O filme do Esquadrão Suicida conta a história de diversos vilões e foras da lei que são reunidos por Amanda Waller, uma agente do governo, para enfrentar missões impossíveis para seres humanos normais.
Como o filme traz um grande número de personagens, a maioria desconhecida do grande público, a apresentação deles foi feita logo no começo do longa, de uma forma dinâmica e divertida, num clima bem Scott Pilgrim vs. The World com easter-eggs e referências escondidas. Porém, o potencial de muitos personagens não foi aproveitado ao máximo, pelo tempo limitado do filme. Katana, que é uma samurai que possui uma espada que aprisiona as almas de suas vítimas, mal falou durante o filme, nem manejou sua espada direito. Um desperdício essa personagem tão interessante ter se tornado a “guarda-costas” de Rick Flag e nem ter participado da pancadaria de forma mais efetiva, demonstrando suas habilidades. Ainda no assunto de personagens que não foram aproveitados ao máximo, outro problema grave foi Magia. Não porque ela teve pouco tempo de tela, mas sim, porque Cara Delevingne simplesmente não consegue atuar. A linguagem corporal é esquisita, as falas saem forçadas e tudo que ela faz quando aparece deixa você incomodado, como se soubesse que ela não deveria estar ali de jeito nenhum (não deveria mesmo).
A Warner cometeu um erro grotesco na divulgação do filme, apoiar o marketing no Coringa. O filme não é sobre o Coringa, ele não faz parte do Esquadrão Suicida e possui poucas cenas porque o foco do filme simplesmente não é dele, o que os fãs de HQs sabem muito bem. Mas imagine a grande massa, que criou toda uma expectativa no Coringa por culpa do que foi divulgado, quando percebeu que o vilão mal tem 15 minutos de presença na tela. Muito se especulou sobre a atuação de Jared Leto como o Coringa, mas ela não foi decepcionante. Pelo contrário, o ator conseguiu trazer uma faceta mais refrescante do palhaço, a que pula corda com a linha tênue entre a diversão e a psicopatia. A parte infeliz é que todas as vezes que o Coringa aparecia, sua atuação era ofuscada pela bagunça de elementos que poluíam a tela: diversos elementos visuais, trilha sonora, filmagem rápida. Mesmo assim, Leto conseguiu, com pouco tempo, nos deixar com gostinho de quero mais (o vilão muito provavelmente irá aparecer no filme solo do Batman).
Will Smith foi um Pistoleiro digno de respeito, o personagem é cativante e engraçado, mas na hora da porrada mostra a que veio. Mesmo que sua história caia um pouco no clichê, o ator consegue sobrepor isso na atuação. Outra atriz que executou sua personagem com perfeição foi Viola Davis. Amanda Waller, uma personagem fria, calculista e sem escrúpulos, deixaria Annalise Keating se tremendo de medo, e olha que isso não é fácil. Waller é durona e comanda o Esquadrão com rigidez e crueldade, suas características são muito marcantes nas histórias da DC Comics, e Viola conseguiu traduzir a personagem muito bem no filme. El Diablo conseguiu ser cativante mesmo com pouco tempo de tela, o que não foi o caso do Capitão Bumerangue, Crocodilo e Amarra, que foram pouco abordados e desperdiçados.
Margot Robbie foi a Arlequina perfeita. Louca varrida, presa em sua própria realidade na qual ela e o Coringa se amam, alívio cômico. Todas as características marcantes da personagem foram exploradas no filme. Inclusive sua imagem, que não foi só explorada, mas sexualizada, transfigurada em um objeto de desejo sexual totalmente desnecessário. Arlequina pode ter seu lado sensual, fortemente ligado à sua loucura, mas o jeito que o filme expôs a personagem é vergonhoso. O problema já começa com o uniforme, que praticamente consiste em uma tanga e uma blusa rasgada, que em um certo momento do filme ficou molhada só para que todos vissem as curvas de Margot Robbie com mais evidência (como se já não estivesse mais do que evidente), além de uma bota de salto alto, para a qual estou tentando entender para que serve até agora no meio de lutas, quedas de helicópteros, destruição e brigas. Os closes desnecessários na bunda da atriz, além de cenas totalmente alheias que só serviram para expô-la como mero objeto de punheteiros, desmereceram a performance de Margot, como se ela só estivesse ali para ser a louquinha gostosa. Sendo que Arlequina, mesmo estando em um RELACIONAMENTO ABUSIVO (não vamos romantizar esse casal), é uma personagem forte, engraçada, e existe além do Coringa. Em vários momentos do filme o constrangimento foi geral: Arlequina é muito mais do que um short curto e uma camiseta molhada. Na sala de cinema um dos pontos altos de alvoroço foi quando ela aparece com seu figurino clássico, a prova de que não precisam sexualizar e expor personagens queridas dos fãs de quadrinhos para conseguir buzz.
O roteiro do filme foi escrito de forma apressada, em menos de seis meses, e a montagem do mesmo passou por uma repaginada após o sucesso de Deadpool, que utiliza a comédia em sua construção, e as duras críticas especializadas que sofreu Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça; o que muitas vezes tornava o filme meio confuso e com a sensação de que faltava alguma coisa. O próprio Jared Leto afirmou que várias cenas do Coringa foram cortadas, e isso nos faz questionar a capacidade da produção e montagem do filme, que provavelmente ganhará uma versão estendida, como ocorreu com BvS. Um erro, já que o estúdio poderia muito bem arriscar e colocar no cinema um filme mais longo, porém coeso. Outro ponto negativo foi que os trailers entregaram muita coisa, e isso foi meio decepcionante, já que as partes impactantes ou frases de efeito estavam bem fixadas na mente de quem acompanhou a divulgação do filme. Finalmente, a trilha sonora, que foi exagerada em alguns momentos (como nas cenas do Coringa), mas que casou perfeitamente em certas cenas. Uma das mais marcantes foi quando o Pistoleiro demonstra suas habilidades ao som de “Black Skinhead”, do Kanye West. A seleção foi muito boa e bem pensada, pois faz o público se identificar com as músicas e aumenta o gosto pelo filme.
Esquadrão Suicida poderia ter sido melhor em diversos aspectos, mas é um filme divertido que se propõe a despertar o interesse do grande público em personagens e histórias mais undergrounds dos quadrinhos.
Nota: 3/5
A trilha sonora original do filme já se encontra disponível para stream, e você pode ouvir abaixo, juntamente com as músicas que tocam durante o filme (em ordem de aparição):
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