David Bowie lançou uma de minhas músicas prediletas em 1977. Mas, diferente do Ian Curtis que batizou sua banda como Warsaw, logo após lançada a canção, eu só fui descobrir essa pérola muitos anos depois. Bowie estava na bem na fria trilogia de Berlim, tudo parecia calmo e caótico ao mesmo tempo. Mas esse paradoxo, de intensidade com a calmaria, só se tornou um estilo após Ian Curtis mudar o nome da banda e alastrar milhares de órfãos sonoros que buscavam algo além de três acordes rápidos. Mas isso foi só uma faísca para o boom pós-punk, que como alguns devem saber, não é de mérito apenas do Joy Division. Há uma gama muito ampla e profunda. Bauhaus, Birthday Party, The Fall, Gang of Four, Killing Joke, Pere Ubu, Public Image Ltd. e Wire são algumas que estão nessa playlist que dura mais de 3 décadas em nossos ouvidos.
Neste ano, algumas dessas bandas voltarão a ressuscitar o estilo. E outras renasceram. Por isso, o 505 Indie separou alguns lançamentos que ainda ajudam a manter vivo o espírito de Ian Curtis.
CEREMONY
Começando com uma banda que há alguns anos vem causando certa ventania nas franjas. Ceremony sempre foi uma banda hardcore e em 2007 foi para Matador e seu som evoluiu para algo mais denso e bem trabalhado. Como informamos aqui e ali, The L-Shaped Man é o quinta da carreira e segundo pela nova gravadora. Uma das promessas era exatamente esse reviramento do eterno Joy Division. E o álbum cumpre o prometido, começando uma capa minimalista que lembra artes do Bauhaus. Mas o disco é muito mais que isso, metade dele é muito bom, five-stars, e cala muito mimimi dessa mudança drástica de som.
Destaque para: “Bleeder“; “Your Life in France“; “The Separation“; “The Pattern“; “The Understanding”.
GANG OF FOUR
Da ala old-school que lançou álbum este ano, creio que o Gang of Four foi o que menos se destacou. Com apenas Andy Gill para arquitetar todo o som, as músicas que mais se destacam são as que tem participações especiais. Como em “Broken Talk” e “England’s In My Bones“, que Alison Mosshart rasga a garganta como sempre. Em geral, o álbum tem uma coesão, mas chega longe da época de ouro, como um Entertainment. Anyway, sempre é bom saber que a gang (of one) ainda (tenta) se manter viva.
Destaque para: “Broken Talk“; “Isle of Dogs“; “Obey the Ghost“; “England’s In My Bones“.
THE FALL
A velha escola ainda se mantém impressionante mesmo depois de mais de 30 lançamentos. Mark E. Smith, o gênio louco mantém a direção nesse disco, sem perder o pique. Como se fosse uma síndrome de Benjamin Button, parece que sua mente fica cada vez mais ácida e jovial. Há muitas músicas que surpreendem pela coragem e inteligência. O difícil é conseguir acompanhar o ritmo deste gênio, que tem um estilo vocal agressivo e único. Olhando pelo custo-benefício, até que pela a idade avançada, The Fall ainda respira a nuvem densa do pós-punk.
Destaque para: “Venice With Girls“; “First One Today“; “Auto Chip 2014-2016“; “Quit iPhone“.
WIRE
Antes de mais nada, ouça Pink Flag de 77 e tente entender o quanto é complexo o Wire. Posteriormente podemos analisar o novo álbum. Com letras atuais que brincam com Jesus e o Papa na era da internet, além de instrumentais altamente orquestrados, a banda ainda consegue te hipnotizar com uma capa sensacional. A atmosfera capta quase um Interpol, atualizando a banda que está há mais de 3 décadas na ativa, de maneira sutil e mesmo assim cativante. Se não fosse por os novatos a seguir, o Wire teria conquistado o pódio de melhor álbum do gênero.
Destaque para: “Blogging“; “In Manchester“; “Joust & Jostle“; “Split Your Ends“.
VIET CONG
Vindos de Calgary, no Canadá, o debut do Viet Cong prova como o espírito do Ian Curtis ainda ronda este plano. Como anunciamos em janeiro aqui, o álbum traduz perfeitamente a onda pós-punk mesmo depois de tantos anos, provando o quão atemporal o estilo é. O mais impressionante é o quanto “pouco comercial” que o álbum é. Guitarras cortantes, vozes profundas e caóticas, baixo no nível máximo e o auge com uma música de 11 minutos. Com certeza, o álbum de pós-punk mais impressionante do ano, até o exato momento.
Destaque para: “Bunker Buster“; “Continental Shelf“; “Silhouettes“; “Death“.
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