Era uma realidade distante demais ter o líder dos Beatles tocando na sua cidade, o tempo de espera para que isso acontecesse talvez tivesse anestesiado a percepção de que o dia tinha chegado. Foi tudo meio irreal, pegar um táxi às 18:30 no centro da cidade e chegar ao Mineirão em vinte e cinco minutos sem pegar praticamente nenhum trânsito, entrar na fila que andava rápido e que estava surpreendentemente organizada com a ajuda de pouquíssimo pessoal da organização e estar dentro do estádio às 19:15 foram fatos que corroboraram com a surrealidade daquilo, a surrealidade de presenciar Paul McCartney e suas canções que de fato influenciaram em diversas esferas o mundo e especialmente a minha cidade, Belo Horizonte.
Foi só às 21:20 que a percepção daquilo que estava prestes a acontecer bateu forte como um soco, sentir a ondas sonoras de “Eight Days a Week” reverberando nas estruturas de concreto do estádio e chocando-se contra a pele era um indício claro: era real e estava acontecendo. Controlado o delírio da abertura, foi possível perceber que os shows da turnê que se iniciava seriam diferentes. Fato comprovado pelas novidades no repertório como “Listen To What The Man Said”, “Another Day”, “Your Mother Should Know”, “All Together Now”, e principalmente “Being For The Benefit of Mr Kite” além da estreia mundial de “Lovely Rita”.
Paul sempre simpático e animado se esforçou para falar português e claro, algumas expressões mineiras. Chamou ao palco as garotas responsáveis pelo movimento “Paul, vem falar UAI” na internet e autografou suas peles e camisetas. A disposição e energia do Beatle eram assuntos recorrentes entre os fãs, era nítido que ele estava ali por pura vontade de tocar.
Outros pontos altos foram “The Long And Winding Road”, “Back In The USSR”, “Eleanor Rigby” e “Paperback Writter” em que McCartney usou a mesma guitarra da gravação original! Em “Band On the Run” aconteceu uma falha constrangedora no som, entretanto a plateia continuou cantando forte. Foi incrível assistir aquele senhor de 71 anos ser elevado por uma plataforma e segurar uma plateia de 55 mil pessoas apenas com voz e violão durante “Blackbird”.
As músicas sempre esperadas em seus shows não soaram nem um pouco desgastadas. “Let It Be” e seu mar de pixels brilhantes na plateia, a potente “Live and Let Die” com seu show pirotécnico e a emblemática “Hey Jude” com as placas de “Thank You” dos fãs vieram em sequência levando o estádio a ecoar como uma só voz. No final ainda foram tocadas “Yesterday”, “Helter Skelter” deixando claro que Paul é um cantor de rock e a despedida com a trinca “Golden Slumbers” / “Carry That Weight” / “The End”.
Após o término do show, fiquei sentado atônito na arquibancada, assistindo àquelas pessoas de todo tipo e idade saindo do estádio, olhava mais uma vez fixamente para o palco num intento de digerir e introjetar tudo aquilo, mas sem sinal de angústia ou tristeza, sabia que era inesquecível. Vida longa a Paul McCartney!!
Setlist:
1. – Eight days a week
2. – Junior Farm
3. – All my loving
4. – Listen to what the man said
5. – Let me roll it
6. – Paperback writer
7. – My valentine
8. – 1985
9. – Long and winding road
10. – Maybe I´m amazed
11. – Hope of deliverance
12. – We can work it out
13. – Another day
14. – And I love her
15. – Blackbird
16. – Here today
17. – Mother should know
18. – Lady Madonna
19. – All together now
20. – Mrs Vanderbilt
21. – Eleanor Rigby
22. – Mr. Kite
23. – Something
24. – Obla di obla da
25. – Band on the run
26. – Hi hi hi
27. – Back in the USSR
28. – Let it be
29. – Live and let die
30. – Hey Jude
31. – Day tripper
32. – Lovely Rita
33. – Get back
34. – Yesterday
35. – Helter Skelter
36. – Golden Slumbers / Carry That Weight / The End
Confira mais videos da apresentação de Paul no Mineirão:
“Eight Days A Week”:
“Your Mother Should Know”:
“All Together Now”:
“Being For The Benefit Of Mr. Kite!”:
“Lovely Rita”:
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6 Comments
Muito bom o texto, apesar de alguns problemas tcnicos que eu fiquei sabendo mas que no me afetaram (com exceo na falha do som), foi tudo surreal, a comear pela setlist que comeava com uma msica tocada pela primeira e ltima vez ao vivo em 1965, e que ainda inclua 4 msicas nunca tocadas ao vivo, 2 nunca tocadas por ele em carreira solo e uma no era includa na setlist desde 2004, alm dos clssicos, que, como citados no post, no foram desgastados mas um dos vrios pontos altos do show, alm da energia e carisma do Paul, o prazer visvel que ele tem de fazer shows que tambm merecem grande destaque, o jeito que ele sabe interagir com o pblico, fazer ele rir, pular, gritar e cantar algo de dar inveja em vrios artistas jovens e que merece grande admirao. Honestamente, eu poderia ficar falando sobre o show por muito tempo e ainda assim, no chegaria nem perto do que foi de verdade, estar no estdio, vivenciando aquilo foi uma experincia nica pra mim, que eu nunca imaginei que teria a chance de presenciar (ainda mais to perto do palco) e no existem palavras que possam definir aquele show, s posso dizer que eu soube o que felicidade por exatas duas horas e trinta e cinco minutos e eu no acho que eu vou ter essa felicidade de novo, pelo menos no at o prximo show dele.
P.S: eu acho que eu te vi no show ou ento foi uma pessoa bem parecida com voc, de qualquer jeito, acho que merecia falar do paul errando a letra de lovely rita porque foi uma das partes mais adorveis do show e nossa, o show foi foda, foram os 600 reais mais bem gastos da minha vida
Valeu Mnica,
verdade, meu texto s uma compilao de fatos, toda aquela experincia completamente impossvel de ser condensada e expressada por meio de palavras, talvez apenas uma msica seria capaz de chegar perto… Gostei do otimismo, tambm espero que Paul volte muitas mais vezes!