No ano do bug do milênio, a histeria tomava conta enquanto a internet dava seus primeiros passos ao compartilhamento musical em massa. Demoravam horas pra baixar aquela música no Limewire, dias pra completar um álbum. Era o início de uma avalanche que estava por vir. No meio disso tudo, Tony Di Blasi, Robbie Chater e James Dela Cruz, sendo a trilha sonora.
Após 16 anos, chega Wildflower, segundo álbum do grupo australiano The Avalanches, que traz em 21 faixas, participações especiais como: Danny Brown, MF Doom, Toro y Moi, Biz Markie, Ariel Pink, Warren Ellis e Father John Misty. Não é à toa que o hype cresceu em torno deste lançamento e este é o motivo para criarmos esse guia para um dos discos do ano. Afinal, basta você navegar na internet e achar o álbum vazado.
Dê o play abaixo enquanto lê…
- The Leaves Were Falling
Os primeiros 15 segundos de Wildflower parecem uma preparação física para o que está por vir. O suspiro, a tosse, a música ambiente. Tudo isso inspirado em Dion McGregor, um músico que criava os discos a partir do que falava no sonho.
- Because I’m Me
O Avalanches ficou famoso por criar um disco inteiro com samples. Por isso, não é a toa que o “verdadeiro” início do álbum já começa com um clássico do soul sampleado, mais precisamente, do The Honey Cone. Tudo soa como se estivéssemos entramos numa festa do Jackson Five, até chegar a parceria de Camp Lo, um duo de hip hop que dá um gingado quase de Thaíde e DJ Hum. Um dos pontos mais altos do disco.
- Frankie Sinatra
O primeiro single divulgado foi Frankie Sinatra, que traz as participações de Danny Brown e MF Doom, é um verdadeiro chiclete. Com uma intro que soa como uma música ambiente de uma indústria Wonka, o mais impressionante é saber que ela saiu de um sample do cantor de calypso (ritmo, não a banda) Wilmouth Houdini. Mais doido que isso é o emotivo final que termina a canção como se terminasse um passeio no carrossel. Agradeça à Noviça Rebelde.
- Subways
Usando o nome da música literalmente, Subways começa abafada, como num túnel de metrô. Os primeiros segundos lembram um pouco o que Kevin Parker do Tame Impala tentou reproduzir em Currents. Mas as aparências enganam. O sample da voz é de uma cantora pós-punk chamada Chandra e a trilha é de ninguém menos que os reis do disco de tiozão, Bee Gees. É impressionante como o grupo australiano consegue reunir peças de décadas diferentes, propostas diferentes e unir em algo totalmente novo, porém com ar vintage. Outro ponto alto do disco. Kudos!
- Going Home
Já que falamos de Kevin Parker, o próprio ajuda na bateria dessa canção, que é um loop de Subways com diálogos do mestre Basquiat. M.I.A. também dá um breve alô.
- If I Was a Folkstar
Segundo o integrante Robbie, essa música é sobre uma viagem de LSD na praia em que Chaz Bundick, conhecido como Toro y Moi, teve com sua esposa. Além disso, ainda inspirado em viagens, ouvimos um breve sample do Queens of Stones Age. Se o tema aqui é viagem, aperte os cintos.
- Colours
Aqui o toque de midas de Jonathan Donahue é claro. O frontman do Mercury Rev participa desta canção e traz toda aquela áurea mágica, quase depressiva, que ele sabe muito bem fazer. Soa como um respiro no álbum.
- Zap!
Apenas um interlúdio McCartniano.
- The Noisy Eater
Já que Paul McCartney se mostrou inspiração, essa música traz outro clássico, em forma de comediante: Jerry Lee Lewis. A música é quase um “Good Morning Good Morning” dos Beatles. Ou talvez quem sabe, poderia se tornar um jingle de uma marca de cereal. Poderia até chegar o grande Biz Markie para quebrar tudo.
- Wildflower
A música que leva o nome do álbum é quase um comercial após o jingle de cereais que acabamos de ouvir. O mais interessante é que o sample aqui é de uma comédia dirigida pelo pai do Homem de Ferro, Robert Downey Sr.
- Harmony
O belo início de cordas lembra bastante “Since I Left You” do debut do grupo. As canções se conectam pelo fato do coro gospel e levada Beach Boys quase cinematográfica. Tudo graças ao trio de músicos Jonti, Jonathan Donahue e Shaggs Chamberlain, baixista que já tocou com o Ariel Pink.
- Live a Lifetime Love
Mais uma música que trabalha com o conceito de velho e novo. Dessa vez, quase numa inspiração de Outkast, o duo de rappers A.Dd+ faz sua participação intercalando com frases de American Juggalos, fãs de raps como do Insane Clown Posse. Respect!
- Park Music
Um loop country que soa mais sarcástico que qualquer outra faixa no álbum. Ahoy!
- Livin’ Underwater (Is Somethin’ Wild)
Na faixa Noisey Eater, o Avalanches sampleia só um pouquinho o clássico “Come Together” dos Beatles. Não contentes, o grupo usa Uncle Albert do Paul com a Linda. Ainda não satisfeitos, usam Water Woman do Spirit. Tudo isto para mergulhar na piscina psicodélica dos anos 70.
- The Wozard of Iz
Se um dia o Funkadelic ouvisse a intro dessa música, eles ficariam felizes. Infelizmente, o sample não é deles e sim de Tommy James & The Shondells. Com a ajuda de Danny Brown que sabe produzir tensão em seu rap até quando entra uma quebra de ritmo infantil. Só pra gente grande!
- Over the Turnstiles
Apenas uma onda do Everything is Everything.
- Sunshine
A preferida de Robbie, que segundo ele se trata de “alguém que teve seu sunshine levado embora – o céu azul se tornando cinza”. O céu é graças aos samples do The Fuzz.
- Light Up
Mais uma vez com o sarcasmo, essa música traz a felicidade exacerbada em forma de interlúdio.
- Kaleidoscope Lovers
Mais uma vez, Jonathan Donahue participa e coloca sua atmosfera quase mágica. Tudo com base em colagens das próprias músicas do álbum, como Colours. Sampleando as músicas sampleadas. Genius!
- Stepkids
Apenas o fato de reunir o bad seed Warren Ellis e Jennifer Herrema do Royal Trux, já é motivo para infarto de qualquer indie kid. Mas o Avalanches sempre quer mais… e logo samplearam Lou Barlow, baixista do Dinosaur Jr. O resultado? Um indie folk meio bizarro, digno de um eremita que vive barbudo em um montanha mágica.
- Saturday Night Inside Out
Como se fosse um ciclo, o grupo australiano finaliza o disco com a primeira música que eles já produziram em uma mixtape demo. A música evoluiu e Josh Tillman (Father John Misty) foi convocado, assim como o poeta David Berman. Foram 16 anos para essa canção achar seu rumo e nada mais épico que terminá-la em um novo disco. Como uma trilha sonora de quem deixa a pista de dança com um sorriso no rosto.
Wildflower consegue amarrar em 21 faixas um conceito. Tudo se interliga e tem nexo, o que é muito difícil de se encontrar em discos atuais. O mérito não veio só disso e se estende ao ecletismo de samples e participações especiais. Seguros e sem medo de serem felizes (afinal, o álbum tem a característica feliz desde sua capa), o Avalanches joga todas suas referências em um liquidificador e serve em um delicioso suco tropical musical. Pra quem é fã de música, seja qual for o estilo, este é o seu disco do ano.
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