Introdução, Spoon, LCD Soundsystem, Mac DeMarco, Tash Sultana, Liniker e The National por Flavio Testa
Oh Wonder, Chance the Rapper, .Anderson Paak e David Byrne por Vini Buzze
Francisco El Hombre, Tropkillaz, Metronomy, Liam Gallagher e The Killers por Matheus Bonetti
fotos I Hate Flash e MROSSI
Com uma clara escalada de tamanho e com mudanças significativas em sua estrutura o Lollapalooza Brasil acertou os ponteiros e fez a edição mais afinada desde a sua mudança para o Autódromo de Interlagos, em 2013.
Desta vez, um dia a mais foi acrescentado à programação. Ficou para trás a dúvida sobre a sexta-feira não dar certo, em pleno dia comercial. Algo que é comum nos festivais lá fora, mas que aqui ainda não havia sido testado em eventos deste porte. O festival levou 100 mil pessoas em cada um dos três dias de evento, mantendo uma conta ideal de um público possível sem estragar a experiência. Aconteceram dias, em anos anteriores, que o Lolla passou de 100 mil presentes. Em um quantitativo exagerado de público, aliado à falta de cuidado na infraestrutura, foram sinônimos de caos em bares, banheiros e trânsito até os palcos.
Não aconteceu esse ano.
Os bares foram amplificados com pontos extras de vendas de bebidas e a quantidade de ambulantes. Os banheiros tiveram mais cuidado e atenção também.
Na parte estrutural de palco, o antigo Axe ficou ao lado do Onix, onde ficou um tanto desconfortável pelo desnível horizontal, mas que de uma forma geral agradou aos presentes, que antes precisavam ficar em uma via-sacra de deslocamento. Desta vez, revezou-se entre Bud (antigo Skol) e os dois palcos do “morro”. O espaço da brita aonde acontecia o Axe, virou o palco eletrônico que com poucas exceções, carregam um público mais distinto dos demais palcos.
Vamos a uma breve leitura cronológica dos artistas.
Spoon
A banda que entrou no hall das grandes bandas dos EUA nos últimos dois anos, fez show para um público brasileiro ainda pouco conhecedor da sonoridade de Britt Daniels e cia, que é uma das grandes referências do indie rock 2000.
Em uma tarde nublada, o Spoon abriu com um dos seus últimos singles “Do I Have To Talk You Into It”. O repertório dividiu-se entre faixas dos dois álbuns de maior sucesso do grupo: Gimme Fiction (2005) e Ga Ga Ga Ga Ga (2007), com os dois mais recentes They Want My Soul (2014) e Hot Thoughts (2017).
Foram nos clássicos do álbum de 2007 que a banda encontrou mais resposta do público, diga-se “Don’t Make Me A Target”, “Don’t You Evah” e “The Underdog”, com uma longínqua lembrança do Galpão da Vila, local onde a banda se apresentou no Planeta Terra Festival (2008).
Dez anos depois, Daniels parece um pouco mais cansado, com os olhos pretos e marcados pela idade, tal como um shitzu. Mas ainda mantém o figurino e a elegância da década passada. Sempre apegando-se às convicções musicais, o Spoon mantém-se mais equilibrado se comparado às bandas páreas da década passada, do tão falado indie rock, que perdeu seu espaço tanto na qualidade (atirando pra tudo quanto é lado sonoramente), quanto comercialmente.
A turma de Austin envelheceu, como todos nós envelhecemos, mas suas músicas ainda estão jovens. É uma banda onde o passado conversa muito bem com o presente e dá alento para um longo futuro. A tríade final com a energia de “The Underdog”, “Got Nuffin” e “Rent I Pay” não deixou qualquer dúvida sobre as qualidades do Spoon. Não é um grupo da saudade ainda, ao contrário do headliner de domingo. Mas isso é história pra contar daqui a pouco.
Oh Wonder
Na terceira passagem pelo Brasil, Oh Wonder atrasou alguns minutos aguardando o término do show da Volbeat, a banda parecia não querer deixar o palco Onix.
Rostos jovens eram claramente maioria no show do duo Londrino, que estava acompanhado por baixo e bateria. Josephine sorridente o tempo todo, aparentava estar aproveitando demais o show no palco Axe, inclusive rasgou um português afirmando “Estar feliz por tocar aqui”. A apresentação durou uma hora, iniciando com “Livewire” e, sua principal música, “Without You”, encerrando um set com quase todos seus singles, ao som de “Drive”. Uma apresentação sincera e romântica que veio bem a calhar ao final da primeira tarde do Lollapalooza.
Chance The Rapper
Em um horário que a noite já havia caído e com seu tradicional boné de número 3, que representa sorte e sua família, Chance iniciou sua apresentação com os gritinhos de sempre e fazendo todo mundo pular.
A influencia gospel já foi vista em suas segunda e terceira músicas, “Blessings” e “Angels”, acompanhadas por um coral de quatro pessoas. Misturando as rimas com o jazz, Chance é seguido de uma incrível banda, The Social Experiment, extremamente competentes e em sintonia. Destaque para o trompetista Donnie Trumpet.
Chamou o público pra si interagindo durante toda a apresentação, fez todo mundo dançar muito e cantar junto. Um grande momento foi quando cantou “Ultralight Beam”, do Kanye West, com seu coral.
Chance certamente surpreendeu a quem conhecia ou não o seu som, que em vários momentos nos deixou arrepiados, e o maior desses momentos foi a sequência de “No Problem” e “All Night”. Foi um dos grandes nomes do Hip Hop no festival.
LCD Soundsystem – MELHOR SHOW
Com um palco carregado de equipamentos, sequenciadores analógicos, mellotron, caixas e monitores gigantescos, o LCD Soundsystem entrou no palco Onyx ao primeiro cair de noite no Lollapalooza Brasil, com o tipo de parafernália que tornou a banda (e a DFA Records) uma das mais bem-sucedidas na década passada. Em seu original caldeirão de indie-dance-punk-disco-electro-rock, James faz um ode às máquinas analógicas.
Retro-futuristicamente, Murphy abriu com “Daft Punk Is Playing at My House” causando o caos epilético dos estrobos. O palco condensado para o movimento, dava um aspecto de ensaio no porão para tudo que o grupo fazia, principalmente quando se reuniam para interações rítmicas. Todo mundo muito próximo, pensa nisso em um palco com as dimensões de um festival. Obviamente, James fica no centro deste comando, com Nancy ao seu lado. Em suas perfeitas imperfeições vocais, envolto em toda pornografia analógica.
Logo, o fundo do palco mudou para um aspecto totalmente rosa, conferindo atmosfera disco. “Get Innocuous!” (catarse e suor) e “You Wanted a Hit” foram faixas antigas que desfilaram lindamente com a novíssima “Call the Police”, o que demonstra que o LCD Soundsystem também não perdeu o fio da meada quando anunciou sua aposentadoria, naquele inesquecível show de 4 horas feito no Madison Square Garden e transmitido ao vivo pela internet, que significava o fim da banda.
Não significa.
A outra grande faixa do recente álbum de volta, “Tonite”, também ornou perfeitamente em energia com os clássicos “Someone Great”, “Dance Yrslf Clean” e, claro, a catártica “All My Friends”. Colocando a resenha brevemente em primeira pessoa, me veio às lágrimas. Foi inevitável não lembrar que no dia 02 de abril de 2011 eu vi o LCD Soundsystem pela última vez, via internet, na alta madrugada, me lamentando pelo fato que nunca veria ao vivo. Aqui eu vi, e a banda continua exatamente de onde parou, tão genial quanto sempre foi. É um show que é maior do que os discos, que por si só já são verdadeiros testamentos da música de frente dos anos 2000. É um show que todo fã de música precisa ver pelo menos uma vez na vida, independente de suas predileções. Melhor do Lollapalooza Brasil 2018.
Mac DeMarco
“Maquinho! Maquinho! Maquinho!” Com este tipo de afeição de um velho conhecido, que já esteve no Brasil algumas vezes nos últimos anos e sua irreverência que combina bem com o país líder mundial dos memes, Mac DeMarco fechou um palco no Lollapalooza Brasil, ao mesmo tempo que RHCP. E claro que este momento bizarro e talvez único na carreira do artista não poderia passar em branco. Mac e sua sonoridade de quarto, fechando palco aberto do Lolla foi pura tiração de sarro com o concorrente de grandes proporções da Califórnia. O canadense, com um telão lisérgico de RPG, comandou a galera com gracejos, onde culminou num cover zueiro/completo de “Under the Bridge”, com Mac na bateria e Joe McMurray nos vocais.
O show carregado de zueira desagradou alguns poucos não iniciados à persona DeMarco, mas era exatamente a brisa que a maioria dos fãs esperavam.
Sábado
Liniker e os Caramelows
Com o sol a pino, Liniker caminhava-se para mais uma apresentação linda, coroada de representatividade e boa energia. Na quinta música, recebeu Linn da Quebrada, outro bastião trans da música popular nacional e que lançou um dos melhores álbuns do ano passado. Ao fim de “Lina X”, cumprimentou sua amiga em um longo e caloroso abraço e anunciou ao público que tocaria “Zero”, até hoje o maior hit da Liniker. No meio da música, o som sumiu. Faltavam ainda 15 minutos para o set da cantora terminar. No começo, o público ainda puxou o refrão em um coro de arrepiar. Liniker agradeceu e emocionada chorou. Aguardou por alguns instantes até a música voltar. Não voltou. O que era choro e emoção pela resposta do público tornou-se consternação. A artista deixou o palco arrasada com o que tinha acontecido. Havia se preparado para aquele momento e terminar o show prematuramente por um problema técnico não era algo que estava em seus planos. É esperado que o festival dê outro palco para Liniker no próximo ano. Em horário bem mais aprazível.
Tash Sultana – MELHOR NOVIDADE
A maior e melhor surpresa deste Lollapalooza. Uma artista pronta para vôos mais altos, que passeia por diversos gêneros. Tendo uma levada reggae como base, a multi-instrumentista carrega o palco todo sozinha. Fazendo-se de loopings em linhas de guitarras, batidas e na própria voz, Tash consegue passar a sensação de ter uma banda inteira ao vivo. Até aí, tranquilo. Nada que Tune Yards ou Grimes já não tenham feito. Enquanto suas co-irmãs de loopagem apresentam-se em um gênero mais hermético, a australiana joga em outra liga na quantidade de gêneros e humores que apresenta. Consegue converter momentos de boa vibe reggaera, meio folk, levemente psicodélica, em fritação pura e distorcida em solos de guitarra, de um rock’n’roll primal, da escola Hendrix. A diversidade instrumental também impressiona. Tocou até flauta de pã. Ela consegue ir da tecnologia de frente ao mais folclórico e antigo na música. Honestamente incrível.
.Anderson Paak and the Free Nationals
Depois de esgotar os ingressos do primeiro Lolla parties, Anderson basicamente repetiu as apresentações de Argentina e Chile.
Entrou no palco perguntando se tudo estava bem, emendado “Come Down” seguido do mashup de “The Next Episode”, do Dr. Dre, com “The Waters”.
Enérgico, conversou e interagiu muito com o público no Palco Budweiser. Perguntou de “Are you you happy to feel Alive out there?”, falou para São Paulo fazer barulho, comandou um coro de “Fuck that shit” com as mãos ao alto, e sorriu para o público em todos os momentos.
Mas foi apenas na quinta música, “The Season / Carry Me”, em que assumiu as baquetas, que pouco conseguiu deixar de lado no restante do show.
Continuou performando na bateria em “Put Me Thru” e na sua nova música “’Til It’s Over”. Além do carismático Anderson, sua banda, a The Free Nationals, destruiu o palco com uma apresentação fantástica.
David Byrne
David Byrne começou seu show com “Here”, sentado com um cérebro em suas mãos e em um palco rodeado com cortinas de correntes.
Apresentando o seu esperado show, por nós aqui, da turnê American Utopia, estava vestindo um terno, por vezes de chinelo e outras descalço, assim como toda a banda que o acompanha.
Após o começo mais cadenciado, ele veio com duas pedradas, duas ótimas músicas da Talking Heads, “I Zimbra” e “Slippery People”. E nesse momento já é fácil perceber o envolvimento e disciplina de todos os 11 membros da banda, que além de tocar, cantam e dançam junto.
E que disposição de David, no auge dos seus 65 anos, não parou por um instante durante a apresentação performática. Aliás, cantando, dançando e performando.
Com três brasileiros na banda, todos percursionistas, há uma música em especial em que um deles ganha destaque ao cantar uma parte da música “Toe Jam”.
Dancinhas não faltaram realmente, durante “I Dance Like This” o público incorporou a coreográfica e dançou junto. Foi para confundir mais ainda os jovens desavisados.
David encerrou sua performance com “Burning Down the House” e uma bola de futebol, chutando/dançando pra lá e pra cá. E assim terminou o melhor show do segundo dia de Lollapalooza.
The National
Em uma apresentação precisa, porém curta demais para o tamanho e catálogo da banda, o The National “abriu” para o Pearl Jam. Encerrou o show com um lastro de energia e emoção em “Mr. November” e “Terrible Love”, ponto alto de dois grandes álbuns de uma banda que nunca lançou disco ruim. Cortou muita música boa que poderia ter tocado e deixou um gosto de quero mais nos presentes.
Domingo
Francisco El Hombre
Já posso começar dizendo – a banda merecia um horário melhor, com um público maior para apreciar o sabor latino que falta no nosso Lolla brasileiro, as vezes tão desconectado com os outros hermanos.
O show foi feito pra dançar, pular, suar – e cumpre muito bem seu papel. A presença da Keila, do Gang do Eletro, indo pra lá e pra cá, deu mais energia para a performance bastante “quente” no Onix, logo ao meio dia.
Tudo fervia, as batidas na percussão, o som no talo. O público ajudava em sua explosão e, neste momento tão conturbado politicamente, o discurso tinha sua resposta ainda com mais furor. Houve ainda participação de Maria Gadu e Liniker – ambas ajudaram a provocar uma catarse final naquela hora ali.
Metronomy
Como pode o indie da década passada continuar tão vibrante, empolgante e contagiando até quem ainda não conhecia? A marcação típica das músicas dos ingleses do Metronomy soaram tão bem quanto sua nostalgia, apesar do horário ainda um pouco ingrato, com sol na cara dos integrantes da banda em boa parte do show.
Rolou tudo dos hits, desde “The Bay”, “The Look”, “Love Letters”, “Reservoir” e a minha favorita, cantada lindamente pela Anna Prior, “Everything Goes My Way”. Os passinhos pra lá e pra cá indicava que a conexão tava sendo feita entre público e artista. Muita gente cantando junto. Foi daqueles shows bem típico de festival, de sentir bem de fazer parte daquilo. Tudo perfeito (mais uma vez).
Ah, teve tirada de sarro da própria Anna Prior mandando um “A gente se vê na Copa do Mundo, Brasil!”. Boa, Anna.
Tropkillaz
Sempre toca em São Paulo. Será que valeria a pena ver? Ok. Um espacinho ali entre um show e outro. O que era pra ser só uma olhada de 15 minutos acabou virando quase 1 hora curtindo o som.
O som pegou, empolgou. E não só a mim, a todos que estavam por ali. Com ares um pouco “Major Lazer” em sua produção, o palco Axe viu um dos maiores momentos daquele dia. Era pop, eletronico, Mc no palco, dançarinas, tudo, junto ao trap pesadão dos caras. O funk invadiu o Lolla há alguns anos e cada vez mais se torna presente no festival. Começou 220v. Terminou em 200v. O coletivo “Heavy Baile” conduziu um público bem empolgado. E em mais um show do dia, rolou homenagem à vereadora Marielle Franco, pelo Mc Tchelinho “Sua luta não será esquecida. Parem de matar minha gente”.
Liam Gallagher
Começou o show na marra Liam de ser, mas bem mais humorado do que imaginado. Agradeceu o público da América do Sul pela paciência com a sua voz – que ainda necessitava descanso e causou cancelamento no show solo por aqui e fez com que sua apresentação fosse mais curta no Lolla chileno. O irmão mais novo tava cantando muitíssimo bem, com vontade, com brilho nos olhos (quando tirava seu óculos característico). Teve do disco solo e teve muito Oasis, claro. Destaque para “Cigarretes and Alcohol”, “Be Here Now”, “Some Might Say” e a ótima “Wall of Glass”. Nem preciso falar que “Wonderwall” foi mágica e linda de se ver. Faltou algumas, como “Slide Away”, provavelmente para se poupar um pouco.
The Killers
A banda de Las Vegas já entrou na escala de show nostálgico. Isso não é uma crítica, até porquê, para eles, parece que a coisa voltou a ser contagiante ao vivo de uns tempos pra cá. Se no último álbum, o tom era mais sério e maduro, ao vivo só rolou duas de “Wonderful Wonderful”, dando espaço para o restante da discografia recheada de hits e músicas boas. Mr. Brandon Flowers estava extremamente empolgado, num nível acima do esperado, contagiado pelo enorme público na sua frente. Percebi em alguns momentos ele visivelmente emocionado quando não encontrava o fim do mar de pessoas no palco Budweiser. Continua showman. O coro de “I got soul but I’m not a soldier…” talvez esteja ecoando até agora no Autódromo. Mesmo sem Dave na guitarra, a banda ao vivo agora conta com mais integrantes além de backing vocals – casando tudo de forma muito bonita ao vivo. I don’t mind if you don’t mind, but I don’t shine if you don”t shine, Killers. E obrigado por brilhar. Com certeza, os fãs mais nostálgicos estão muito felizes pelo que viveram ali naquelas 2 horinhas de espetáculo, incluso eu. E isso é inesquecível.
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