Recentemente, recebemos uma noticia aqui,que soou maravilhosamente bem aos nossos ouvidos. Foals é uma banda que raramente erra a mão na hora de gravar e podemos prever coisa boa vindo por aí. Mas, infelizmente, muita gente não conhece o talento em profundidade desse quinteto que mistura math rock, indie, post-punk e beats que deixariam surdo qualquer Dr Dre. Pensando nesses órfãos musicais que nunca tiveram a oportunidade de escutar com calma cada álbum, o 505 Indie preparou um guia pela discografia dessa banda que te surpreenderá por ser uma das melhores bandas que apareceram nas últimas décadas.
Antes de começarmos a entender o Foals, tente compreender a cena londrina da época. O melhor e mais rápido caminho é assistindo a Secret Party da série Skins. A banda toca seu single de estreia, “Hummer“, que explodiu a mente de toda uma juventude britânica. Aí, podemos começar.
ANTIDOTES (2008)
O primeiro álbum de toda banda muitas vezes soa imaturo e desconexo. Não é o caso do Foals. Já em Antidotes já existe a fórmula clássica de hits da banda: equilibrar perfeitamente o talento de cada integrante. A abertura, diferente do que pensaríamos, não é um UK Open e sim, “The French Open“, uma intro esperta com palavras em francês e um sax que faz toda a diferença. O baterista dá o ritmo durante esse começo e encaixa diretamente “Cassius“, provando uma das baterias mais talentosas de toda a atualidade. Os hits não dão tempo nem para você respirar. Seguimos com “Red Socks Pugie“, que prova minha tese das baquetas ligeiras e mostra o talento do vocalista para acalmar músicas com melodias mais sublimes, além do crescimento impressionante durante a canção, precedendo os batimentos do seu coração que palpitam na mesma batida. “Olympic Airways” com seus harmônicos na guitarra com efeito em delay: esse é o momento em que você bate o martelo e aceita que esse disco é uma pérola. O álbum passa por momentos mais hypes em “Electric Bloom” e “Baloons” e até chegar numa das minhas preferidas. “Heavy Water” é um presságio do que o Foals ia fazer anos depois em Holy Fire, misturar o som dançante com um peso que deixaria qualquer headbanger satisfeito. A próxima, “Two Steps, Twice” parece inofensiva e ofuscada, mas quando tocada ao vivo a banda consegue transformá-la em uma jam de 8 minutos ininterruptos. No auge, o álbum começa a degradar e te preparar para o fim com “Big Big Love (Part. 2)” e o delay-experimentalismo-floydiano da instrumental “Like Swimming” até o final de “Tron”.
O debut é uma marmitex com todas as misturas que você mais gosta. Um prato cheio para qualquer pedreiro que trabalhou o dia inteiro e precisa de algum antídoto para as bandas monótonas atuais.
Nota: 4/5
Destaque: “The French Open“; “Cassius“; “Red Socks Pugie“; “Olympic Airways“; “Heavy Water” e “Two Steps, Twice“.
TOTAL LIFE FOREVER (2010)
A maldição do segundo álbum bate na porta do Foals. Total Life Forever mantém a sonoridade da banda, mas dá preferência à melodias mais lentas e intensas. A voz de Yannis Phillippakis está melhor do que nunca e dá pra sentir todo seu sofrimento soada em cada sílaba. Começa bem com “Blue Blood” e “Miami“, os hits que mais lembram seu antecessor Antidotes, com bateria dançante, baixo alto e riffs que lembram muito Alt-J e Two Door Cinema Club. Na verdade, se você escutar direto a discografia, vai perceber uma certa sincronia entre o final do primeiro álbum e o início do segundo. Mas voltando, a segunda canção lembra um pouco Kasabian no começo e depois vira um batidão freak muito interessante. “Total Life Forever” é a canção que carrega o título do álbum, mas não merecia. Sem criatividade, a faixa passa despercebida facilmente. Ainda bem que a seguinte nos leva ao cume novamente. “Black Gold“começa simples, dançante e fútil mas surpreende posteriormente carregando uma aura angelical com “oohs” que nos leva ao espaço e chegando as alturas, cai direto na melhor canção de todas do Foals, na minha modesta opinião. Poderia muito bem fazer um post só explicando a beleza de “Spanish Sahara“, mas o tempo urge. Pra começar, ela é o diamante cravado numa mina de carvões. O crescimento que essa música tem é incrível, começando pequena, apenas com o sofrimento e intensidade do vocalista, ela vai te carregar ao locais mais sublimes e levará prazeres sonoros que te farão chorar. Tudo isso devido ao contraste dos primeiros calmos minutos com o caos dos últimos. É como se você visse toda a história do universo em 6:50. Há primeiro a beleza e solidão… isso vai crescendo e aumentando até o ponto de ebulição que traz uma anarquia sonora e orgasmos auditivos. Mas a vida segue… “This Orient” de cara impressiona com os vocalizes e a marcha da bateria, mas não chega aos pés do talento da banda. O mesmo acontece com “Fugue“, preguiçoso demais para o Foals. O ânimo chega para acabar com essa preguiça em “After Glow“. Lentamente a música aumenta o rendimento até chegar em um dos pontos mais pesados do álbum, com aquele caos sonoro típico da banda que vemos em Holy Fire. Essa bagunça auditiva é o último momento de brilho, que acaba com “Alabaster“, “2 Trees” e “What Remains” sem trazer nenhum choque.
Total Life Forever não é total ruim. Pegados pela maldição, o segundo álbum é o menos criativo do grupo, mas traz algumas canções que são as melhores da carreira. Não há uma consistência sonora, como vemos na discografia da banda, mas traz ápices que poucas vezes a banda conseguiu alcançar.
Nota: 3/5
Destaque: “Blue Blood“; “Miami“; “Spanish Sahara” e “After Glow“.
HOLY FIRE (2013)
O terceiro álbum mostra que o tempo é relativo. Enquanto as bandas atuais nos infestam com álbuns anualmente, o Foals toma seu tempo e traz Holy Fire 3 anos após seu último trabalho. Essa tese inicial que coloquei na mesa já se prova no começo do álbum. “Prelude” que era para ser um prelúdio, toma seus 4 minutos como uma meditação guiada. Começando calmo como um trip-hop, sutilmente cada membro se prepara para sua parte: bateria, baixo, teclado e voz. O clima vai preenchendo cada espaço sonoro dos nossos ouvidos. O peso está presente aqui, e logo nos 4 primeiros minutos temos essa noção, mas nada é comparado ao que vem em seguida. “Inhaler” parece inofensiva nos primeiros segundos, bem dançante, você ginga a cada riff com delay. Até chegar no refrão, que contém um overdrive espiritual mais intenso que já vi na banda. O que você está ouvindo é o ying yang da banda se equalizando e te guiando pelos chakras sonoros mais intensos. Até chegar na frase “…’cause I can’t enough space“, produzindo um bumgee jump sonoro que despenca em “My Number“, uma clara música de balada que não é dos melhores trabalhos, mas contagia. Diferente de “Bad Habit“, que remonta a genialidade de “Spanish Sahara” e coloca todas as dores do mundo nas cordas vocais de Yannis Phillippakis. Como um b-side do Smiths, que são melhores que os a-sides, neste álbum, alguns “não-singles” provam-se melhores que as músicas mais famosas. É por isso que estamos aqui, para te mostrar esse caminho que acaba dando em “Everytime“. Uma camada de cordas que se intercalam com uma camada de distorção industrial metal que alcança um refrão pop, quase uma mistura de “Inhaler” com “Bad Habit“. A épica “Late Night” não tem pressa e cresce lentamente, passa pela dancefloor “Out of Woods” e repete a fórmula do crescimento em “Milk & Black Spiders“. O interessante neste disco é como ele encaixa dentro de uma pista de dança e faz até um headbanger tirar o pó da botina. O ritmo mais soul misturado com overdrive nunca foram tão bem traduzidos, principalmente em “Providence“. “I’m an animal just like you…” é uma das frases de uma das melhores músicas do álbum e é tão animalesca quanto o acapella que inicia a canção. A música parece que toma fermento e vai crescendo, com viradas de baterias, guitarras cortantes até chegar ao ápice e simplesmente explodir. Depois desse big bang, vem a calmaria com as últimas faixas. “Stepson” e “Moon” são calmas e vêm para preparar para o inevitável fim.
Holy Fire acende uma tocha musical que não é fácil de apagar em nossa mente. As músicas, que se intercalam entre hits e b-sides, mostra toda a versatilidade da banda. Os integrantes são tão talentosos para compor baladas que te fazem chorar, ou dançar e até mesmo headbangear.
Nota: 4/5
Destaque: “Inhaler“; “My Number“; “Bad Habit“; “Everytime“; “Late Night“; “Out of the Woods” e “Providence“.
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