Seis anos após Shadows, o Teenage Fanclub retorna com Here, décimo disco de estúdio dos escoceses. Através de 12 faixas simetricamente divididas entre os três compositores (o que já é praxe na discografia), a banda dicotomiza ruídos soturnos, com riffs ensolarados, melecados nas harmonias mais calorosas deste planeta. O disco soa quase como artesanato, nestes tempos de produções pré-fabricadas. Parece bolo com café na casa da avó, ao invés dessa porcaria industrializada de supermercado, que você engole isolado em seu apartamento, com café tirado naquela máquina encardida.
O disco inteiro é forte, e mostra as melhores habilidades de composição de seus compositores. Vamos aprofundar um pouco mais.
Por exemplo, a assinatura pra cima de Gerry Love em “It’s a Sign“, de refrão repetitivo e expansivo, através de harmonias vocais alcalinas, enquanto certa acidez instrumental equilibra o PH irresistível da pequena grande canção.
“I Was Beautiful When I Was Alive” é McGinley na frente de uma viagem pelo mundo invertido, a canção carrega uma aura antiga. Sintetizadores batem forte, criando uma paisagem sonora surrealista, é a melhor música do álbum, mas que nunca será um single ou a de maior sucesso comercial (se é que podemos falar disso, em se tratando de TFC). Nesta canção, assim como em “With You“, é inevitável não lembrar de Big Star. E aqui, surge um sentimento de criatura ir além do criador, à medida que o tamanho da obra se expandiu muito além da banda que os influenciou, construindo um legado sólido de sonoridade e referências próprias. Neste sentido, TFC é a maior influência de TFC. Veja que o parentesco é direto com outros fins de disco (penúltima ou última canção) por McGinley, como “I Gotta Know” (Grand Prix, 1995), “My Uptight Life” (Howdy!, 2000) ou “Today Never Ends” (Shadows, 2010).
Para finalizar, ficou faltando escolher uma música de Norman Blake. Enquanto, “I’m In Love” e “The Darkest Part of the Night” exploram melhor todo sentimento de coração aquecido que o Blake traz em sua voz, é de outra composição dele que eu quero falar: “Connected to Life”. A canção que fecha o álbum, resume o tema que Blake quis tratar… toda a melancolia e crescente preocupação em torno da finitude da vida. É preciso valorizar a vida em toda extensão de sua simplicidade, o presente e o amor. Eles irão cantar coisas tristes que te farão feliz. É preciso de uma bola mágica para ver, é preciso de olhos de cristal para ler nas entrelinhas.
“I hope I’ll never see you disappear. Into shadows into night”.
NOTA: 4/5
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