil em 2014). E 75 mil pessoas estiveram presentes no domingo. Esta é a maior soma de público do Lollapalooza Brasil, considerando apenas as edições de dois dias. É muita gente. Sempre que o festival supera as 70 mil pessoas, os gargalos irão existir, principalmente nos maiores shows. O momento mais sofrido este ano foi no show da Florence and the Machine que sem um adversário à altura (na última hora Snoop Dogg foi trocado por Planet Hemp, que por mais que seja boa banda e tenha toda uma história, convenhamos, já tocou ano passado e causa aquela sensação de “posso ver qualquer outra hora, melhor ver a Florence”), criando assim, gargalos terríveis do lado direito do palco.
Repetir o festival no mesmo lugar tem suas vantagens, e o acesso parece cada vez funcionar mais harmonicamente, mesmo em um lugar tão distante para a maioria dos presentes, como é Interlagos. Internamente a estrutura de caixas, bares e comidas funcionou bem. Os banheiros continuam em situação precária, até inferior aos anos anteriores, compostos em praticamente 100% por banheiros químicos, sem torneiras, ou manutenção e limpeza apropriada.
As poucas diferenças em relação ao ano anterior, dizem respeito ao palco Perry, que agora tornou-se aberto. Apesar do espaço ser bem melhor que o galpão dos anos anteriores, a estrutura precisa ser repensada, em, principalmente dois pontos: o acesso pela escada não é o mais seguro para um grande número de pessoas, a saída deste palco em shows lotados também é dificultada, já que é necessário atravessar para a outra ponta do palco para poder sair, ou seja, trombando de frente com a plateia que assiste ao show. O outro item é o som, que vaza consideravelmente para o palco principal (SKOL). Do meio da plateia na parte frontal era possível ouvir o som do eletrônico comendo solto. A expectativa foi que algum artista mais chato reclamasse do fato, talvez o tio Noel. Mas não aconteceu.
A crítica que fizemos ano passado sobre criar um câmbio entre mangos e reais foi corrigida este ano, no entanto não mudou muita coisa na prática, já que os preços foram corrigidos acima da inflação. E a sacada é outra, mesmo que não haja câmbio, você só trabalha com múltiplos de 4 (ficha mínima = 4 reais), justificando arredondamentos pra cima e que, individualmente pode parecer pouco, mas no volume pode fazer uma diferença considerável. Os produtos alcoólicos -é só você olhar pro bar por 5 minutos, pra notar que é o produto de maior saída- teve aumento de 20% em relação a 2015, sendo que o mesmo já havia aumentado em 11,11% em relação a 2014. Em ambos os anos, acima da inflação. A água foi a única que sofreu queda de 2015 para 2016.
A comida de maior circulação, fora do chef stage e dos food trucks, tiveram preços estáveis, com sensível melhoria, se considerarmos inflação. O crepe que custava R$ 15,00 foi substituído por um cachorro-quente, até que justo, de R$ 12,00. A batata-frita caiu de R$ 12,50 para R$ 12,00 e o pastel subiu de R$ 10,00 para R$12,00. O equivalente do hambúrguer subiu de R$ 15,00 para R$ 16,00.
Criticar as voltas que é necessário dar em Interlagos para chegar em um lugar relativamente perto é repetir-se na resenha. O palco Perry é um belo exemplo, um palco exatamente do lado do Skol, mas que necessita de uma volta imensa para alcançá-lo. Ainda continua valendo a crítica que o Lollapalooza é um festival com baixo aproveitamento de shows assistidos, porque fisicamente exige, não só pela distância que nunca é a mais curta entre dois pontos, mas também pelo relevo do terreno, cheio de subidas e descidas.
Nota-se que o festival conseguiu melhorar um pouco, com mais áreas de descanso e mesas. Mas ainda pode melhorar consideravelmente a estrutura de conforto ao seu público. Ampliar tendas, criar um pavilhão de alimentação com mais mesas e mais espaços de chill out. A boa sacada deste ano foram as redes pra deitar.
Nos esforçamos em um final de semana de completo esgotamento físico para ver o máximo de shows possíveis e nossa lista ficou assim. Sábado: Vintage Trouble/Matanza, The Joy Formidable, Bad Religion, Of Monsters and Men, Tame Impala, Die Antwoord e Marina and the Diamonds (parcialmente). No domingo: Versalle/Karol Conká, Walk the Moon, Alabama Shakes, Noel Gallagher, Jack U e Florence and the Machine.
Pela primeira vez em Interlagos, os dois headliners do palco principal não foram nosso foco de atenção, em ao menos um dos dias. Enquanto Eminem merecia o posto e ficou mais em uma questão de afinidade sonora, a outra headliner, ainda carece de algo para ocupar o espaço que ocupou. A mesma percepção que, anteriormente, já aconteceu com o Black Keys e com o Phoenix em outros festivais. Ainda falta hit, falta espetáculo, falta variação, falta repertório.
Posto isso, vamos contar cronologicamente como foi o sábado e o domingo de Lollapalooza nos próximos posts.
LEIA MAIS: SÁBADO NO LOLLAPALOOZA BRASIL 2016
LEIA MAIS: DOMINGO NO LOLLAPALOOZA BRASIL 2016
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