Texto Flavio Testa e Amanda Marques
Mais de 40 atrações passaram pelos palcos do Lollapalooza Brasil no último fim de semana, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. O relato completo do festival em todos os detalhes de infraestrutura, público e logística podem ser encontrados neste artigo. Ontem falamos sobre os shows de sábado. Hoje vamos destacar, exclusivamente, os shows assistidos no domingo, onde Duran Duran, Two Door Cinema Club e The Strokes foram os melhores do dia.
Catfish and Bottlemen
Engana-se quem diz que tocar muito cedo em um festival como o Lollapalooza Brasil pode ser desfavorável. O Catfish and The Bottleman conseguiu reunir uma boa base de curiosos em seu som, no “anfiteatro” do Onix, desde o começo de sua apresentação. Algo bem impressionante para um show às 14h, em pleno domingo de sol. Muitos ainda chegavam ao festival, depois de uma maratona de shows no dia anterior e de cara já encontraram um show com bastante entrega do seu vocalista Van McCan, impressionado com a recepção brasileira. Engana-se também quem achava que não existia fãs da banda por aqui. Era possível ver muitas camisetas do Catfish coladas na grade e uma plateia agitada cantou em uníssono a radiofônica “7”, de seu ultimo disco. Rolou até uma empolgação exagerada de Van, que chegou a machucar sua mão na guitarra. É a formula que não tem como dar errado: a energia de uma jovem banda com seu rock britânico de arena e um público empolgadíssimo com o festival.
Jimmy Eat World
Em uma tarde ensolarada o Jimmy Eat World recebeu um público de idades variadas, predominando a turma dos 20 e a turma dos 40, o que mostra a mistura do público inerente ao festival. A banda capitaneada por Jim Adkins já começou com um petardo, “Bleed American”, do seu disco de maior sucesso, de 2001. Foi uma sucessão de melodia, riffs e baladas que provam porque o JEW tem importância na história do emo. O final “Sweetness” foi de chorar. Aqueceu os corações mais nostálgicos e pôs a meninada pra cantar.
Duran Duran
Algumas bandas fazem músicas que lembram o dia. Outras são inerentemente notívagas. O Duran Duran apesar de já ter passado por diferentes sonoridades, sempre teve o DNA de música de noite e rádio FM. Seja em suas baladas que embalam a solidão da madrugada ou as dançantes que animam aquele rolê de carro pela cidade. É a primeira coisa que me veio à cabeça ao chegar no palco Ônix, posicionado contra o sol da tarde. Como esta dinâmica iria funcionar?
Logo entra o Duran Duran em seus trajes exóticos e multi-coloridos. Destaque para o terno de paetê de Nick Rhodes brilhando no sol quente. A lendária banda oitentista abre com “The Wild Boys”, única gravação de estúdio no álbum ao vivo, Arena. Segue com o hit supremo “Hungry like the Wolf” que bota a plateia para dançar. Sem exagero, apenas no meu campo vejo um público heterogêneo, estilos diferentes, meio e filosofia de vida, provavelmente diferentes, e idades certamente diferente, entre 15 e 60 anos. É sobre esta união que um grande concerto de rock (rock?) promove.
Então surge no telão imagens de 007 – Na Mira dos Assassinos com o tema de James Bond, “A View to Kill”, entoado por Simon Le Bon… o público segue dançando como se não houvesse amanhã. Como o palco Onix tem a melhor acústica, disparada, deste festival. Se eu fosse de uma banda famosa, exigiria tocar neste palco. Olho ao redor, com um sorriso maroto no canto da boca, enquanto percebo que a maioria dos presentes não sabe cantar as letras do começo ao fim, mas cantavam “dance into the fire”, enquanto rebolam e levantam os braços com a certeza que ouviram esta música em algum momento de suas vidas. A maioria ali nasceu depois destas faixas terem sido lançadas.
O público mais velho, como disse, também está presente, mesmo que seja minoria no Lollapalooza. E então veio a primeira música nova da banda “Last Night in the City”, que mostra a habilidade do Duran Duran em se atualizar, sem perder a pegada do funk (com muita ajuda de Nile Rodgers ao longo da carreira), junto com os sintetizadores timbrados para o presente e beats do eletrônico. Os vocais feitos originalmente por Kiesza ficavam por conta de duas backing vocals (uma delas era mais dueto com Simon, do que backing vocal na verdade).
Teve chuva de papel picado e bola pra galera brincar em “Rio”. No caminhão de hits do Duran Duran, o ponto baixo ficou por conta da favorita “Ordinary World“. A emocionante faixa que fala sobre um momento difícil na vida e a necessidade de mudança teve a presença da Céu no palco. Infelizmente, a brasileira errou o tom e até notas da canção. Simon tentou acompanhá-la, mas não rolou. No finalzinho da música, eles se entenderam um pouco melhor. Esta canção é tão forte que mesmo com o deslize, causou emoção. No fim a festa foi completa e, certamente, foi um dos pontos altos do festival.
Sabe aquele show que você sai falando:
– Porra meu, este show pagou o ingresso!
Então, foi assim.
Two Door Cinema Club
O Two Door Cinema Club era um dos grandes nomes que se apresentaram no domingo no festival, com músicas animadas e divertidas pra fazer a festa de qualquer um, o show era muito aguardado. A banda entrou no palco Skol com vinte minutos de atraso por alguns problemas de iluminação tocando uma das icônicas músicas de seu primeiro disco,“Cigarettes in the Theatre”. O público estava além de eufórico, cantando pontualmente todas as músicas da banda, que recentemente lançou o morno Gameshow, que teve apenas quatro músicas no setlist da banda. No final das contas, foi uma apresentação um tanto quanto decepcionante, pois o esperado era energia e alegria com hits que embalaram a pré-adolescência de muitos que estavam presentes. Porém a atitude do vocalista Alex Trimble foi um tanto quanto condescendente, com o mesmo assumindo a pose de rockstar irritável, o que não lhe cabe. No mais, um show que contemplou os grandes sucessos da banda e agradou parcialmente a multidão que aguardava o The Strokes.
The Weeknd
É uma responsabilidade muito grande ser o último a se apresentar no palco Onix, queridinho do público. Se aproveitando de seu atual estrelato, letras sensuais e músicas que arrastam uma legião de fãs, o The Weeknd cantou dezenove músicas de sua recente e rica carreira. O artista foi extremamente prejudicado pelo horário de sua apresentação, que acabava exatamente cinco minutos antes do principal headliner do dia, The Strokes, entrar no palco. Mesmo assim, o canadense comandou uma plateia extensa, que cantou e dançou animadamente hits como “Starboy”, “The Hills”, “I Feel It Coming” e “Can’t Feel My Face”. Algo a se notar era a iluminação, muito clara, que muitas vezes fazia com que perdêssemos Abel de vista em um palco extenso, algo que não ocorreu com o duo Jack Ü que se apresentou no mesmo palco no ano passado, utilizando uma iluminação mais escura e animações. Um pequeno erro de produção que não diminuiu a experiência de uma apresentação consistente e cool, um jeito perfeito de terminar o domingo. A dobradinha “Earned It” e “Wicked Games” no meio do show ajudou a criar a atmosfera sensual na qual as músicas de The Weeknd estão inseridas, e que o mesmo consegue transmitir ao vivo.
The Strokes
O headliner do domingo era um dos shows mais aguardados do festival para muitos dos presentes. The Strokes entrou juntamente com a chuva para desfilar um caminhão de hits de seus discos mais valorizados: Is This It (9 músicas ao todo!) e Room On Fire. O quinteto novaiorquino ainda tocou mais duas do First Impressions of Earth, uma do Comedown Machine e duas do último EP, incluindo a solicitada “Drag Queen”.
Vamos voltar ao fato que o The Strokes tocou 9 músicas de seu álbum de maior sucesso. É nesta hora que você pode ter a certeza que eles não estão nem aí pra paçoca. Vivemos um tempo onde bandas vendem turnês inteiras tocando o disco de maior sucesso. Turnês caríssimas e recicladas com o mote “Joãozinho Band toca o álbum Estripulias de Fogo na íntegra”. E aí tem choradeira na internet, tem ranger de dentes nas redes sociais. “OMG Joãozinho vai tocar Estripulias na íntegra, preciso comprar minha passagem pra Barcelona. EU A-M-O ESTE DISCO.”
Strokes tocou o foda-se pra isso.
Chegaram na América do Sul e resolveram tocar 9 músicas do Is This It em pleno 2017, sem alarde, sem frescura.
Aliás, sem frescura é o lema da banda. É fácil notar pelo palco sóbrio, sem recursos avançados de vídeo, sem papel picado, sem fogo, sem demagogia com a plateia ou pachequice com o Brasil.
Com um Julian segurando bem os vocais, e um pouco mais comunicativo que o usual, a performance dividiu opiniões. Para alguns, as inserções de Julian foram apáticas, quando não foram de mal gosto: como no momento mais constrangedor em que falou que teria prostitutas no camarim e depois emenda, “garotas brasileiras wooo hooo”. Ou quando quis saber o que Fabrizio Moretti tinha dito para os brasileiros (foi um breve “e aí minha gente”).
Isso aí é The Strokes, minha gente. O quinteto estava bem neste domingo, sorridentes e relaxados em sua própria maneira. Você não irá tirar nada além disso e se não gostou da banda, talvez seja a hora de abandoná-la de vez. Por aqui, o que vimos foi um show muito bem executado, que soube privilegiar grandes músicas. Já disse que poderia ter sido vendida como outra turnê inclusive, bem mais cara.
Agora, não é porque tocou Is This It quase na íntegra que o repertório foi perfeito. Têm falhas de extensão. Strokes vem tão pouco à América do Sul, então poderia ter se esforçado um pouco mais e fechado o setlist com 20 canções, como fez no Governors Ball. Faltaram duas músicas do Angles e YOLO para fechar a conta. No mais, foi uma porrada atrás da outra.
É importante entender que Strokes não é banda de pegar bandeira do Brasil (apesar de ter rolado em 2011), de puxar “olé olé”, de avisar o que tá fazendo ou programar fogos de artifício e chuvas de papel picado. Nunca foi e nunca será.
As reclamações que caem sobre Strokes são parecidas com as reclamações que surgem após um show do Oasis. É sempre a mesma história. Mas, isso é assunto para outra pauta, sobre bandas que não se enquadram no padrão de roqueirão carismático que muita gente espera. Paciência. Detalhe: “80s Comedown Machine” foi tocada ao vivo pela segunda vez na história da banda, palavras do próprio Julian.
Colaborou: Matheus Bonetti
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