“…And Star Power” foi lançado em outubro de 2014, pela Jagjaguwar Records. O disco é o terceiro de estúdio do Foxygen, banda californiana formada por Jonathan Rado (piano, guitarra e outros instrumentos) e Sam France (voz).
Pergunte ao Richard
A história dos rapazes começou pra valer em 2011, quando eles entregaram uma demo para o produtor Richard Swift, que ao invés do lixo ou de um canto distante na prateleira, resolveu ouvir a demo gravada em CD-R e a partir daí as coisas começaram a acontecer para o Foxygen. Logo eles assinaram com a mesma gravadora que ainda estão até hoje, considerada uma entre as grandes do indie americano e que carregam nomes como Bon Iver e Dinosaur Jr., por exemplo. O primeiro álbum chamado Take the Kids Off Broadway saiu em 2012. Logo na primeira música, desse primeiro disco, você tem um resumo da personalidade da banda e em linhas gerais, é o tipo de som que eles fazem até hoje: relapso e com referências descaradas de formatos clássicos do rock. Essas duas características não parecem exatamente “coisa boa” ou um elogio a primeira vista, mas no caso do Foxygen dá certo.
Take The Kids… é um bom álbum, mas bem imaturo, é possível enxergar um bando de garotos com apego pela psicodelia e experimentações, aprendendo como se faz um disco de verdade, cheio de overdubs, com ideias que parecem piadas, como deixar 4 minutos de silêncio de uma faixa para outra. Entretanto o trabalho serviu de aquecimento para o próximo disco e na minha opinião um dos melhores surgidos nessa década.
2013 foi um ano ruim (e bom!)
We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic, contou com Richard Swift na produção e foi gravado em seu estúdio, o National Freedom, no Oregon.
É um disco quase sem falhas, numa sequência de hits, que transcende a energia da grande viagem do ácido na costa oeste, tendo sua meca em San Francisco no fim dos anos 60, a cidade, inclusive, é o título da mais conhecida canção do álbum.
Não apenas de psicodelia, mas algo do pop e todos os caras do rock clássico também são evidenciados, em um trabalho polido e extremamente acessível, com direcionamento, os exageros foram cortados. O lançamento aconteceu em janeiro de 2013 e assim a banda estourou. Todos os melhores festivais do mundo quiseram eles no lineup, a Pitchfork chamou de Best New Music, as publicações musicais especializadas babaram neles.
Eles estavam escalados para tocar no SXSW, naquele ritmo de buzz band, com 200 showcases no mesmo dia, o mercado queria conhecê-los. Durante uma das apresentações, Sam teria reclamado longamente que estaria sem voz, alguém da plateia se cansou da conversa e falou pra ele fazer o trabalho dele, Sam devolveu na mesma moeda chamando o cara pra porrada, e logo depois, abandonando o palco. Março de 2013.
Em maio eles iniciariam a turnê europeia, incluindo o circuito de grandes festivais, no final de abril eles soltam um comunicado de imprensa falando que estavam cancelando toda a turnê europeia, nesta mesma época, eles liberaram no facebook para download gratuito um álbum que teriam feito em 2007 e contendo 36 músicas.
Em junho, Elizabeth LeFey (entrevistamos ela aqui), ex-integrante de turnê do Foxygen e namorada de Sam France à época, publica um post no tumblr que virou um rebuliço na internet musical. O texto dizia que Sam iria trabalhar com ela em material solo, o que muita gente interpretou como um revival de Yoko Ono separando a banda. Também deixou transparecer uma relação que não parecia muito boa entre os dois donos do Foxygen e todo o desprazer dela com a figura de Rado.
Em julho, Sam France quebra a perna durante um show em NYC, se afastando do palco por meses, cabe dizer que não foi um acidente ou exatamente uma surpresa, Sam se apresenta dessa forma visceral, indo no limite, pulando do palco, subindo em caixas, sem muito se preocupar com a própria integridade.
Em setembro Jonathan Rado lança um disco solo – no mesmo ano do disco estouro de sua própria banda – mantendo a imprensa interessada e com uma pulga atrás da orelha. Qual é a dessa molecada?
Espere a Primavera, Foxygen
E então as coisas se acalmam, ao longo de 2014, o Foxygen se reciclou e mostrou novidades em seu show, com 9 pessoas no palco. Tocaram em Coachella, Austin City Limits, Pitchfork Festival, entre outros grandes.
E chegamos ao presente, com o novo álbum “…And Star Power”, contendo 82 minutos e 24 faixas, o disco duplo se divide por temas, No lado-A temos o grupo de músicas com o tema The Hits e outro grupo com o tema Star Power Suite. No lado-B o tema é Paranoid Side. No lado-C (ou primeiro lado do segundo disco) temos Scream: Journey Through Hell e finalmente no lado-D, Hang on To Love.
O novo álbum é um retorno ao jeito exagerado, indulgente e relapso. A sonoridade continua retrô, como uma banda dos anos 60 ou 70. Mas talvez, os pais mais próximos do Foxygen, não sejam os Stones, Jefferson Airplane, o Zeppelin ou o Pink Floyd, mas sim o The Flaming Lips. Wayne Coyne e Steven Drodz participaram desse disco, e o Foxygen participou de With A Little Help From My Fwends, álbum-tributo que o Flaming Lips gravou.
Como se o rock psicodélico americano continuasse em boas mãos, através de transição, com essa nova geração.
Desde o alvoroço causado pela fofoca de que Mick Jagger foi visto lambendo uma barra de chocolate Mars na vulva de Marianne Faithfull, as drogas e o chilindró – antes rolou até o mijão na parede do posto de gasolina – o mundo do rock não foi mais ao mesmo. O pacote de cagadas mantém a chama acesa, aquela coisa imatura, feita por molecada desleixada com a vida e quem se importa. Se importar não é do rock.
Hoje muita coisa mudou, os escândalos são menores e minguados, muito pelo trabalho dos relações públicas, pela profissionalização da coisa, grandes bandas hoje no indie são formadas por pais de famílias quase classe média, e reles mortais como nós.
No Foxygen enxerga-se que essa aura do passado de certa forma sobrevive.
Como diria dr. Ian Malcolm em Parque dos Dinossauros: “life, uh… finds a way”.
Por telefone entrevistei Jonathan Rado, uma das metades do Foxygen e a conversa se desenvolveu assim.
505 Indie: Vamos começar pela faixa Sgt. Pepper’s (Reprise) que vocês fizeram para o álbum tributo ao Sgt Pepper’s do Beatles, que o Flaming Lips fez. Diga-me, como foi?
Jonathan Rado: Sim, com eles e foi muito divertido. Bem, eles queriam que fizéssemos parte desse projeto por um longo tempo, eu não sei quanto tempo, há dois anos ou algo assim. Mas, eles continuavam querendo que gravássemos uma faixa e nós não sabíamos o que fazer, então pensamos que a Sgt Pepper’s (Reprise) seria muito divertida de fazer. Mas, você sabe, na verdade, tivemos uma espécie de desentendimento. Eu pensei que deveria ser [outra]… Sam queria essa música, porque é a música mais curta no álbum. E eu queria pegar essa música de 1 minuto e transforma-lá na canção mais longa do álbum, numa jam de 7 minutos. Ainda acho que estamos em desacordo sobre isso. Quer dizer, eu acabei vencendo no final, mas ainda acho que estamos em um desentendimento sobre essa música. No fim eu acho que ficou algo bem legal.
Também gostei. E pulando agora para o álbum novo de vocês, …And Star Power. O álbum tem mais de 82 minutos, e hoje o CD não é mais o grande padrão de outrora na indústria da música. Sendo assim, ficou mais raro encontrar álbuns duplos ou álbuns de longa duração nos dias de hoje. Como você decidiu fazer um álbum duplo?
Sim, quero dizer, eu senti… que parecia legal. Eu não sei, foi apenas natural. Como tínhamos todas essas músicas então aconteceu. É bacana gravá-las e tirá-las do estúdio. E parece que um monte de gente lançou álbuns duplos também. Por isso, é bom ver a gente fazendo isso novamente.
Quando vocês eram mais jovens vocês lançaram um disco de 36 músicas.
Sim.
Então vocês consideram um retorno a essa origem?
Definitivamente, eu acho que é. Quando éramos mais novos, nós tínhamos tantas idéias que fluem o tempo todo, porque estávamos na puberdade. Rolava aquelas milhares de idéias a cada, você sabe, 45 segundos quando você tem 16 anos de idade. Então sim, eu acho que nós só ficamos um pouco melhores nisso desde então, em pensar todas essas ideias e transformá-las um pouco em músicas.
E se a gente olhar para o disco anterior, We are the 21st Century, é um álbum mais polido. E Star Power me parece um disco mais divertido, estou correto sobre isso?
Eu acho que nós gostaríamos de fazer algo que fosse um pouco mais… ahn, sim, nós tentamos fazer um álbum mais parecido da forma que nós éramos. Como não ter prazos… Só fazer um disco e gravar as músicas da forma que deve ser (para nós), e então será isso.
Massa. E falando sobre as músicas do disco: “Freedom II” tem uma vibe Rolling Stones. “Cold Winter/ Freedom” traz lembranças de Velvet Underground. Essas comparações com o passado te incomodam? E ainda sobre isso, como vocês aplicam o passado na música?
Muitas pessoas relacionam Rolling Stones conosco, nós amamos os Rolling Stones, mas nunca foi aparente para nós, eu tenho uma herança musical do Keith Richards. Então… e muitas das letras são na mesma linha. Assim como Motown, como Stax. As pessoas acham que o Sam tem uma voz similar ao Mick Jagger. Eu acho que com essa música nós estávamos tentando fazer uma versão de Led Zeppelin ou algo do tipo. Apenas uma banda que poderia existir na mesma época. E seria tipo, um grupo de garotos tocando na garagem. Essa foi a ideia da música, apenas algumas crianças tentando algum tipo de música Led Zeppelinesca.
Bom, se essa era a ideia, acho que vocês conseguiram.
Especialmente com aquele minuto de quebrada. Foi como um solo terrível de bateria, mas cara, nós estávamos tentando nos divertir, como na época que tínhamos 13 anos e tendo aquela experiência com o rock clássico pela primeira vez. E claro que muita gente influenciou a nossa música, é complicado negar isso, mas nós… nós nunca, de verdade, tivemos algo consciente sobre isso no estúdio. Essas coisas acabam vindo subconscientemente.
E Journey Through Hell, essa parte do disco e Hang on To Love, eu achei que formaram um conjunto bem especial de canções . Vocês tinham todas essas músicas prontas e criaram os temas do álbum? Ou as músicas foram compostas, com os temas do álbum já na cabeça?
Com Journey Through The Hell muita coisa foi improvisada [para o tema]. Já em Hang on To Love, a faixa “Everyone Needs Love” e “Hang”, essas foram escritas antes e, mas a maioria do terceiro lado, Journey Through Hell foi gravado ao vivo, toda a banda no mesmo espaço. Pessoas diferentes na mesma música, mas nós armamos um grupo de microfones e improvisamos uma música e então editamos a fita em algo. E depois gravamos os vocais nela, então foi mais ou menos assim que fizemos essa parte do disco. Foi bem colaborativo.
E falando em colaborativo, me fala sobre os convidados no disco?
Têm muitos. Tem o Wayne [Coyne] e o Steven [Drodz] do Flaming Lips, o Kevin [Barnes] do of Montreal e o Tim [Presley] do White Fence. E tem muito mais gente, que são apenas amigos nossos, ou qualquer um que estivesse por perto e tivesse alguma capacidade [musical]. Foi um disco cheio de convidados.
E no passado recente você gravou 3 álbuns. 2 com o Foxygen e o seu disco solo. Essa carreira prolífica é algo que você pensa em manter ou você pensa em ir mais devagar no futuro próximo?
Eu acho que nós temos mais dois discos do Foxygen prontos pra serem lançados provavelmente. E parte das minhas coisas solo, mas eu tenho feito também muito trabalho de produção. E nós vamos continuar lançando enquanto eu enxergar que temos essa capacidade.
Ah sim, e você produziu dois jovens, esqueci o nome deles. Bem legal o som.
Sim, Dub Thompson.
Isso, Dub Thompson. (escrevi sobre eles aqui)
E eles estão no “…And Star Power” também.
Eles são bons. O disco já saiu?
Sim, foi lançado pela Dead Oceans. The Trips, é um belo disco.
Legal, eu tomei nota e vou ouvir como ficou. Mas indo para a nossa próxima pergunta. Eu penso que bandas especiais na história da música tiveram personagens bem definidos, papéis bem definidos, como um cara da banda sendo o coração e o outro o cérebro, como Keith o coração e Mick foi o cérebro, Lennon o coração e o Paul a cabeça, Morrissey o coração e Johnny Marr a cabeça. Freddie Mercury coração e Brian May cérebro. E por aí vai. Você vê o Foxygen nessa dinâmica, você como a cabeça e Sam como o coração?
Acho, e eu gosto disso. O estilo do Sam é um pouco mais emocional que o meu. Eu sento e escrevo músicas sem compromisso, até eu chegar em algo que vale a pena gravar. Mas na maioria das vezes eu só escrevo jingles de comerciais ou algo divertido. E o Sam não escreve. Eu acho que o Sam não escreve a menos que ele esteja inspirado pra isso, por algo. Eu já me forço para me sentir inspirado.
E eu acho que boas bandas surgem assim, com mentes focadas em partes separadas. Quando um cara complementa o outro, coisas bacanas podem vir.
Concordo com você. Coisas fantásticas podem surgir assim.
E continuando o elogio, eu honestamente acredito que 21 Century é um dos melhores discos dessa década. O que você pensa sobre isso?
Obrigado! Eu adoro o disco. Eu adoro o processo de criação. Eu adoro o Richard Swift. Eu não consigo mais escutar [o disco]. Eu estou enjoado dessas músicas, mas eu tenho memórias bem bacanas dele.
E você ainda consegue se divertir tocando essas músicas ao vivo?
Sim, eu acho que ao vivo…. a nossa banda agora é capaz de fazer qualquer coisa. Eu penso que essas músicas possuem uma nova vida no palco. Especificamente as músicas que ainda são entediantes de tocar, tipo “San Francisco”, até essas… nunca soou tão bem quanto atualmente. Mas fora isso, tudo é divertido.
E o Sam está tomando mais cuidando no palco? (Sam já quebrou a perna com suas peripécias no palco)
Talvez, não sei dizer se ele está se cuidando mais no palco. Eu acho que ele está mais consciente sobre isso, porém eu ainda acho que ele se deixa levar de uma forma bem visceral quando ele está se apresentando. Então não sei, é complicado domar a fera.
E Rado, ainda falando sobre vocês ao vivo. Vocês estavam escalados pra tocar no Primavera Sound ano passado. Por que vocês cancelaram?
Era um período, que a gente precisava parar. Por razões pessoas. E a turnê estava marcada nesse período… ninguém confirmou com a gente essa turnê. Eles [agentes de turnê] apenas marcaram o show e nós já tínhamos outros planos que eram coisas importantes para nós. Mas eu acho, eu tenho certeza que eles nos receberão novamente.
Espero que sim.
Em algum momento.
Eu sei que 2013 foi um ano duro para vocês, acompanhei a trajetória na época e também tenho google. Mas vocês parecem ter superado isso este ano. As coisas ruins estão de fato no passado?
Eu acho que tem muito menos pra superar do que possa parecer. A internet faz parecer uma coisa muito maior do que de fato é.
Para não acreditar na internet. Você falou isso no twitter né?
Sim, foi o que eu disse. Não acredite.
Ok, e nós podemos acreditar numa turnê completa no ano que vem. O que eu quero saber de verdade é de Brasil? Algum plano de vir? Ou América Do Sul?
Sim, existe. Estamos trabalhando nisso atualmente. Provavelmente em 2015, abril ou maio. Talvez em junho.
Então tem algo acontecendo nesse contexto?
Tem. Mas ainda estamos tentando resolver. Nós somos uma banda cara para viajar porque somos em 9 pessoas trabalhando.
No palco.
E a turma levando todo nosso equipamento, e você sabe, como levar tudo isso para a América do Sul, fazer uma turnê, e ter a oferta que seja boa o suficiente para que nós não percamos dinheiro. Então estamos tentando resolver isso agora.
Isso foi ótimo, valeu pela entrevista Rado. Tem uma turma aqui no Brasil querendo ver vocês.
Nós estamos muito a fim de colar aí. Nós vamos, com certeza.
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