Debutar na música é diferente do disco debutar. O primeiro refere-se a estrear no meio musical, já o segundo vai de acordo com quão coerente é a sonoridade do álbum e consequentemente da banda. Lançar um single e estourá-lo é relativamente mais fácil do que produzir 11 faixas que conversam, e se entendem, entre si. O Gengahr começou seu hype com algumas faixas e um ep, o que ainda não tinha provado todo a capacidade do grupo, como as guitarras mais distorcidas em wall of sound de algumas das faixas. Meu ponto é: fazer um bom single é difícil, fazer 11 faixas coesas é mais difícil, fazer um álbum e acertar de primeira… é muito mais difícil.
Antes do play, independentemente se o álbum é bom ou ruim, se você vai gostar ou não dele, entre outras questões filosóficas… o disco é coeso.
Começando por Dizzy Ghosts, nunca lançada, que inicia baixa e aumenta do nada, além de riffs e falsetes muito bem trabalhados. Não vou mentir que me incomoda a constante voz em falsete do vocalista, mas já esqueço disso ao chegar no hyper single, She’s a Witch, que tem a coesão e o babalú, comprimidos em dois minutos e quarenta segundos. Mas o chiclete começa a ficar meio ranço em Heroine, que soa meio piegas, tirando o riff inicial que salva a pátria. Guitarras que conversam muito bem entre vocalista e o solo, que fez escola Johnny Marr de dedilhado. Suave e agressivo. Mascando outro chiclete, agora com gosto melhor, Bathed in Light é a mais grudenta goma de mascar de todas as 11 faixas. O baixo presente aqui é bem e encaixado e muito fora do comum one-two. Por algum motivo, não sei qual, Where I Lie me lembra instrumentalmente de Smashing Pumpkins, principalmente em Today e Tonight, Tonight. Além da frase principal da canção ser digna de enquadramento: “The monster I see, grew deep inside of me“. Afinal, um dos poucos pontos fracos são o tema lírico das letras. Não que sejam ruins, mas os aforismos e metáforas, parecem esconder o fato de que o tema aqui é dor de cotovelo amoroso. Não sempre, mas em boa parte. Mas o playground de marmanjo está garantido em Dark Star, a única instrumental e quebra ao meio o disco em A e B.
Sem querer cometer a blasfêmia, mas já… Gengahr me lembra de Smiths em alguns momentos. Embers é mediana, mas faz jus ao b side. Além do mais, o lado B do disco é melhor que o lado A (mais um motivo de me lembrar Smiths). Já Powder é uma das melhores do disco (talvez pelo clipe super criativo), só não ganhando da seguinte Fill My Gums With Blood que tem um riff inicial de baixo que merece seu devido mérito. Suavemente se acalmando, como um sonho guiado afora (a dream outside), Lonely as a Shark solta generalidade apenas na sacada frase “Lonley as a shark in a dark room“. Finalizando, Trampoline realmente soa como última música, com todo o caos e fade-out no fim. Além do tom festivo que me relembra um pouco a reprise de Sgt. Pepper’s. “I like it when we’re high“… belo jeito de se terminar um álbum.
Gengahr acertou a mão de primeira e não parece ser sorte, pois tudo faz sentido sonoramente. Minha única preocupação é o fato de ser difícil manter a sonoridade e não soar repetitivo.
Mas isso, só ao futuro nos cabe.
NOTA: 4/5
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