Com 4 discos de estúdio lançados, o Cage the Elephant se apresenta no Lollapalooza Brasil, no próximo dia 25 de março, além de 29 de março, no Rio de Janeiro. Donos de uma energia incrível no palco, puxados por seu imprevisível e inquieto vocalista, Matt Schultz, o Cage the Elephant traz a expectativa de um show ainda maior do que a caótica apresentação de 2014. A banda é impulsionada por novos hits como “Mess Around” e “Trouble”, faixas do último álbum Tell Me I’m Pretty, que recentemente venceu o GRAMMY de Melhor Disco de Rock.
Como forma de repassar a carreira do grupo e prepará-los para o show, elaboramos este ranking do pior ao melhor disco da banda. Vale dizer que não é uma banda de disco ruim, ao pé da letra, poderíamos dizer que a lista varia do regular ao ótimo.
Ao reler a discografia, é fácil notar como a maturidade e experiência vieram agregar à sonoridade dos irmãos Schultz. Dinâmicas mais elaboradas, espaçamento nas músicas, sofisticação na escolha de timbres e valorização da melodia acrescentam à vocação explosiva e riffeira da banda, que nunca negou suas origens em vertentes mais cruas do rock, passando pelo blues, punk e grunge.
O Começo
Formados no interior do Kentucky, de família pobre, o Cage the Elephant começou ainda no colegial com os irmãos Matt e Brad Schultz e Jared Champion que se juntaram aos também amigos Daniel Tichenor e Lincoln Parish (saiu da banda em 2013) formando o Perfect Confusion, que lançou um disco de maneira independente em 2005.
Em 2007, já se apresentavam como Cage the Elephant, e foi durante uma destas apresentações no SXSW que a banda foi cooptada pelo selo inglês Relentless Records, com distribuição da Virgin no Reino Unido.
O grupo mudou-se para Londres, onde lançou o single “Free Love“, no fim de 2007. O segundo single, “Ain’t No Rest for the Wicked”, veio no começo de 2008 e alcançou o TOP 40 das paradas inglesas. Na metade daquele ano saiu o homônimo álbum de estreia. Primeiro aconteceu o sucesso na Inglaterra, meio ano depois o disco foi introduzido nos EUA, impulsionando o sucesso global da banda.
Contextualizado o começo, é hora de cairmos para dentro dos álbuns, do pior ao melhor.
4. Cage the Elephant (2008)
Permeado por um rock’n’roll clássico com influências bluesy, o Cage the Elephant, neste primeiro disco, presou pela energia de suas canções funkeadas, recheadas de riffs e refrões marcados.
É um disco impressionante em sua virulência, aquela que faz do rock um gênero apreciado pelos mais jovens, urgentes por uma boa farra. No entanto, o disco fica em quarto lugar dentro da discografia da banda, pois é um trabalho ainda cru e imaturo. As influências são muito básicas, e, em alguns casos, usadas quase como muletas. Não podemos dizer que foi um disco exatamente inovador, ainda que a banda consiga imprimir alguma personalidade. Foi um álbum que permitiu seguir carreira e se aprimorar, descobrir-se e evoluir na própria sonoridade.
Vamos analisar algumas canções.
As duas primeiras canções do álbum se apegam ao blues, algo como uma leitura de Rolling Stones moderno, coisa também feita por seus parceiros de novos tempos do rock, como o Kasabian. É legal notar que apesar de ser uma banda do Kentucky, o Cage the Elephant, via de regra, gruda na maneira inglesa de fazer blues. A primeira canção do álbum ainda traz vocal com versos de rap rock, característico de Beastie Boys. A segunda faixa tempera os riffs de Stones com vocais berrados e teclados, bem próximo ao indie rock praticado por bandas da primeira metade da década passada.
A terceira faixa do álbum “Ain’t no Rest for The Wicked”, já empresta um estilo raiz mais americano, é uma canção que poderia ter sido escrita pelo Beck. Na sequência, o punk dá as caras pela primeira vez com “Tiny Little Robots”. “Lotus” explora com mais rigor a influência funkeada, e junto com “Back Against the Wall”, uma das melhores músicas do álbum, trazem forte lembrança do Red Hot Chili Peppers.
“Drones in the Valley” e “Judas” reforçam o rock garagem que estava em voga nos 00’s, começando por Strokes, mas passando por Hives, Vines, Jet, The Bravery, Arctic Monkeys e etc.
Por fim, ainda vale destacar “Free Love”, que termina o disco fortalecendo o blues rock, numa pegada como todo disco de rock deveria acabar, energético e impulsivo. O cartão de visitas estava entregue. Nota: 7.0
3. Tell Me I’m Pretty (2016)
Do primeiro disco, passamos ao último: Tell Me I’m Pretty é o terceiro em nossa lista de favoritos. É um disco onde a banda repete o auge de sua maturidade e sofisticação musical de Melophobia, porém as canções perderam um pouco do fôlego criativo e energético do álbum antecessor. No entanto, o disco entregou algumas músicas que irão figurar em qualquer lista das melhores do Cage the Elephant. Caso de “Mess Around” que é o modo de operação tradicional da banda, mais “Cold Cold Cold”, que adiciona um rock cheio de dinâmicas e um quartinho psicodélica-são-franciscana-jefferson-airplane.
E, principalmente “Trouble”, onde encontramos o maior esforço criativo deste trabalho, uma balada para os padrões do Cage the Elephant. Matt Schultz está controlado e a música respira por conta própria.
Tell Me I’m Pretty está muito bem alinhado com a nata do indie rock pós-10s. Une elementos de psicodelia, forte apego às dinâmicas, principalmente no emprego das distorções, roupagem atualizada de timbragem e toque rítmico além do básico. O disco ainda teve Dan Auerbach, do Black Keys, como produtor. Nota 8.0
2. Thank You, Happy Birthday (2011)
Se pudéssemos dividir a discografia do Cage the Elephant entre tônicas, poderíamos dizer que no primeiro álbum eles ainda estavam desenvolvendo influências mais clássicas do rock. No segundo, eles continuaram numa fase maior de absorção e ainda se encontrando como banda. Só que as influências tinham evoluído da “classiqueira” para vertentes do alternativo oitentista e noventista: Pixies, Dinosaur Jr., Pavement, Nirvana, Butthole Surfers e Murder City Devils. Esta é a tônica de Thank You, Happy Birthday.
Melodia, noise e gritaria.
A nostalgia ainda continua sendo força neste disco, aquela coisa de lembrar de várias outras bandas, através de uma banda nova. Foram em hits como “Aberdeen” e “Shake Me Down” que o grupo do Kentucky explodiu como banda de palco pelos festivais mundo afora. Foi o grupo perfeito de canções explosivas, para fazer um dos shows favoritos de qualquer que fosse o festival entre 2011 e 2012. Inclusive, a banda tocou no Lollapalooza Brasil de 2012, e levou o público à loucura em um começo de tarde ensolarado.
O primeiro e o segundo disco se interceptam na parte punk e também na parte garageira da coisa, encontrado aqui, por exemplo, na empolgante “2024” ou “Japanese Buffalo” e “Sabertooth Tiger”, respectivamente.
É um álbum onde o Cage the Elephant abraçou ainda mais coisas de um rock instintivo, visceral e menos, muito menos, cerebral. Nota 8.0
1. Melophobia (2013)
No melhor trabalho da banda, nós encontramos a maior surpresa entre discos. Melophobia é um salto enorme em relação aos dois álbuns antecessores. É neste disco que você se convence que o Cage the Elephant é de verdade. Não é só mais uma banda revivalista. Existe personalidade e artisticidade.
Logo na primeira faixa, “Spiderhead”, já notamos um recurso de produção que nunca tinha sido empregado na existência crua do Cage, no apoteótico trecho final da canção, eles fecham um looping, diminuem o intervalo e de volta para a guitarra.
Na música seguinte, “Come a Little Closer” apresentam-se mudanças de ordem orgânica. Utilizando mais espaçamento, valorizando mais a melodia e timbres, diminuindo a agressividade e gritaria.
Encontraram a própria forma de dosar influência com personalidade, houve um crescimento enorme de ordem técnica. Foi o momento de compreender que intensidade não é só entregue através de barulho. “Telescope” que o diga, uma das melodias mais bonitas do indie rock na década, dentro de uma letra reflexiva que diz: “Time is like a leaf in the wind / Either it’s time worth spent / or time I’ve wasted, / Don’t waste it.”
Melophobia foi o álbum que colocou a banda do Kentucky no panteão de artistas que serão lembrados como o rock desta década, mesmo que o reconhecimento do GRAMMY tenha vindo em Tell Me I’m Pretty.
Neste álbum, ainda encontramos Alisson Mosshart, metade do Kills, que participa da cabulosa “It’s Just Forever”.
O disco é um acerto do começo ao fim, equilibrado, elegante, cheio de alternativas e emoções. Pode figurar em qualquer lista que trate com devido respeito o rock dos ’10s, sem esse papo muxiba e midiático de que o rock morreu.
Convido qualquer simpatizante da teoria que o rock morreu a ouvir Melophobia com seriedade, ainda que a banda traga 40 anos de influência do rock nas costas, é inegável um esforço criativo único em faixas como “Telescope”, “Come a Little Closer”, “Hypocrite”, “Teeth” e “Cigarette Daydreams“.
Se, mesmo assim, você ainda duvidar da capacidade do rock atual, então esteja em Interlagos no dia 25 de março e verá uma massa de jovens desordeiros, comandados por um regente da paranoia, conhecido como Matt Schultz. Eles farão tão bonito “quanto no tempo que o rock era bom”, sem se importar com a sua opinião… com a minha opinião. The Kids Are Alright. Nota 9.0
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Atualiza a matéria. Tem álbum novo!!