Kasabian é uma das milhares bandas que descobri num episódio de The O.C. (ou como diz o SBT: Um Estranho no Paraíso). Dramas à parte, a música do seriado nunca decepcionou.
Como bom desbravador de novas bandas, logo após de descobrir a música no seriado, fui direto escutar o primeiro álbum deles. Já descobri, ali mesmo na introdução, que não seria mais uma banda de indie rock britânico. Eles pegavam um caminho diferente. Queriam se perder. O baixo alto, o teclado soltando respiros e a bateria marcada. Eu era um iniciante de rock escutando eletrônico e gostando daquilo tudo.
Foi nesse primeiro álbum homônimo de 2004, no acorde inicial, que uma máxima foi criada em minha mente: “ame ou odeie”. Escolhi o primeiro caminho e me perdi pra sempre.
Kasabian é assim logo no primeiro riff de baixo seguido da bateria bem marcada. Você tem que saber a escolha certa. Na voz de Tom Meighan o espírito egoísta de todo bom frontman britânico vive.
A segunda canção soa mais comum ao ouvidos. Baixo, bateria e violão entrando em coro com a voz. Os elementos techno estão mais sutis. Pianinho. Produzindo batidas processadas que levam às alturas. Pra eles o normal é combinar violão com mashup.
A guitarra da terceira faixa responde que será uma das melhores canções. Assobiar muito o tirolês inicial e impor o respeito de “K-I-L-L”. Serge é um gênio moderno e cada som sai de sua lâmpada mágica. Parece até fácil juntar elementos totalmente distantes e misturá-los em um indie rock. Ao ponto que pratos do baterista mostram o apocalipse vindo.
“ID” é exatamente a identidade do Kasabian. Música é o mundo deles, e em camadas atmosféricas de sintetizadores que acabam em um letra simples e direta. O vazio é completo.
Os bumbos de “Orange” anunciam: você não é mais o mesmo e o melhor ainda está por vir. As almas se perdem pra sempre a partir daqui.
Nada complexo demais. A faixa 6 é pretexto bíblico da maior e melhor música. Composição que lembra Linda Kasabian, eterna devota de Charles Manson. Os “aahs” que transportam aos pesadelos do próprio helter skelter, deixam qualquer um pasmo com o som.
Durante boa parte de “Running Battle” duas linhas de violão vão permear. Até as vibrações e coro de vozes se unirem. Insanidade aumentando a cada segundo, você começa a se perder até restar apenas o violão.
Difícil não começar perdido nessa oitava. Usando lógica inversa, começa totalmente eletrônica e se suaviza pouco a pouco. O refrão (um dos melhores do álbum) é entoado por quem é o soldado e o próprio rei.
“Pinch Roller”, interlúdio como “Orange”. Traz por meio do sintetizador o link perfeito para o acorde inicial da próxima música.
(Chega a minha preferida.) John era um cientista e viciado em LSD. A letra é uma narrativa perfeita do começo ao fim. O refrão junta poderosas frases de Tom com os “aahs” de Serge, entrelaçados em um space rock. Até o silêncio preenche cada vazio da sua mente. O fim parece ridículo de tão simplista. Mais uma vez o Kasabian te pega de calça curta.
De blues o Butcher não tem nada. Talvez o riff de baixo lembre um pouco o estilo. Criatividade que leva o nome de Chris Edwards, terceiro na linhagem, mas não menos importante. É difícil não perder o controle com o baixo alto (eufemismo!).
“Ovary Stripe“, a mais insana. Piano batendo forte, guitarra com vozes mediterrâneas e a impressionante combinação de violinos. Dá pra se sentir no Egito Antigo com aliens acima da sua cabeça emitindo sons de outro mundo. Nada de voz, só vibrações extraterrenas. Assim como a música.
Chega o fim e ele começa mais melancólico que o normal. Um arpeggio de sintetizador e com vocais altos. O violão entra e você se sente familiarizado por um tempo. Doses homeopáticas e o espaço está completo de novo. Muitos canais, instrumentos distantes juntos e a surpresa a cada compasso. O prelúdio do próximo álbum.
Esse é o Kasabian, desde o debute mostrando seu ID e deixando nossas almas perdidas para sempre. No final não importa amor ou ódio, sua mente está modificada. Um álbum pra ficar em destaque na estante bem ao lado do Screamadelica.
—-
Eu, particularmente, achava que Kasabian seria mais uma moda na Inglaterra e depois de alguns álbuns se renderiam ao electropop e venderiam as mais grudentas músicas. 10 anos – e quatro discos – depois de um dos mais marcantes debutes do rock inglês da década de 00, eu acabei errando e acertando um pouco a previsão do que seria o Kasabian.
Ah, e o Kasabian lançou disco novo na praça já faz um tempo e ainda estou intrigado (e meio tonto) só com a capa.
Vale cada minuto dos 48.
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