A morte do indie e por consequência do rock, já é decretada desde o começo desta década. Porém como é possível afirmar isso com The Suburbs e Reflektor na praça? Mesmo que o último seja uma reflexão sobre a própria relevância do rock alternativo dentro da música de frente (relação popularidade x transgressão).
Como era possível afirmar isso com Trouble Will Find Me, que alçou o The National finalmente a posição de headliner em festivais de primeira grandeza.
No entanto, a coleção de fracassos do “indie 2000” vêm acontecendo há alguns anos. The Strokes puxou a fila. Kasabian entrou nessa. Arctic Monkeys divide opiniões, enquanto foi unanimidade no fim da década passada.
Phoenix conseguiu finalmente entregar o primeiro disco decente na década. E não é um álbum de encher os olhos, apenas bonito, com uma canção genial chamada “Telefono”. A última vez que o Phoenix entregou uma canção de tanta força em relação à escancarar sua fragilidade emocional foi em “If I Ever Feel Better“, em 2000. Bankrupt foi um desastre.
The Killers virou uma cópia com o cheiro fake de Las Vegas. As bandas que surgiram e deram um alento nesta década, rapidamente perderam força, cito Foster the People, que provavelmente fez o disco mais ridículo do ano. Cito também The Vaccines que patina e derrapa faz uns 4 anos. Spector, Alt-J… parece que todo mundo se perdeu.
Two Door Cinema Club anda naquele mais ou menos que é mais pra menos. Haim foi um estouro e resolveu fazer outra coisa neste álbum.
Cut Copy lançou, em 2017, uma das piores músicas que eu ouvi na vida. Spoon foi ok, mas longe de causar aquelas borboletas estomacais de 2005. Que bad que eu sinto ouvindo qualquer coisa do último Miike Snow. Sim, a indietronica também foi pro buraco.
Cage the Elephant continua divertido, mas longe de atingir o coeficiente dos grandes dos anos 2000.
Passion Pit novo está agradável de ouvir, mas não chega nem perto daquela loucura desvairável das pistas e dos infernos indie em 2009 (tal como Empire of the Sun do ano passado).
Death Cab for Cutie, em seu frontman, virou uma leitura medonha de Teenage Fanclub. The Shins quase um zero à esquerda. Pra onde foram aqueles hits do Vampire Weekend? Esperto foi o Rostam que foi fazer algo legal e atingindo outras frentes. Mumford and Sons? The Kooks? Beirut? Bon Iver? O indie folk perdeu fôlego.
Ainda tentando decifrar o novo Fleet Foxes.
Voltamos aos grandes.
Franz Ferdinand? Interpol? Yeah Yeah Yeahs?
Caralho, e o Muse?
The Black Keys? Jack White?
Que bomba o Libertines. Me faz questionar se realmente eles foram bons algum dia.
Bloc Party e Kaiser Chiefs é até covardia citar.
O que se tornou o Girls? A melhor banda do mundo entre 2008 e 2011. Eleito o melhor disco do ano neste site, em 2011. Guardo o primeiro vinil na minha estante com zelo total.
Grizzly Bear vem se saindo muito bem até o momento, com os singles lançados, mas nunca foi grande o suficiente. LCD Soundsystem precisou morrer para renascer. E até agora mostrou poucos, porém grandes singles.
Exceção no coeficiente grandeza x desafio talvez seja o Tame Impala que não derrapou, pelo contrário, ainda está na ascendente.
Hats off também para o Broken Social Scene, mas cai na mesma explicação do Grizzly Bear. E do Deerhunter.
Mas nada, nada disso soa tão emblemático para decretar a morte do indie da forma que nós conhecíamos, do que o novo disco do Arcade Fire, Everything Now.
Arcade Fire não é aquela banda boa. É aquela banda excepcional que define uma década inteira. Arcade Fire só fez discos excepcionais, era aquele último refúgio de banda grande com discos grandes, que segurava o indie num pedestal de mainstream com artisticidade.
Infelizmente, também sucumbiu. O último disco soa como um pastiche de disco com new wave. Ainda que a banda continue a dar um bom tema para o seu álbum. Mas até a crítica da banda rachou estruturalmente, em meio a falta de viga e vigor musical. Vamos pontuar que não é um disco ruim como andam dizendo por aí. Mas é um álbum mediano e muito (muito) abaixo do padrão do Arcade Fire. Salvamos “Creature Comfort”, “Sign of Love” e, principalmente, “We Don’t Deserve Love”. Sim, vocês continuam merecendo amor.
O indie não é mais o mesmo, o tempo se foi.
Quem é DJ sabe do que eu estou falando, está difícil achar um hit indie pra pista que já não tenha alguns anos de vida.
É o Fim do Indie?
Não, pelo contrário. É o fim da era das bandas grandes de indie fazendo grandes discos. O teu amor, mozão, nos deu onda. Mas passou.
O indie volta ao seu lugar de origem e deixa de ser assunto do mainstream. Os melhores discos sobreviverão nas mãos de pequenos grandes atos. The War On Drugs, Alex G, Japanese Breakfast, Unknown Mortal Orchestra, Future Islands, Vagabon, Courtney Barnett, Kurt Vile e tantas outras.
Vou fechar este texto com a letra de “Mourning Sound”, o novo single do Grizzly Bear e talvez a melhor música indie do ano, que no final lê bem o sentimento.
Acordei com o som dos cachorros
Ao som de tiros distantes e caminhões passageiros
Acordamos com o som de luto
É o som de tiros distantes e caminhões passageiros
O indie continua forte em atingir os nossos sentimentos, voltamos a ser apenas uma turma, introvertida e sentimental, pesquisadora de novidades até o fim. Não somos mais aquele todo, cheio de hits. E isso pode ser bom. Seguiremos ao lado de Lorde e Kendrick Lamar mesmo que não seja exatamente aquele sentimento. E com os indies do século passado. (Obrigado Radiohead). Até a próxima grande coisa do indie. Ela virá.
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2 Comments
Olha que tem banda por aí trabalhando em um novo álbum e que tem um histórico formidável, BRMC.
E o Brasil, como entra nessa reflexão?